O Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, com sede em Campinas, condenou em primeira instância o influencer de medicina chinesa Peter Liu e membros de sua família por submeter uma mulher à condição análoga à escravidão durante cerca de 30 anos. A decisão reconhece a existência de jornada exaustiva, ausência de salário e restrição de direitos básicos.

Peter Liu atua nas redes sociais como divulgador de práticas da medicina chinesa e soma milhões de seguidores em plataformas digitais. Além disso, mantém uma clínica em Campinas, onde presta atendimentos relacionados à acupuntura e terapias orientais.

Segundo o processo, a vítima foi cooptada em Pernambuco no início da década de 1990 e passou a viver na residência da família. Desde então, realizava tarefas domésticas e atividades ligadas à clínica, sem remuneração formal. Ao longo de três décadas, o único dinheiro recebido consistia em valores residuais de compras feitas para os patrões.

Rotina de trabalho e condições impostas

De acordo com os autos, a mulher, atualmente com 59 anos, cumpria jornadas que chegavam a aproximadamente 15 horas diárias. A rotina começava por volta das 7h e se estendia até as 22h. Somente nesse horário era permitido que ela se alimentasse.

Além disso, há relatos de que, durante o período em que um dos filhos do casal cursava faculdade, a vítima era acordada de madrugada para preparar alimentos. Em alguns momentos, dormia em uma maca do consultório instalado na residência. Em outros, ocupava um espaço improvisado em um depósito de materiais.

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O processo também aponta que a mulher chegou a ser picada por um animal peçonhento dentro da casa. Ainda assim, não recebeu atendimento médico. Paralelamente às atividades domésticas, ela auxiliava na clínica, preparando pacientes e atuando como secretária, após receber orientações básicas sobre terapias orientais.

Condenação e valores fixados do influencer

Além de Peter Liu, foram condenados a esposa Jane Liu, os filhos Davi e Anni, pelo crime de reduzir alguém à condição análoga à escravidão. A Justiça fixou indenização de R$ 400 mil à vítima. O valor deverá ser pago de forma solidária pelos condenados.

A defesa de Peter, Jane e Davi recorreu da decisão e sustenta que não havia vínculo empregatício. Já Anni tenta ser excluída do processo. Alega que, ao tomar conhecimento da situação, passou a auxiliar a vítima, inclusive com apoio psicológico e incentivo ao convívio social.

Em nota, a defesa afirmou que o caso se trata de uma tentativa de obtenção indevida de valores. Segundo os advogados, a ação teria sido movida após negativa de repasse financeiro, versão que será analisada pelas instâncias superiores.