EUA criticam prisão de Bolsonaro: “provocativa e desnecessária”
Vice-secretário de Estado dos EUA acusa Moraes de violar normas judiciais e amplia a tensão após prisão preventiva
A prisão preventiva de Jair Bolsonaro, determinada no sábado (22) após a tentativa de violar a tornozeleira eletrônica com um ferro de soldar, abriu uma nova rodada de tensão política e diplomática. A decisão do ministro Alexandre de Moraes, baseada no risco de fuga, provocou reação imediata nos Estados Unidos e movimentou a imprensa internacional, que já acompanhava os desdobramentos do processo envolvendo o ex-presidente.
A crítica mais direta partiu da embaixada dos Estados Unidos no Brasil, que divulgou no X a tradução de um texto do vice-secretário de Estado Christopher Landau. Na mensagem, Landau direciona acusações ao ministro do Supremo Tribunal Federal, relator do caso da trama golpista e responsável pela ordem de prisão. Ele escreveu: “O juiz Moraes, um violador de direitos humanos sancionado, expôs o Supremo Tribunal Federal do Brasil à vergonha e ao descrédito internacional ao desrespeitar normas tradicionais de autocontenção judicial e politizar de forma escancarada o processo judicial”.
O vice-secretário ainda afirmou que os EUA estão preocupados com o “ataque ao Estado de Direito” e chamou a prisão do ex-presidente de “provocativa e desnecessária”. Landau finalizou afirmando que “não há nada mais perigoso para a democracia do que um juiz que não reconhece limites para seu poder”.
A publicação recebeu resposta do deputado Eduardo Bolsonaro, que agradeceu o apoio e afirmou: “Muito obrigado pela sua atenção e apoio nesta luta pela liberdade no Brasil, deputado Christopher Landau. Neste estágio, assim como vemos na Nicarágua e na Venezuela, já não há qualquer expectativa real de que a justiça venha de dentro das instituições brasileiras”.
O episódio também foi comentado pelo presidente dos EUA, Donald Trump. Ao ser questionado sobre a prisão do ex-presidente brasileiro em frente à Casa Branca, o líder norte-americano respondeu: “Foi isso que aconteceu? É uma pena”.

Imprensa internacional repercute prisão de Bolsonaro
Enquanto cresciam as reações políticas, veículos internacionais deram destaque à prisão decretada neste sábado. O The Washington Post lembrou que o julgamento de Bolsonaro havia gerado atrito diplomático, já que Donald Trump anunciou tarifas sobre produtos brasileiros em resposta ao processo no STF. O jornal destacou que “o processo contra Bolsonaro provocou uma resposta diplomática e econômica dos Estados Unidos” e citou o fato de que Eduardo Bolsonaro se mudou para os EUA no início do ano com o objetivo de tentar convencer a Casa Branca a interferir.
O veículo recordou ainda uma entrevista concedida por Bolsonaro em maio, na qual afirmou que ser preso significaria o fim de sua vida.

No Reino Unido, o The Guardian noticiou que a expectativa de uma possível prisão havia crescido nos últimos dias. O jornal relatou a preocupação de aliados diante da possibilidade de Bolsonaro ser levado ao presídio da Papuda, em Brasília. Já o espanhol El País colocou o caso como manchete ao longo do sábado e destacou que a tornozeleira usada pelo ex-presidente foi violada durante a madrugada.
O veículo também registrou que, segundo sua apuração, “nem mesmo a extraordinária campanha de pressão lançada por Trump, seu aliado mais poderoso, impediu que Bolsonaro fosse julgado e condenado”.
Nos Estados Unidos, o The New York Times frisou no título da reportagem — “Temendo que ele fugisse, polícia no Brasil prende Jair Bolsonaro” — o risco de fuga mencionado por Moraes ao justificar a prisão preventiva. O jornal lembrou que Bolsonaro permaneceu dois dias na Embaixada da Hungria em agosto, depois que a Justiça determinou a entrega de seu passaporte.