Centro-esquerda quer unir PSOL, PT, PDT e PSB, mas pode enfrentar resistências em Goiás
Partidos discutem aproximação no Estado, mas divergências, disputa por nomes e vínculos com o governo estadual tornam o acordo incerto
Bruno Goulart
A centro-esquerda começou a se movimentar em Goiás para as eleições de 2026. PT, PSOL, PDT e PSB aparecem no debate sobre a formação de uma frente comum em um cenário marcado pela polarização política nacional e pela retomada das manifestações de rua contra pautas defendidas pela direita no Congresso.
Para o deputado estadual Mauro Rubem (PT), já existe disposição de diálogo entre PT, PCdoB e PSOL. Segundo o parlamentar, o momento ainda é de construção interna, com discussão de nomes e de estratégias. “Estamos naquela fase de definição de nomes”, afirmou ao O HOJE.
Mauro Rubem ainda avalia que o ambiente político está cada vez mais dividido e que isso tende a se aprofundar até 2026. “A população é contra essa casta política cheia de privilégios. Do outro lado, na direita, há um grupo que não quer que o País avance. Os blocos políticos vão se formando e a polarização vai ser ainda maior”, disse.
O deputado cita como exemplo as manifestações ocorridas no último domingo (14), quando pessoas foram às ruas em ao menos 21 capitais contra a aprovação, na Câmara dos Deputados, do projeto que reduz as penas de condenados por tentativa de golpe de Estado. Frases como “com esse Congresso não dá” e “sem anistia para golpistas de ontem e de hoje” marcaram os protestos.
Aliança nacional da Centro-esquerda
Neste cenário, o PT defende repetir, em Goiás, uma aliança semelhante à nacional, que une PT e PSB e tem Geraldo Alckmin como vice-presidente. “É um interesse nosso repetir o PSB”, afirmou Mauro Rubem. Segundo o deputado estadual, o partido pretende apresentar uma chapa completa, com oito nomes para a disputa majoritária, que inclua governador, vice, senadores e suplentes.
Entre os nomes citados estão o ex-governador José Eliton, hoje no PSB, e o superintendente do Iphan em Goiás, Gilvane Felipe. Há também o do petista e vereador por Goiânia, professor Edward Madureira. “No PT, temos nomes fortes. Teremos uma chapa capaz de cumprir nossa missão e também apresentar nomes que precisam ser conhecidos pela sociedade”, disse o parlamentar.
Desafios para unir forças
Apesar do discurso de unidade, analista ouvido pela reportagem avalia que a aglutinação da centro-esquerda em Goiás enfrenta limites. Para o mestre em História e especialista em políticas públicas Tiago Zancopé, o cenário nacional não se reflete automaticamente no Estado. “O que acontece em Brasília nem sempre se repete aqui”, afirmou ao O HOJE.
Segundo Zancopé, PSB e PDT, em Goiás, hoje caminham mais próximos da base do governo estadual, formada por partidos como União Brasil e MDB. Esse alinhamento dificulta uma aproximação direta com o PT. “Eu não vejo como PDT e PSB vão querer compor com o PT, tendo em vista que hoje estão na base do governo”, avaliou.
Possível racha
Zancopé também aponta um possível ponto de conflito com o PSOL. Caso o nome escolhido para liderar a aliança seja José Eliton, a adesão do partido seria improvável. “O PSOL já disputou eleição contra José Eliton quando ele estava no PSDB. Se esse for o nome, pode haver um racha na esquerda”, explicou.
O PDT também aparece como um partido dividido. A legenda mantém relação tanto com o governador Ronaldo Caiado quanto com o presidente Lula. Para o analista, isso reduz o interesse em romper com o palanque local para seguir apenas a lógica nacional.
Zancopé avalia que a política goiana é fortemente influenciada por acordos regionais e interesses locais. “Aqui, a dinâmica local muitas vezes se impõe sobre a nacional.” Ainda assim, o historiador alerta para um risco estratégico: caso esses partidos fiquem fora de uma aliança vencedora, podem acabar com pouco espaço em um futuro governo.
Estratégia do PT
Enquanto as articulações seguem nos bastidores, o PT aposta em aproximar o presidente Lula das periferias. O governo federal lançou o programa Governo do Brasil na Rua, que leva serviços públicos diretamente à população. Fontes ouvidas pelo O HOJE afirmam que ações semelhantes devem ser anunciadas em Goiás nos próximos dias. (Especial para O HOJE)