Esquema milionário do CV usou filhos menores e empresas fantasmas para lavagem de dinheiro em Goiás
Investigação aponta que um casal liderava o braço financeiro da facção e movimentou mais de R$ 28 milhões usando parentes, adolescentes, empresas de fachada e cobranças feitas pelo WhatsApp
A Operação Cifra Vermelha revelou, nesta terça-feira (18), um esquema milionário usado pelo Comando Vermelho (CV) para lavar dinheiro em Goiás. Segundo o Ministério Público e a Polícia Militar, o grupo movimentou mais de R$ 28 milhões por meio de empresas de fachada, contas abertas em nome de parentes, amigos e até filhos menores de idade, que serviam como laranjas para receber valores do tráfico de drogas.
A investigação começou a partir de um relatório de inteligência da PM, que identificou movimentações suspeitas e enviou o material para análise aprofundada da Célula de Coordenação e Inteligência (CCI). A partir daí, os investigadores passaram a cruzar dados bancários, fiscais e telemáticos, até identificar o núcleo responsável por centralizar o dinheiro da facção.
Casal comandava o núcleo financeiro do CV
Segundo o MP, o esquema era liderado por um casal, identificado como J. e A.P., que administrava contas bancárias, criava empresas falsas e organizava toda a movimentação dos recursos. O homem já havia deixado Goiás, mas continuava dando ordens à distância, enquanto a mulher executava as operações financeiras.

O Tenente-Coronel Machado explicou:
“A companheira dele tinha acesso direto às contas e controlava tudo. Eles criaram uma rede de apoio para lavar o capital do tráfico.”Filhos menores, parentes e amigos usados como laranjas
Um dos pontos que mais chamou atenção dos investigadores foi o uso de filhos adolescentes e até de uma criança de 12 anos como laranjas. Os valores movimentados são incompatíveis com qualquer atividade lícita:
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Um dos filhos recebeu R$ 882 mil em depósitos fracionados em menos de dois anos;
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O filho mais novo movimentou R$ 628 mil em cerca de 25 meses;
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A mãe da investigada, aposentada com salário de R$ 2,4 mil, teve R$ 1,67 milhão passando por sua conta em apenas três transações.
Machado resumiu:
“Eles usavam até os próprios filhos para receber dinheiro de traficantes do Comando Vermelho.”
Empresas de fachada e contador preso
A operação também identificou empresas criadas apenas para lavar dinheiro. Uma delas, registrada no Maranhão e supostamente dedicada ao comércio de gado, movimentou R$ 28,7 milhões em apenas dois meses — sem sede e sem atividade real.
Um contador, que auxiliava o casal criando sucessivas pessoas jurídicas, foi preso nesta fase da operação.
Depósitos em lotéricas e cobranças pelo WhatsApp
Outro detalhe descoberto pelo MP é que os pagamentos enviados pelos traficantes eram cobrados pelo WhatsApp, em um grupo chamado “Dívida Atual”. Nele, integrantes da facção pressionavam outros criminosos para fazerem depósitos nas contas indicadas.

A maior parte dos depósitos era feita em casas lotéricas, como forma de dificultar o rastreamento.
Entre 13 de setembro e 8 de outubro de 2024, foram identificados 43 depósitos enviados de cidades de Goiás, Minas Gerais e Rio de Janeiro, totalizando R$ 122,2 mil.
“Goiás é um estado seguro”, diz coronel
O Tenente-Coronel Machado destacou que as forças de segurança têm atuado de forma incisiva contra as facções:
“Há uma mística de que grandes lideranças estão vindo para Goiás, mas isso não é verdade. O estado é seguro. Muitas dessas lideranças já foram expulsas daqui pela nossa atuação.”
Números da Operação Cifra Vermelha
A ação, considerada uma das maiores já realizadas contra o braço financeiro do Comando Vermelho, cumpriu:
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89 mandados de prisão
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88 mandados de busca e apreensão
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6 prisões em flagrante
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3 armas apreendidas
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4 veículos apreendidos
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bloqueio de mais de R$ 28 milhões em bens e valores
MP diz que novas fases devem ocorrer
Apesar das prisões e bloqueios, o Ministério Público afirma que as investigações continuam e que novos braços do esquema estão surgindo.
“Quando analisamos os dados, sempre aparece um novo elo. A Cifra Vermelha é apenas a primeira fase do combate ao Comando Vermelho em Goiás.”
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