Alcione receberá título de Doutora Honoris Causa da Uerj
Universidade reconhece trajetória artística, social e educacional da cantora maranhense
A Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) aprovou por unanimidade a concessão do título de Doutora Honoris Causa à cantora Alcione. A decisão foi tomada pelo Conselho Universitário da instituição e reconhece não apenas a dimensão artística da intérprete, mas também sua atuação social, educacional e simbólica na cultura brasileira.
A honraria, considerada a mais alta distinção acadêmica concedida pela universidade, marca um momento histórico: apesar do amplo reconhecimento nacional e internacional de Alcione, esta será a primeira vez que uma universidade brasileira lhe concede o título.
Reconhecimento que vai além da música
No relatório que fundamenta a escolha, a Uerj destaca a consonância entre a trajetória de Alcione e os princípios que orientam a universidade pública, como a valorização da diversidade, da cultura popular e da equidade racial. A instituição ressalta ainda a importância de reconhecer mulheres negras como produtoras de conhecimento, memória e patrimônio simbólico do país.
Para a universidade, a homenagem reafirma o papel da cultura como dimensão essencial da formação cidadã e do pensamento crítico, ampliando o conceito tradicional de produção de saber acadêmico.
Da sala de aula aos palcos
Nascida em São Luís do Maranhão, em 1947, Alcione iniciou sua vida profissional no magistério. Antes de se consagrar como uma das maiores vozes da música brasileira, atuou como professora primária, incorporando música, canto e instrumentos às práticas pedagógicas — uma abordagem considerada inovadora para a época.
Em 1967, a artista mudou-se para o Rio de Janeiro, onde passou a integrar circuitos fundamentais da música popular brasileira. A capital fluminense foi decisiva para a consolidação de sua carreira e para o diálogo que Alcione estabeleceu entre tradição musical e novos públicos.
Não há um único álbum capaz de sintetizar sua trajetória. A Voz do Samba (1975) foi decisivo ao projetá-la nacionalmente com o sucesso “Não Deixe o Samba Morrer”. Já Ouro e Cobre (1984) consolidou seu lugar no panteão da música brasileira ao reunir canções como “Nem Morta” e “Você Me Vira a Cabeça”. Décadas depois, trabalhos recentes — como Alcione (2025), indicado ao Grammy Latino — evidenciam a permanência de sua relevância artística e sua capacidade de dialogar com novos tempos sem perder identidade.

Uma obra que atravessa gerações
Com mais de cinco décadas de carreira, Alcione construiu um repertório extenso e diverso. São 45 álbuns lançados, entre gravações de estúdio, registros ao vivo e compilações, transitando com naturalidade entre o samba, o bolero e a canção romântica.
Ao longo desse percurso, a cantora se firmou como uma intérprete capaz de preservar a tradição sem abrir mão da contemporaneidade, tornando-se referência para diferentes gerações de artistas e ouvintes.
Vínculo com territórios populares
A atuação de Alcione também se destaca pelo compromisso com iniciativas de impacto social. Na Mangueira, comunidade localizada nas proximidades do maior campus da Uerj, a cantora idealizou a escola de samba mirim Mangueira do Amanhã. O projeto é voltado à formação musical, à socialização e ao fortalecimento de vínculos comunitários entre crianças e adolescentes.
A iniciativa reforça a relação da artista com a educação e com a cultura como ferramentas de transformação social, aspecto central para a decisão da universidade.


Cultura negra no centro do reconhecimento
Ao conceder o título de Doutora Honoris Causa a Alcione, a Uerj reforça a centralidade da cultura negra na construção da identidade brasileira e amplia o diálogo entre universidade, arte e sociedade. A escolha também simboliza um movimento de revisão dos critérios tradicionais de reconhecimento acadêmico, valorizando trajetórias que produzem conhecimento fora dos muros institucionais.
Mais do que uma homenagem individual, o título atribuído a Alcione reafirma o papel da universidade pública na valorização da cultura popular como patrimônio vivo do país.
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