Mercado de brechós deve movimentar até US$ 360 bilhões até 2030
40% dos jovens brasileiros já consomem roupas de segunda mão em brechós
O mercado de brechós vive uma expansão inédita no Brasil. O que antes era visto como sinônimo de roupas antigas se transformou em um setor profissionalizado, lucrativo e estratégico para o varejo. A busca por peças únicas, o aumento da consciência ambiental e a influência das redes sociais colocaram o segmento de segunda mão entre os mais dinâmicos da moda, especialmente entre jovens consumidores. Estimativas internacionais apontam que o setor deve crescer duas vezes mais rápido que o varejo tradicional até 2030, consolidando-se como uma das principais tendências de consumo da década.
A explosão da moda retrô
A estética das décadas de 80, 90 e 2000 impulsiona a demanda por peças que não são mais produzidas, o que coloca os brechós como fontes exclusivas de estilo. Curadorias de jeans de cintura alta, saias midi, jaquetas oversized e alfaiataria vintage movimentam vitrines físicas e digitais. A valorização da originalidade também se reflete no comportamento do consumidor: segundo pesquisa do Boston Consulting Group, 40% dos brasileiros entre 15 e 35 anos possuem peças usadas no guarda-roupa, índice acima da média global.
Esse movimento já alcança passarelas e grandes marcas. A última edição do São Paulo Fashion Week dedicou um desfile inteiro à moda reciclada, reforçando a legitimidade da tendência — um marco para um setor antes considerado alternativo.

Sustentabilidade como eixo central dos brechós
O impacto ambiental da indústria têxtil é hoje um dos motores da mudança. Roupas são responsáveis por grandes volumes de emissão de CO₂ e toneladas de resíduos descartados anualmente. No Brasil, estudos de entidades ambientais apontam que mais de 170 mil toneladas de resíduos têxteis são descartadas por ano, a maior parte sem reciclagem. Nesse cenário, comprar em brechós prolonga o ciclo de vida das peças e reduz significativamente o descarte.
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A consultora de moda sustentável Juliana Diniz destaca que a moda de segunda mão “não é mais um nicho ecológico, mas parte da rotina de consumo de quem busca responsabilidade ambiental sem abrir mão do estilo”. Segundo ela, o brechó representa a forma mais acessível de aderir à economia circular.
Digitalização acelera os negócios
O mercado também cresce pela força das redes sociais. Perfis no Instagram e TikTok transformaram o garimpo em conteúdo, movimentando milhares de visualizações e criando uma nova categoria de influenciadores especializados. Plataformas digitais permitem vendas rápidas, atendimento personalizado e alcance nacional.
Relatório da ThredUp — referência internacional do setor — aponta que o comércio online de itens de segunda mão cresce até 15 vezes mais rápido que as lojas físicas. No Brasil, empreendedores ampliaram operações criando “vitrines virtuais”, lives de vendas e sistemas de curadoria sob encomenda.

Um mercado bilionário em ascensão
O setor movimenta cifras expressivas. Estimativas globais indicam que os brechós devem gerar entre US$ 320 bilhões e US$ 360 bilhões até 2030, puxados principalmente pela geração Z. No Brasil, ainda que não existam números consolidados, associações de varejo projetam que o segmento já cresce acima de 20% ao ano, muito acima da média do comércio de moda tradicional.
Economistas apontam que o segmento se beneficia da combinação entre preços acessíveis, margem de lucro atrativa e baixo custo de operação. Para muitos empreendedores, o brechó representa oportunidade de formalização e renda estável. As lojas físicas também se expandem em capitais como São Paulo, Belo Horizonte, Goiânia e Recife, onde o fluxo turístico incentiva o consumo.
Por que o consumidor migra para o usado
Três fatores sustentam o avanço do setor: autenticidade, consciência ambiental e economia. Peças usadas oferecem estilo exclusivo, fogem do padrão das grandes redes e permitem acesso a marcas famosas por valores mais baixos. A economista Helena Arantes resume: “O brechó atende ao desejo do consumidor moderno de economizar sem perder qualidade, e ainda entrega propósito”.
Pesquisadores afirmam que a tendência não é passageira. Com novas gerações mais sensíveis ao impacto ambiental e ao consumo consciente, o mercado deve se consolidar como parte permanente do ecossistema da moda brasileira.