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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
16 anos para igualar as taxas

Estudo aponta que ensino médio segue desigual entre jovens

81,7% dos brancos concluem etapa até os 19 anos; índice é de 69,5% entre jovens pretos, pardos e indígenas

Luana Avelarpor Luana Avelar em 19 de novembro de 2025
ENSINO MÉDIO
Foto: FreePik

A cada nova década, o Brasil revisita um mesmo impasse: por que um país que já universalizou o acesso ao ensino fundamental continua incapaz de garantir que seus jovens concluam o ensino médio? Os avanços registrados nos últimos dez anos não foram suficientes para reduzir com consistência as distâncias que separam estudantes de diferentes origens raciais e socioeconômicas. Um estudo divulgado nesta segunda-feira (17) pelo Todos pela Educação, com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), projeta que, mantido o ritmo atual, o país levará ao menos 16 anos para igualar as taxas de conclusão do ensino médio entre jovens negros, pardos e indígenas e os índices alcançados por jovens brancos e amarelos.

Os dados mostram que a conclusão do ensino médio segue atravessada por marcadores que se repetem de forma consistente. Um em cada quatro jovens de até 19 anos não está mais na escola e tampouco concluiu a educação básica. O levantamento indica que as causas principais do abandono continuam concentradas na necessidade de trabalhar e na perda de vínculo com a rotina escolar. O problema é antigo, mas permanece distribuído de maneira desigual em todas as regiões.

As diferenças raciais continuam evidentes. Entre jovens pretos, pardos e indígenas, 69,5% concluíram o ensino médio até os 19 anos. Entre brancos e amarelos, o índice é de 81,7%. Há dez anos, os números eram de 46% entre jovens negros e 66,3% entre brancos. A melhora existe, mas a velocidade é baixa. Considerando o ritmo médio de redução das desigualdades raciais, o país levará mais de uma década para alcançar equilíbrio entre os grupos.

Quando o recorte é socioeconômico, o desnível se torna ainda maior. Apenas 60,4% dos jovens mais pobres concluíram o ensino médio até os 19 anos. No grupo de maior renda, 94,2% finalizaram a etapa. O contraste evidencia que a origem econômica permanece como um dos principais fatores determinantes da permanência escolar. O dado também confirma que a desigualdade se manifesta de forma acumulada: famílias com menos renda enfrentam obstáculos múltiplos para manter adolescentes estudando.

O estudo destaca o programa Pé de Meia como uma das iniciativas capazes de alterar esse cenário. O benefício paga 200 reais mensais a estudantes do ensino médio, além de mil reais por ano concluído e mais 200 reais a quem prestar o Enem. O dinheiro só pode ser retirado após a formatura, o que busca estimular a permanência até o fim do ciclo. Até 2024, o programa atendia 3,95 milhões de estudantes, o equivalente a 50,6 por cento das matrículas dessa etapa.

A dimensão do programa ajuda a entender o alcance do problema. Mais da metade dos estudantes do ensino médio depende de algum tipo de incentivo financeiro para permanecer na escola. Para pesquisadores da área, essa proporção reforça que o abandono não é pontual, mas estruturado na rotina de milhões de famílias que lidam diariamente com pressões econômicas e ausência de suporte público.

O conjunto dos dados aponta que o país avança, mas em ritmo insuficiente para garantir condições iguais de escolaridade. As diferenças que aparecem nos gráficos se refletem na vida cotidiana de jovens que, antes mesmo de chegar à idade adulta, enfrentam trajetórias marcadas por interrupções e escolhas impostas pela renda. A desigualdade escolar segue condicionando destinos, e a lentidão na redução dessas distâncias mostra que o Brasil ainda está longe de consolidar a educação básica como um direito garantido.

A pesquisa indica que só políticas contínuas e articuladas poderão alterar esse quadro. Sem ações duradouras e capazes de combinar acesso, permanência e incentivos, o país continuará convivendo com indicadores que se repetem ano após ano. O estudo projeta um futuro em que, se nada mudar, o diploma do ensino médio seguirá distribuído de forma desigual, acompanhando a mesma lógica que molda oportunidades no mercado de trabalho e nas demais dimensões sociais.

Enquanto isso, a distância entre grupos permanece evidente. Os números permitem medir o avanço, mas também confirmam a lentidão do processo. E deixam uma conclusão direta: o país segue incapaz de oferecer aos jovens condições equivalentes para finalizar a etapa que deveria ser a base mínima da formação educacional.

ensino médio
Pesquisa mostra que taxa de conclusão do ensino médio varia amplamente entre grupos raciais e econômicos. Foto: Agência Brasil

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