Parque Vaca Brava preocupa moradores com possível perda de áreas públicas
Moradores relatam precarização dos cuidados, de uma parte do Parque Vaca Brava afastado do restante, próximo a T-55
A relação entre comunidade e poder público voltou aos holofotes no Parque Vaca Brava, um dos espaços verdes mais simbólicos de Goiânia. Moradores relatam precarização dos cuidados, de uma parte do parque afastado do restante, próximo a T-55, decisões tomadas sem diálogo e, principalmente, medo de que partes do parque e de outras áreas verdes da cidade acabem sendo entregues à iniciativa privada, reduzindo o acesso da população a espaços que deveriam ser totalmente públicos.
Jeckson Brenno, dog walker e frequentador diário do parque, afirma que a situação preocupa quem convive com a área. Ele conta que, na época em que a Associação dos Moradores do Parque Vaca Brava tentou apresentar propostas e alertas sobre os problemas de manutenção, a prefeitura não ouviu as demandas.
Em conversas informais, moradores chegaram a ser informados de que uma parte do parque poderia ser cedida à iniciativa privada para instalação de uma praça de lazer.
Além disso, circulou entre frequentadores a possibilidade de que uma área afastada do Parque Vaca Brava fosse doada para a família da cantora Marília Mendonça, para criação de uma praça em homenagem à artista. A ideia, porém, nunca chegou a ser oficializada, ficou apenas na conversa, sem qualquer documento ou proposta formal. Mesmo assim, o tema aumentou a preocupação dos moradores, que temem decisões tomadas sem transparência e sem participação popular.
“Quando ele [Sandro Mabel] veio inaugurar a fonte no Parque Vaca Brava , perguntamos como ficariam os cuidados, porque falta banheiro e iluminação. Inclusive, quando questionamos sobre a parte afastada, ele disse que quando a iniciativa privada assumisse, nós iríamos descobrir”, afirmou Brenno.
Parque Vaca Brava gera discussão sobre preservação e uso público
Para ele, qualquer movimentação nesse sentido acende um alerta imediato para o Parque Vaca Brava . “Nós, moradores, expressamos nossa profunda preocupação com a possibilidade de a prefeitura transferir parte da praça para a rede privada. Esta praça é um espaço de preservação que lutamos por anos para reaver após longas batalhas judiciais.”
A insegurança aumenta diante da falta de respostas em relação ao Parque Vaca Brava . “Ver essa área, que ficou fechada por mais de dois anos, agora sob risco de se tornar um estacionamento, gera insegurança e medo. A praça deve permanecer acessível a todos, preservando seu valor histórico e social”, reforça.
A tensão vem desde agosto, quando a prefeitura anunciou estudos para conceder à iniciativa privada a gestão de 11 parques de Goiânia, incluindo o Parque Vaca Brava . Mabel afirmou que o município não consegue manter banheiros, fontes e jardins funcionando adequadamente e que empresas poderiam explorar comercialmente partes dos parques em troca da manutenção. A promessa é de acesso gratuito, mas isso não tranquiliza a população.
A agenda de concessões avançou durante a reinauguração de uma fonte no Vaca Brava. O evento, porém, gerou polêmica. O equipamento, apresentado como “parado há anos”, havia sido instalado no ano anterior no Parque da Lagoa, no Setor João Braz, onde funcionava normalmente.
Moradores afirmam que a fonte foi retirada da região periférica há cerca de dois meses e levada para o parque do Setor Bueno, para o Parque Vaca Brava movimento visto como injusto por quem vive nas áreas menos favorecidas da cidade.
A gestão atual disse que a estrutura estava inativa havia mais de uma década, e que sua recuperação fazia parte da revitalização dos parques públicos. A explicação, porém, não convenceu quem frequenta o João Braz, que afirma ter perdido uma atração instalada recentemente e que cumpria bem sua função.
A situação ecoou na Câmara Municipal. O vereador Luan Alves (MDB), ex-presidente da Agência Municipal de Meio Ambiente (Amma), criticou duramente a retirada da fonte e classificou a decisão como “irresponsável”. Para ele, trocar equipamentos de lugar não resolve problemas estruturais da cidade.
Com a proposta de repassar a manutenção dos parques à iniciativa privada, incluindo o Parque Vaca Brava, o debate se intensificou. O prefeito justificou a medida afirmando que o município não consegue manter banheiros abastecidos nem garantir limpeza constante. Por isso, pretende lançar editais convocando empresas que ficariam responsáveis por parte da conservação em troca de autorização para explorar comercialmente áreas dos parques.
A Lei Orgânica de Goiânia permite esse tipo de parceria, mas exige que os parques permaneçam públicos e acessíveis. Mesmo assim, moradores temem que o modelo abra espaço para decisões que priorizem interesses privados sobre a função social e ambiental das áreas verdes. A reportagem entrou em contato com a prefeitura de Goiânia, mas até o momento não obtivemos retorno. O espaço segue aberto para manifestação.