Consumo moderado de café pode retardar envelhecimento celular
Para avaliar se o café poderia influenciar essa dinâmica, os pesquisadores analisaram dados de 436 adultos
O café, amplamente presente na rotina de milhões de pessoas, volta a ganhar destaque no meio científico por motivos que vão além do sabor e da energia imediata que proporciona. Pesquisadores agora apontam que o consumo moderado da bebida pode estar relacionado a um marcador biológico de longevidade, especialmente entre indivíduos com transtornos mentais graves.
Um estudo recente reforça essa possibilidade ao indicar que ingerir de três a quatro xícaras de café por dia pode retardar o envelhecimento celular nesse grupo. A pesquisa, publicada no fim de novembro pela revista BMJ Mental Health, identificou que esse padrão de consumo esteve associado ao alongamento dos telômeros, estruturas que protegem as extremidades dos cromossomos e são consideradas indicadores do envelhecimento biológico. Segundo os autores, o efeito observado seria equivalente a cerca de cinco anos extras de idade celular em comparação a pessoas que não consomem a bebida.
Os telômeros atuam como uma barreira protetora, funcionando de maneira semelhante às pontas plásticas dos cadarços, evitando o desgaste das extremidades cromossômicas. Embora seja natural que se encurtem ao longo da vida, fatores como transtornos psiquiátricos severos, a exemplo de esquizofrenia, psicose e transtorno bipolar, podem acelerar esse processo.

Para avaliar se o café poderia influenciar essa dinâmica, os pesquisadores analisaram dados de 436 adultos que participaram de um estudo norueguês sobre psicose entre 2007 e 2018. Do total, 259 tinham diagnóstico de esquizofrenia e 177 apresentavam transtornos afetivos, como transtorno bipolar ou depressão maior com psicose.
Os participantes informaram a quantidade de café consumida diariamente e foram agrupados em quatro categorias: nenhum consumo; 1 a 2 xícaras; 3 a 4 xícaras; e 5 ou mais xícaras por dia. Também foram coletados dados sobre tabagismo. A análise mostrou que indivíduos que bebiam cinco ou mais xícaras tendiam a ser mais velhos e, entre os diagnosticados com esquizofrenia, o consumo era maior do que entre aqueles com transtornos afetivos.
A avaliação do comprimento dos telômeros foi feita a partir de glóbulos brancos obtidos em amostras de sangue. Em comparação a pessoas que não consomem café, o grupo que ingeria até quatro xícaras diárias apresentou telômeros mais longos, resultado não observado entre os consumidores de quantidades superiores.
Segundo os autores do estudo, participantes que bebiam o equivalente a quatro xícaras por dia tinham telômeros compatíveis com uma idade biológica cerca de cinco anos mais jovem do que a registrada entre os não consumidores.
Café e longevidade
Apesar dos resultados promissores, os autores do estudo reforçam que se trata de uma pesquisa observacional, o que impede estabelecer uma relação direta de causa e efeito. Ainda assim, destacam que há mecanismos biológicos capazes de sustentar as associações identificadas, especialmente devido aos compostos antioxidantes e anti-inflamatórios presentes no café.
Os cientistas, porém, fazem um alerta: embora haja potenciais benefícios, ultrapassar a quantidade diária recomendada pode ter efeito contrário, favorecendo danos celulares e o encurtamento dos telômeros devido ao aumento de espécies reativas de oxigênio. A Organização Mundial da Saúde (OMS) orienta que o consumo diário de cafeína não ultrapasse 400 mg, o equivalente a cerca de quatro xícaras de café.