COP30 tem reta final marcada por incêndio e impasses
Rascunho sem menção a combustíveis fósseis após o incêndio amplia tensões e leva países a pressionar a presidência
As duas semanas da COP30 foram marcadas por manifestações indígenas, críticas da ONU à infraestrutura montada para o evento, reforço de segurança em Belém e impasses políticos. Esse cenário acompanhou as delegações até a reta final e ajudou a criar um ambiente de pressão crescente nas negociações.
Na quinta-feira (20), a conferência foi interrompida pelo incêndio que atingiu o Pavilhão da África Oriental, na Blue Zone. O fogo começou pouco depois das 14h e levou à evacuação imediata da área. Segundo o governo do Pará, as chamas foram controladas em seis minutos com o uso de 244 extintores, mangueiras e a atuação de 56 bombeiros. A estrutura feita com lonas e carpetes teve parte do teto destruída, e 21 pessoas receberam atendimento por inalação de fumaça. O ministro do Turismo, Celso Sabino, afirmou que todo o material utilizado era antichamas. O incidente interrompeu reuniões, atrasou encontros técnicos e adicionou incerteza a uma fase já marcada por impasses.

Com as negociações retomadas, a madrugada de sexta-feira (21), trouxe o movimento mais sensível da conferência. A presidência brasileira apresentou o rascunho preliminar da declaração final, um texto de sete páginas que não mencionava o abandono dos combustíveis fósseis. O documento pedia aceleração das ações climáticas e citava um “Acelerador Global de Implementação” voluntário, sem detalhamento. Nomeado “Mutirão Global”, o rascunho desencadeou reação imediata, mais de 30 países, entre eles Alemanha e França, ameaçaram rejeitá-lo, enquanto ONGs, cientistas e outros segmentos da sociedade civil também criticaram a ausência de um roteiro para reduzir o uso de petróleo, gás e carvão.
Combustíveis fósseis
A disputa em torno dos combustíveis fósseis já vinha dominando as negociações desde o início da COP. Países produtores, como Arábia Saudita, e grandes emissores, como Índia e China, membros do grupo LMDC, resistiram à inclusão de termos como phase out ou progressive. Embora o tema não estivesse originalmente na agenda formal, ganhou força após os apelos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva por um esforço global de transição energética.
O rascunho divulgado também propunha triplicar, até 2030, o financiamento para adaptação climática com base nos níveis de 2025. O compromisso firmado na COP26, em Glasgow, previa US$ 40 bilhões anuais até este ano. Países em desenvolvimento, especialmente africanos, cobraram mais recursos e indicadores claros para acompanhar o avanço da meta global de adaptação.
Presidente da COP30 sobe o tom
A sexta-feira já havia começado com forte movimentação na Green Zone. Antes mesmo da abertura, longas filas se formavam, com visitantes aproveitando as últimas horas para circular pelos estandes. Paralelamente, a tensão aumentava entre os negociadores. Diante do impasse, o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, fez seu discurso mais duro. Ele alertou que “se não chegarmos a um acordo e não implementarmos o que está no Acordo de Paris, todos vão perder” e convocou um grande mutirão voltado a ministros e chefes de delegação para buscar convergência. “Essa presidência tem sido aberta e transparente”, afirmou.

Ainda, em nota o Observatório do Clima classificou o primeiro rascunho do “Pacote de Belém” como “desequilibrado” e destacou a ausência de qualquer referência à transição para longe dos combustíveis fósseis, afirmando que a conferência não poderá ser considerada bem-sucedida caso esses pontos permaneçam sem solução.