As autoridades tratam como foragidos Jeiziel de Oliveira Rosa e Ana Paula da Silva Barreto, apontados como responsáveis pelo setor financeiro do Comando Vermelho (CV) em Goiás, após a deflagração da Operação Cifra Vermelha, na terça-feira (18). Segundo o Ministério Público de Goiás (MPGO), o casal movimentou cerca de R$ 28 milhões em menos de dois anos em um esquema estruturado de lavagem de dinheiro.

As investigações mostram que a dupla usava contas bancárias de familiares — incluindo a mãe idosa de Ana Paula e os filhos adolescentes, de 12 e 14 anos — além de empresas de fachada e compra de gado para mascarar a origem dos valores ilícitos. Depósitos fracionados, especialmente em casas lotéricas, eram feitos diariamente para dificultar o rastreamento.

Reportagem da TV Anhanguera revelou que Jeiziel tem passagens por tráfico de drogas e porte ilegal de arma de fogo. Ana Paula possui antecedentes por receptação, tráfico e condução de embarcação ou aeronave sob efeito de drogas. Ela chegou a ser presa em 2022 e liberada após pagar fiança de R$ 1.220. Jeiziel, por sua vez, foi denunciado em 2020, quando a PM encontrou armas, munições, ecstasy, cocaína e maconha na casa dele, em Aparecida de Goiânia.

“Ele circunda atividades criminosas que permeiam a atuação da facção há quase uma década”, informou o MP, ao destacar que as investigações atuais devem revelar indícios de participação direta em organização criminosa. Há indicação de que o casal já tenha deixado o estado.

Gaeco cumpre 19 mandados e prende contador; organização tinha empresas de fachada

A Operação Cifra Vermelha cumpriu 13 mandados de busca e apreensão e seis mandados de prisão — entre preventivas e temporárias — em ações conjuntas entre o Gaeco, do MPGO, e o Comando de Operações de Divisas (COD). Um contador responsável pela abertura das empresas de fachada foi preso. Jeiziel e Ana Paula, porém, não foram encontrados.

Foram apreendidos ainda dinheiro, armas, munições, veículos e equipamentos eletrônicos. O material passará por análise para identificar outros possíveis núcleos financeiros do Comando Vermelho em Goiás.
As investigações, iniciadas há um ano, avançaram após a quebra de sigilo telemático dos suspeitos, que permitiu rastrear conversas e o fluxo financeiro da organização.

Segundo o MP, Jeiziel atuava como autor intelectual do esquema, enquanto Ana Paula era a gestora das finanças. Empresas eram criadas exclusivamente para receber e dissimular recursos provenientes do tráfico de drogas.

Esquema movimentou milhões em gado e usou parentes em transações bancárias

A compra de gado era uma das principais estratégias para tentar dar aparência legal ao dinheiro. Gastos somados chegaram a R$ 28 milhões no setor agropecuário, segundo o MP. Os filhos do casal tinham contas bancárias usadas para receber valores enviados por integrantes da facção.

O tenente-coronel Daniel Machado, da PMGO, destacou que até a mãe de Ana Paula — aposentada com salário de R$ 2.400 — teve contas movimentadas pelo grupo. “Em três transações, foram contabilizados mais de R$ 1,6 milhão”, afirmou.

Impacto financeiro atinge estrutura da facção, diz MP

Para os promotores, o principal impacto da operação foi o bloqueio de R$ 28.108.51,70 em contas ligadas ao grupo criminoso, além da apreensão de veículos de alto valor.
“Esse dinheiro deixará de financiar pilares essenciais da facção, como compra de armas, drogas e manutenção de estruturas criminosas”, pontuou o Ministério Público.

A investigação segue para localizar o casal e identificar outros integrantes do núcleo financeiro do Comando Vermelho em Goiás.