O Hoje, O Melhor Conteúdo Online e Impresso, Notícias, Goiânia, Goiás Brasil e do Mundo - Skip to main content

quinta-feira, 11 de dezembro de 2025
cinema brasileiro

Fernanda Torres lidera o ano cultural de 2025

Atriz se tornou o nome mais celebrado do país após prêmios internacionais, repercussão crítica e novos rumos no cinema

Luana Avelarpor Luana Avelar em 11 de dezembro de 2025
fernanda
Foto: Chris Pizzello

Havia muitas formas de contar o ano de 2025, mas poucas seriam tão precisas quanto observar a movimentação em torno do nome de Fernanda Torres. O cinema brasileiro, acostumado a atravessar oscilações de prestígio, viu a atriz ocupar um espaço improvável: o de figura mais celebrada do país em um circuito dominado por grandes estúdios, campanhas milionárias e estratégias que raramente contemplam intérpretes latino-americanas. O que se viu, no entanto, foi uma inflexão rara na lógica desse jogo. Fernanda se tornou presença constante nas mesas de votação, nos debates críticos e nos corredores da indústria internacional.

Sua indicação ao Oscar por Ainda Estou Aqui encerrou um ciclo iniciado no final de 2024, quando o longa estreou e imediatamente passou a provocar curiosidade. A interpretação da atriz no papel de Eunice Paiva condensou décadas de formação teatral, presença televisiva e experiência cinematográfica em um desempenho que chamou atenção pela contenção e pelo rigor. O Globo de Ouro de melhor atriz em drama confirmou que o movimento não era local. O Satellite Award reforçou o percurso. Em um ano em que a competição reunia nomes de forte apelo comercial, a presença de uma atriz brasileira deslocou expectativas e reabriu espaços raros para o cinema latino no debate norte-americano.

A repercussão não surgiu do acaso. Filha de Fernanda Montenegro e Fernando Torres, Fernanda carrega uma trajetória extensa, iniciada ainda adolescente no Tablado, onde aprendeu a lidar com palco, ritmo e corpo sob orientação de Maria Clara Machado. A formação precoce, que a levou a estrear em Um Tango Argentino aos 13 anos, moldou um caminho que alterna teatro de pesquisa, novelas de grande audiência e cinema de autor. Trabalhou em Rei Lear, Da Gaivota e A Casa dos Budas Ditosos, obras que exigiram fôlego e aprofundamento. Em 2004 recebeu o Prêmio Shell por sua interpretação na montagem baseada em João Ubaldo Ribeiro, um exemplo do tipo de intensidade que levaria mais tarde para o cinema.

Antes de dominar red carpets internacionais, Fernanda já tinha escrito romances, apresentado séries e roteirizado programas. Fim, lançado em 2013, seria traduzido para outros países e adaptado para o streaming uma década depois. A atriz consolidou também uma presença televisiva de alto impacto com Os Normais, Tapas e Beijos e participações em produções de grande alcance. Essa variedade de linguagens explica, em parte, a forma como se tornou compreensível para públicos diversos, mesmo quando interpretava personagens profundamente marcados pela realidade brasileira.

O cinema, porém, sempre foi o território onde suas camadas pareciam mais claras. Desde Inocência, aos 16 anos, passando por Eu Sei Que Vou Te Amar, que lhe rendeu prêmio de melhor atriz em Cannes, e por filmes como Terra Estrangeira, Casa de Areia e O Que É Isso, Companheiro?, Fernanda construiu uma filmografia que chega a 2025 com coerência rara. Ainda Estou Aqui se encaixa nessa linha sem soar repetitivo. É como se o filme tivesse encontrado a intérprete madura que seus papéis anteriores anunciavam, mas ainda não tinham alcançado totalmente.

A temporada de premiações transformou sua presença pública. A imprensa internacional destacou sua postura discreta, a preferência por roupas de linhas limpas e a recusa em aderir à lógica da autopromoção. A imagem ajudou a criar uma figura que circulava bem entre o glamour e a sobriedade, reforçando a sensação de que havia ali uma artista em pleno domínio de suas escolhas. Essa combinação abriu espaço para um convite importante: integrar o júri do Festival de Veneza, gesto que sinaliza confiança em sua capacidade de leitura estética e em sua trajetória.

O retorno ao Brasil, após meses de compromissos no exterior, não significou pausa. A atriz iniciou as gravações de Os Corretores, dirigido por Andrucha Waddington. Além de protagonista, assina o roteiro. A dupla já dividiu projetos marcantes, como Casa de Areia, e volta agora em um momento em que Fernanda domina a narrativa, não apenas a interpretação. O movimento indica uma inflexão na carreira, não como ruptura, mas como aprofundamento.

O ano de 2025 termina para Fernanda Torres como síntese de uma vida dedicada às artes, mas também como ponto de inflexão que amplia seu alcance em um mercado historicamente resistente ao talento que vem de fora dos polos anglófonos. A atriz se tornou referência de atuação, de consistência e de trajetória construída sem atalhos. O que virá depois dependerá de fatores que ultrapassam qualquer entusiasmo imediato. O certo é que, pela primeira vez em muitos anos, a discussão sobre prestígio internacional no cinema brasileiro começa com um nome capaz de atravessar fronteiras sem perder a densidade local que sempre definiu seu trabalho.

FERNANDA
Fernanda Torres em cena como Eunice Paiva no filme Ainda Estou Aqui. Foto:Divulgação

LEIA MAIS: https://ohoje.com/2025/05/26/ainda-estou-aqui-e-destaque-em-lista-do-the-new-york-times/

Siga o Canal do Jornal O Hoje e receba as principais notícias do dia direto no seu WhatsApp! Canal do Jornal O Hoje.
Tags:
Veja também