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quarta-feira, 10 de dezembro de 2025
educação

Expansão na educação da rede municipal avança em meio à crise e denúncias sobre terceirização

Paço sustenta que a ampliação de vagas na educação “equivale a quase dez CMEIs”, mas comunidade escolar aponta sobrecarga e queda na qualidade do atendimento

Anna Salgadopor Anna Salgado em 10 de dezembro de 2025
educação
| Foto: Alex Malheiros

A Rede Municipal de Ensino de Goiânia vai iniciar 2026 com um pacote ambicioso de investimentos, anunciando a expansão da capacidade de atendimento e a modernização tecnológica. Porém, essa reestruturação ocorre em meio a uma profunda crise de confiança e a investigações sobre o avanço da terceirização. 

 

A gestão municipal, por meio da Secretaria Municipal de Educação (SME), defende que as ações têm o objetivo de qualificar o serviço e ampliar o acesso universal à educação.

 

A secretaria informou que está em curso um conjunto de iniciativas para ampliar o acesso e qualificar o atendimento na Educação Infantil. Ao todo, 115 novas salas de aula estão sendo implantadas em Centro Municipal de Educação Infantil (CMEIs) e escolas. Como parte desse esforço, 55 salas já foram concluídas e estão prontas para funcionar no início do ano letivo de 2026. 

 

As unidades foram instaladas prioritariamente em regiões de maior pressão por vagas e permitirão atender 1,2 mil novas crianças. As outras 60 salas serão executadas ao longo do primeiro semestre de 2026.

 

O prefeito Sandro Mabel (UB) afirmou que a estratégia de ampliar salas em unidades já existentes foi uma resposta rápida e de menor custo, que “equivale à criação de quase dez Cmeis”. Segundo ele, o déficit inicial de 10 mil vagas foi suprido ao longo de 2025, e o objetivo da secretária de Educação, Giselle Faria, é acolher todas as crianças em idade escolar para que “ninguém fique sem vaga na rede municipal”.

 

Paralelamente à expansão física, a SME investiu em tecnologia, entregando 1.440 lousas digitais às escolas e anunciando a aquisição de 15 mil tablets para os estudantes. A gestão avalia que essa modernização representa o “início da era digital” na rede, com a ampliação do repertório dos professores e garantindo uma educação mais avançada e tecnológica.

 

Apesar do anúncio de expansão, a servidora Juliana Damando, profissional da educação, expressou preocupação com a situação da rede, especialmente em relação à qualidade do ensino e ao debate sobre terceirização. Ela contesta a afirmação de que a fila de espera para os CMEIs foi zerada e afirma que a “realidade é que estão superlotando turmas e sobrecarregando as profissionais da Educação sem nenhuma estrutura e planejamento”. 

 

Segundo Juliana, a falta de qualidade é perceptível, já que “as crianças voltam mais estressadas e cansadas para casa”, muitas vezes sem conseguir o sono pós-refeição por causa da falta de itens básicos, como colchonetes.

 

A servidora teme que o fechamento ou remanejamento de unidades, visto por pais e trabalhadores como um “desmonte silencioso da rede direta”, abra espaço para a gestão por Organizações da Sociedade Civil (OSCs), permitida pela Portaria nº 350/2025. Ela alerta que essa terceirização pode resultar na “precarização das estruturas, má remuneração dos profissionais e pouca transparência” na aplicação de recursos. Para Juliana, essa opacidade “enseja fortemente condutas de corrupção e lavagem de dinheiro”.

 

Na avaliação da profissional, a real necessidade das famílias não é a reorganização da rede, mas sim a “construção de mais CMEIs”, a melhoria da estrutura física das unidades existentes e a realização de mais concursos públicos para admitir e remunerar adequadamente todos os profissionais, incluindo técnicos-administrativos, auxiliares de sala, merendeiras e professores.

 

As mudanças propostas pela SME ao longo de 2025 mobilizaram os órgãos de controle. Vereadores da oposição protocolaram ações no Tribunal de Contas dos Municípios de Goiás (TCM-GO) e no Ministério Público de Goiás (MP-GO), alegando ausência de laudos técnicos que justifiquem a reorganização. 

 

O MP-GO, inclusive, exigiu que a SME apresentasse em dez dias toda a documentação que fundamentou fechamentos e reestruturações, incluindo laudos e estudos de realocação. A cobrança evidencia a gravidade das denúncias de que o esvaziamento da rede direta poderia estar “criando um ambiente propício para a entrega da Educação Infantil à gestão privada”. O TCM-GO também instaurou processo para apurar as alterações na rede municipal.

 

Assim, embora a expansão com as 55 novas salas garanta aumento na oferta de vagas, o cenário permanece sob atenção da comunidade e dos órgãos fiscalizadores, que buscam assegurar que a eficiência administrativa e o aumento do acesso não ocorram às custas da qualidade e da integridade da gestão pública.

 

 

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