Setor de bicicletas reage e projeta 320 mil unidades produzidas em 2025
Indústria retoma crescimento após queda de 24,1 por cento em 2024
O mercado brasileiro de bicicletas avança em 2025 e volta a registrar aumento na produção após um período de forte oscilação. Dados industriais apontam que, apenas no primeiro trimestre do ano, o Polo Industrial de Manaus produziu 83.185 bicicletas, volume 11 por cento superior ao previsto inicialmente. No acumulado dos dois primeiros meses, as fábricas registraram 54.041 unidades, número próximo ao observado no mesmo período de 2024. A meta do setor é alcançar 320 mil unidades produzidas ao longo de 2025.
O resultado contrasta com a retração de 24,1 por cento registrada em 2024, quando a produção apresentou queda expressiva. A retomada, segundo especialistas, reflete a demanda por mobilidade acessível, o uso recreativo e a consolidação de marcas regionais fora da Zona Franca de Manaus.
Bicicletas elétricas e MTB ampliam participação no mercado
Entre as categorias que puxam o crescimento, as bicicletas elétricas se destacam. No primeiro semestre de 2025, a produção nacional dessas unidades cresceu 122,6 por cento em relação ao ano anterior, totalizando 18.223 bikes. O avanço acompanha a expansão do uso da bicicleta como alternativa de circulação urbana e como equipamento associado ao lazer e à prática esportiva.
O setor fechou 2024 com 53.591 bicicletas elétricas vendidas no país, alta de 7,2 por cento sobre 2023. O faturamento estimado no período alcançou cerca de 511 milhões de reais. No segmento de maior valor agregado, as bicicletas elétricas de mountain bike passaram a dividir espaço com os modelos urbanos e já respondem por mais de 70 por cento da receita total das elétricas, reflexo do preço médio mais elevado.
Ao mesmo tempo, a produção de MTB mecânicas continua liderando o volume de fabricação. Modelos urbanos e infantojuvenis também mantêm participação significativa, impulsionados pela recuperação gradual do consumo e pela modernização das linhas fabris.

Faturamento cresce e reforça liderança do Polo de Manaus
A expansão do setor se reflete no faturamento das indústrias instaladas na Zona Franca de Manaus. No primeiro semestre de 2025, o complexo industrial de duas rodas registrou faturamento de 23,3 bilhões de reais, crescimento de 30,2 por cento em relação ao mesmo período de 2024. A cifra consolida a liderança do polo como principal centro de produção de bicicletas e motocicletas do país.
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A performance mantém o Brasil entre os quatro maiores produtores de bicicletas do mundo. O setor emprega milhares de trabalhadores diretos e indiretos e responde por uma cadeia ampla de componentes, serviços e logística. Para especialistas, o ritmo de expansão depende da manutenção dos investimentos em tecnologia e de um ambiente regulatório que reduza custos e incentive a inovação.

Desigualdade competitiva e pressão sobre fabricantes regionais
Apesar do momento favorável, a expansão do mercado ocorre em meio a diferenças competitivas entre fabricantes do Polo de Manaus e empresas instaladas em outras regiões. Para Cleber Rossini, CEO da Verden Bikes e membro do SIMEFRE, a discrepância fiscal impõe barreiras aos produtores regionais.
Há uma guerra de preços em curso, especialmente nas categorias de primeiro preço e na linha infantil. Isso pressiona margens e dificulta investimentos em inovação, afirma Rossini.
Segundo ele, a desigualdade é ainda mais evidente no segmento de bicicletas elétricas. Hoje, simplesmente não é possível produzir elétricas fora da ZFM com esses níveis de tributação, diz. O executivo ressalta que o chamado risco Brasil eleva custos operacionais e reduz competitividade das empresas instaladas em outras regiões. A Zona Franca, ao contar com incentivos fiscais, absorve melhor a instabilidade cambial e inflacionária.
Tendências até 2030 e desafios para a próxima década
As projeções para o setor indicam crescimento de 25 por cento até 2030, impulsionado pela demanda reprimida do pós-pandemia, pela ampliação de políticas de mobilidade urbana e pela maior presença de produtos de alto valor agregado. A produção na Zona Franca de Manaus deve subir 38,8 por cento no período, reforçando o protagonismo do polo no abastecimento nacional.
Especialistas avaliam que o avanço depende da continuidade da modernização industrial. A adoção de inteligência artificial, automação e processos integrados aumenta produtividade e tem estimulado a contratação de trabalhadores mesmo diante de um cenário econômico oscilante.
A ampliação da mobilidade cicloviária, o crescimento das vendas de elétricas e a consolidação da bicicleta como meio de transporte e lazer reforçam o potencial do mercado. Ainda assim, o setor aponta a necessidade de ajustes regulatórios e redução de assimetrias tributárias para estimular a competitividade em todo o país.