Grupo aciona STJD e pressiona por punição após comentário polêmico do técnico Abel Braga
Entidade LGBTQIA+ denuncia treinadores e Internacional por falas consideradas discriminatórias
A denúncia apresentada pelo Grupo Arco-Íris de Cidadania no Superior Tribunal de Justiça Desportiva chegou ao órgão nesta semana e cita o Internacional, o técnico Abel Braga e o ex-treinador Ramón Díaz. O grupo enviou representação formal após duas declarações com teor discriminatório atribuídas aos profissionais em momentos distintos da temporada.
A primeira situação envolve a fala de Abel Braga durante sua coletiva de apresentação no retorno ao Internacional, no último domingo, 30 de novembro. O treinador relatou uma conversa antiga envolvendo o ex-jogador Andrés D’Alessandro e citou a frase: “não quero meu time treinando de camisa rosa, parece time de viado”. O vídeo da entrevista circulou nas redes sociais e gerou reação. Abel divulgou retratação em suas plataformas, afirmando que lamentava o episódio.
Entidade cita padrão de condutas e recorre ao artigo 243-G do CBJD
A representação também inclui uma fala do argentino Ramón Díaz, registrada após o empate com o Bahia pela 33ª rodada do Brasileirão. Na ocasião, o então treinador do clube disse que “futebol é para homens, não para meninas”. A afirmação repercutiu no período e resultou em críticas de torcedores e movimentos sociais.
O Grupo Arco-Íris enviou a denúncia por meio dos advogados Carlos Nicodemos e Maria Fernanda Cunha. A entidade afirma que os dois episódios formam um padrão de declarações discriminatórias e configuram violação das normas previstas no Código Brasileiro de Justiça Desportiva.
O documento enviado ao STJD menciona especificamente o artigo 243-G, que trata de atos discriminatórios em eventos esportivos. Segundo o regulamento, a pena chega a dez partidas de suspensão e multa de até 100 mil reais quando a infração envolver pessoas vinculadas à equipe denunciada.
O grupo também cita precedentes do próprio tribunal. A entidade relembra que o atacante Dudu, hoje no Atlético, foi punido ao enquadrado no mesmo artigo por misoginia contra Leila Pereira, presidente do Palmeiras. O processo serviu de base para o pedido contra o Internacional e seus treinadores. Em nota enviada à imprensa, o Grupo Arco-Íris afirmou que “o conjunto de episódios evidencia condutas que precisam de análise judicial desportiva”.
Veja a fala de Abel Braga abaixo:
A fala ridícula de Abel Braga, novo técnico do Inter, reflete uma mentalidade a ser erradicada do esporte, desrespeitando a comunidade LGBTQIAPN+ e desqualificando campanhas como o Outubro Rosa. Ódio e exclusão não cabem no esporte. Seguimos na luta por um futebol para todos! pic.twitter.com/mtd5KjktNj
— ☆༻ FOGAZELAS ༺☆ (@fogazelas) December 1, 2025
Ação pede cursos, campanhas educativas e possível punição ao clube
A solicitação ao STJD não se limita às penalidades esportivas estabelecidas no código. A organização acrescenta propostas de medidas educativas. Entre elas estão a participação de treinadores e representantes do clube em cursos sobre diversidade e seminários em instituições esportivas. O documento também sugere campanhas públicas com foco em educação e prevenção de condutas discriminatórias no ambiente do futebol.
A entidade menciona que o clube também está sujeito a sanção caso as infrações envolvam grupo relevante de pessoas ligadas à instituição ou torcedores. O texto da denúncia cita que o regulamento do tribunal prevê responsabilidade do clube quando episódios do tipo ocorrem de forma sucessiva ao longo da temporada.
O Internacional ainda não se manifestou sobre o conteúdo da ação. O clube divulgou apenas a entrevista em que Abel Braga pediu desculpas após a repercussão das falas. O treinador afirmou que o trecho “não reflete sua relação pessoal” e que o comentário fora feito em contexto de conversa antiga.
As declarações de Ramón Díaz seguem registradas nas atas da partida contra o Bahia e em reportagens da época. O treinador deixou o comando da equipe antes do fim da temporada e não se pronunciou sobre a representação recente encaminhada ao STJD. O processo aguarda análise da Procuradoria, que decide se transforma o caso em denúncia formal.
As informações divulgadas pelo Grupo Arco-Íris apontam que a entidade acompanha decisões anteriores do tribunal em casos de discriminação no esporte. O movimento confirma que entregou o material ao órgão responsável e que aguarda retorno sobre a abertura do processo. Os advogados que assinam a petição reforçaram em nota que a ação “segue os parâmetros descritos no próprio código desportivo”.
A denúncia ocorre nos últimos dias do Campeonato Brasileiro. O Internacional segue em 17º lugar na tabela e tem confrontos contra São Paulo e Bragantino nas duas rodadas finais. O clube soma 41 pontos e disputa permanência na Série A. Até o momento, não há informação sobre eventual impacto esportivo imediato relacionado ao processo, que ainda será analisado pelo STJD.
Leia também: Goiás busca Lucas Lima por empréstimo em 2026