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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
suspensão imediata

MP recomenda que Prefeitura de Goiânia suspenda uso de grama sintética

Promotoria aponta impactos ambientais e urbanísticos e pede plano de remoção, revegetação e restauração do solo

Micael Silvapor Micael Silva em 28 de novembro de 2025
grama
Foto: Gabriel Louza/O HOJE

O Ministério Público de Goiás (MPGO), por meio da 7ª Promotoria de Justiça de Goiânia, recomendou ao prefeito Sandro Mabel que suspenda imediatamente qualquer nova instalação, aquisição, contratação ou ampliação do uso de grama sintética em canteiros centrais, praças, parques e demais áreas públicas da capital.

A promotora de Justiça Alice de Almeida Freire também determinou que o Município elabore e execute um plano de recuperação ambiental das áreas já afetadas. O MP pede a remoção da grama sintética com destinação correta do material, a revegetação com grama natural e espécies nativas do Cerrado, além da restauração das funções ecológicas e drenantes do solo.

O órgão fixou prazo de 20 dias úteis para que a prefeitura encaminhe relatório técnico e administrativo contendo o mapeamento completo das áreas onde houve instalação da grama sintética e o cronograma de remoção e recuperação ambiental.

A recomendação integra procedimento que apura a legalidade da substituição da grama natural por sintética no canteiro central da Avenida Castelo Branco e em outros espaços públicos, assim como seus impactos ambientais, urbanísticos, estéticos e sociais.

Laudo aponta ausência de benefícios e impactos negativos

De acordo com laudo da Coordenação de Apoio Técnico-Pericial (Catep) do MPGO, não há qualquer benefício ambiental, ecológico ou financeiro na troca da grama natural pela sintética. Ao contrário, foram identificados impactos negativos significativos.

O estudo destaca que a grama natural desempenha funções ambientais essenciais, como:

  • regulação térmica;

  • absorção de CO₂ e liberação de oxigênio;

  • retenção de umidade;

  • infiltração das águas pluviais;

  • suporte à biodiversidade do solo.

A grama sintética, por outro lado, é impermeável, inorgânica e termicamente isolante, provocando aquecimento excessivo e impermeabilização total da superfície.

A promotora ressalta que o material instalado pela prefeitura não possui furos ou estrutura de drenagem, impedindo a recarga do lençol freático, a infiltração da água da chuva e a oxigenação do solo — fatores que agravam o escoamento superficial e podem favorecer alagamentos e enchentes.

Urbanista critica medida e vê retrocesso no planejamento urbano

Em setembro, O HOJE esteve em um dos pontos onde a grama sintética foi instalada e acompanhou a análise de um urbanista, Fred, que criticou a intervenção. Para ele, a substituição representa um retrocesso no planejamento urbano de Goiânia.

“É natural que a grama fique seca na estiagem. Essa mudança faz parte do ciclo das estações e nos conecta à natureza. Se não cuidamos do pequeno, dificilmente cuidaremos do macro. Trocar a grama natural por plástico é um erro que pode custar caro no futuro”, afirmou.

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Foto: Divulgação

Fred também destacou que a instalação rompe com a identidade histórica da capital.
“Goiânia sempre foi conhecida como ‘Capital Verde’. Substituir a vegetação natural por sintética desambientaliza as pessoas, cria uma estética de shopping center e reforça uma lógica privatizante do espaço público. É uma cidade que corre risco de se tornar desconectada do meio ambiente”, disse.

Riscos ambientais, sanitários e estéticos

Entre os impactos mais preocupantes, o urbanista chamou atenção para o sistema de drenagem urbana.
“Sem raízes, a grama sintética não auxilia na infiltração da água da chuva. Em precipitações mais fortes, ela pode encharcar e escoar para o asfalto, aumentando o risco de alagamentos”, explicou.

Outro ponto é o risco sanitário.
“Por ser impermeável, se o material não tiver furos, haverá acúmulo de água mesmo em chuvas leves. Isso favorece criadouros de mosquitos da dengue e agrava problemas de saúde pública”, alertou.

Fred também enfatizou a perda estética e simbólica.
“A grama natural muda conforme as estações e é parte da identidade visual da cidade. Substituí-la por plástico é uma descaracterização do espaço urbano.”

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