Sétima remissão prolongada do HIV após transplante de células-tronco
O paciente recebeu o diagnóstico de HIV em 2009 e, anos depois, em 2015
Um homem de 60 anos, residente em Berlim, Alemanha, tornou-se o sétimo paciente no mundo a atingir remissão prolongada do HIV após passar por um transplante de células-tronco realizado originalmente para tratar uma leucemia. O relato, divulgado na segunda-feira (1) na revista Nature, reforça avanços importantes na busca por estratégias de cura da infecção.
O paciente recebeu o diagnóstico de HIV em 2009 e, anos depois, em 2015, desenvolveu leucemia mieloide aguda. Como parte do tratamento oncológico, foi submetido ao transplante de células-tronco a partir de um doador compatível, procedimento que, além de controlar o câncer, acabou levando à remissão da infecção viral.
O HIV atua diretamente sobre as células de defesa do organismo, comprometendo a capacidade do sistema imunológico de reagir a infecções. Dados do Ministério da Saúde indicam que, entre os mais de um milhão de brasileiros que vivem com o vírus, a maior concentração de diagnósticos está na faixa dos 25 aos 39 anos.
Diferentemente de outros casos já documentados, em que os doadores possuíam duas cópias da mutação genética CCR5 Δ32, alteração que impede a entrada do HIV nas células, o doador deste caso era portador de apenas uma cópia da variante, ou seja, era heterozigoto. Ainda assim, três anos após o transplante, o paciente conseguiu suspender o tratamento antirretroviral e permanece sem sinais de atividade viral.

A observação amplia o entendimento sobre a remissão do HIV, indicando que uma única cópia da mutação pode ser suficiente para bloquear a infecção, o que aumenta o número potencial de doadores compatíveis e, consequentemente, as possibilidades terapêuticas. Pesquisadores apontam ainda que fatores adicionais parecem contribuir para o resultado, entre eles a redução ou eliminação dos chamados reservatórios virais, células onde o HIV se mantém latente.
De acordo com os cientistas envolvidos no estudo, o paciente apresentava vírus íntegro no organismo antes do transplante. Após o procedimento, mesmo análises altamente sensíveis não foram capazes de identificar partículas virais replicáveis no sangue ou em tecidos, e as respostas imunológicas específicas ao HIV diminuíram ou desapareceram, sugerindo ausência de atividade viral.
Os autores ressaltam que o caso abre novas perspectivas para futuras abordagens de cura que não dependam exclusivamente de transplantes de células-tronco, embora reforcem que são necessárias pesquisas adicionais para compreender plenamente os mecanismos envolvidos.
Outros pacientes que atingiram a remissão
O histórico de remissão e cura do HIV ganhou notoriedade mundial a partir de Timothy Ray Brown, o “paciente de Berlim”, o primeiro indivíduo a eliminar o vírus após um transplante de células-tronco. Brown recebeu o diagnóstico de HIV em 1995 e, anos depois, em 2006, descobriu ter leucemia, condição que levou ao procedimento que mudou o rumo de seu tratamento.
O segundo caso confirmado foi o de Adam Castillejo, conhecido como “paciente de Londres”. Diagnosticado com linfoma de Hodgkin, ele passou por um transplante de medula em 2016 usando células de um doador portador da mutação genética que dificulta a entrada do HIV nas células.
Em 2022, dois novos relatos ampliaram o número de pacientes curados. Em fevereiro, foi anunciado o caso de uma mulher que recebeu sangue de cordão umbilical de um doador com a mutação CCR5 e células-tronco parcialmente compatíveis de um parente próximo. Meses depois, em julho, veio a público o caso do “paciente de City of Hope”, um homem de 66 anos que também optou por não divulgar a identidade.
No ano seguinte, pesquisadores do Hospital Universitário de Düsseldorf divulgaram o quinto caso de cura. O chamado “paciente de Düsseldorf”, que tratava um quadro de leucemia, recebeu células-tronco de um doador com perfil genético resistente ao HIV.
Ainda em 2023, outro avanço chamou atenção: o “paciente de Genebra”, na Suíça, alcançou remissão do vírus após um transplante de medula óssea, mesmo sem ter recebido células com a mutação CCR5 Δ32, uma diferença importante em relação aos casos anteriores, que pode ajudar a expandir o entendimento sobre os mecanismos de cura.