Cartola e os 45 anos de uma obra ainda viva
Novo levantamento do Ecad confirma a permanência de suas obras entre as mais tocadas e regravadas do país
Quarenta e cinco anos após a morte de Angenor de Oliveira, Cartola continua ocupando um lugar central na música brasileira. Nascido em 1908 e formado entre o Catete, Laranjeiras e o Morro da Mangueira, levou décadas para ser reconhecido como artista, mas tornou-se uma das referências fundamentais da canção nacional. Um levantamento recente do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad) confirma essa permanência: o compositor segue entre os mais executados e regravados do país, um resultado expressivo para alguém que só lançou o primeiro disco aos 66 anos.
Ainda jovem, mudou-se para a Mangueira, onde conheceu Carlos Cachaça e participou da criação do bloco que daria origem à Estação Primeira. Nas rodas do morro, tornou-se rapidamente um nome respeitado e passou a fornecer sambas para estrelas dos anos 1930, como Carmen Miranda, Francisco Alves e Aracy de Almeida. Depois dessa fase, desapareceu do cenário musical por longos períodos, a ponto de surgirem boatos de que não estava mais vivo.
Seu retorno ocorreu nos anos 1960, quando o jornalista Sérgio Porto o recolocou em evidência. Já idoso, gravou quatro discos que se tornariam referências. Entre o ZiCartola, a parceria com Dona Zica e os LPs produzidos por Marcus Pereira, construiu um repertório que influenciaria novas gerações. Dessa fase surgiram canções como “Acontece”, “Cordas de aço” e “Alegria”, além de sua participação no álbum “História das Escolas de Samba: Mangueira”. Cartola morreu em 1980, aos 72 anos, vítima de câncer, após viver seus últimos anos em uma casa cedida pela prefeitura do Rio.
As obras de Cartola
Os dados do Ecad ajudam a dimensionar sua presença atual. O compositor tem 161 obras e 134 gravações registradas. Uma delas se destaca: “As rosas não falam”, hoje a música mais executada nos últimos cinco anos e também a mais regravada, com 246 registros. O levantamento inclui ainda “O sol nascerá”, parceria com Elton Medeiros, “O mundo é um moinho”, com Alexandre Beltramino, e “Alvorada”, escrita com Carlos Cachaça e Hermínio Bello de Carvalho. As listas mostram que suas composições permanecem ativas em diferentes espaços — rádio, shows, festas populares, trilhas e apresentações ao vivo.
Entre os intérpretes que mais revisitaram suas músicas, Elton Medeiros aparece à frente, seguido por Ney Matogrosso, Nelson Sargento e Teresa Cristina. Nomes de gerações posteriores, como Gal Costa, Marisa Monte, Beth Carvalho e Elza Soares, também registraram suas versões, ampliando o alcance de um autor que reuniu mais de 500 composições.
As execuções atuais indicam que suas canções não se limitam ao reconhecimento póstumo. Continuam presentes porque seguem sendo utilizadas na prática musical contemporânea. Em um mercado acelerado, essa continuidade mostra que Cartola não ocupa apenas um lugar histórico, mas integra o repertório cotidiano da música brasileira.
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