Suicídio entre jovens indígenas aumenta no Brasil
Estudo revela avanço das mortes autoprovocadas na juventude e aponta vulnerabilidades históricas, desigualdade de acesso e falhas na rede de cuidados
A nova análise epidemiológica da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) sobre a saúde mental de jovens brasileiros revela um quadro que se agrava. A taxa geral de suicídio entre pessoas de 15 a 29 anos atinge 31,2 por 100 mil habitantes, superior à média nacional, mas é entre povos indígenas que a crise assume dimensão dramática. O levantamento indica a maior taxa do país, 62,7 por 100 mil, com um recorte ainda mais extremo entre homens indígenas de 20 a 24 anos, que alcançam 107,9. Entre mulheres indígenas de 15 a 19 anos, o índice chega a 46,2%.
Os pesquisadores apontam que o preconceito estrutural, mudanças culturais rápidas e barreiras de acesso à rede de saúde ampliam o risco. A combinação entre isolamento, fraturas comunitárias e demora no atendimento agrava a vulnerabilidade. Segundo a Fiocruz, a juventude indígena enfrenta um ambiente onde informações circulam, mas os suportes institucionais não chegam com a mesma velocidade.
O estudo também revela o perfil das internações por transtornos mentais: homens representam 61,3% dos casos, impulsionados sobretudo pelo abuso de múltiplas drogas, que responde pela maior parcela das admissões. A pressão por desempenho, a cobrança por autossuficiência e a precariedade econômica empurram muitos jovens para o consumo de substâncias como forma de atenuar tensões que raramente encontram espaço de acolhimento.
Entre mulheres, a depressão e os efeitos duradouros da violência física e sexual são predominantes. A interrupção dos estudos, a sobrecarga com trabalho doméstico e o cuidado de familiares contribuem para o adoecimento. A Fiocruz observa que, embora jovens sofram com intensidade, apenas 11,3% dos atendimentos na atenção primária são voltados à saúde mental, proporção distante daquela registrada entre adultos. Os pesquisadores afirmam que o país ainda opera sob a ideia de que a juventude deve suportar tudo, o que impede a busca por cuidado e atrasa o reconhecimento de riscos reais.

LEIA MAIS: https://ohoje.com/2025/11/14/rotinas-sem-alcool-entre-jovens/