União Europeia chama guerra na Ucrânia de “ameaça duradoura” para o continente
Países da União Europeia afirmam que invasão russa criou ameaça duradoura à segurança e estabilidade da região
A guerra na Ucrânia segue sem perspectiva concreta de desfecho e continua a reorganizar a segurança europeia. Nesta terça-feira (16), sinais desse impasse vieram tanto do campo militar e diplomático quanto das reações políticas dentro da União Europeia, que passaram a tratar o conflito como uma ameaça estrutural e de longo prazo à estabilidade do continente.
Em meio às negociações por um cessar-fogo, países da UE divulgaram uma declaração conjunta na qual afirmam que o ambiente de segurança no leste europeu mudou de forma irreversível desde o início da invasão russa, em 2022. O documento aponta a Rússia como a principal ameaça à paz regional e defende uma resposta imediata para reforçar as capacidades defensivas do bloco, sobretudo no flanco leste.

Assinaram o texto Suécia, Finlândia, Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia, Romênia e Bulgária. Todos compartilham fronteiras terrestres ou marítimas com a Rússia. Segundo os governos, a guerra ultrapassou o território ucraniano ao produzir efeitos diretos sobre a segurança europeia, exigindo adaptação rápida das estruturas militares e maior preparo para cenários de crise.
“A Rússia é a ameaça mais significante, direta e de longo prazo à nossa segurança e à paz e estabilidade na região Euro-Atlântica. A guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia e suas repercussões constituem uma ameaça profunda e duradoura à segurança e estabilidade europeias”, afirmam os países no comunicado divulgado após uma cúpula realizada em Helsinque.
Além dos combates em território ucraniano, o texto chama atenção para o aumento do que classifica como operações híbridas e atos de sabotagem atribuídos a Moscou.
Europa lança comissão de indenização de guerra
Enquanto cresce a percepção de ameaça entre países europeus, líderes do continente deram um passo institucional para responsabilizar Moscou pelos danos da guerra. Também nesta terça-feira, foi lançada em Haia uma Comissão Internacional de Reivindicações para a Ucrânia, destinada a organizar pedidos de compensação por prejuízos materiais e supostos crimes de guerra atribuídos às forças russas.
A reunião contou com a presença do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e ocorreu em meio a um esforço diplomático liderado pelos Estados Unidos para tentar encerrar o conflito. Zelensky afirmou que todo crime de guerra russo precisa ter consequências e disse que a responsabilização é parte central do caminho para a paz. Segundo ele, “não é suficiente fazer com que ela (Rússia) pare de matar. Precisamos fazer com que a Rússia aceite que existem regras no mundo”.

A comissão terá sede na Holanda e incorporará o Registro de Danos, que já recebeu mais de 86 mil reivindicações de indivíduos, organizações e órgãos públicos ucranianos. Apesar disso, autoridades reconhecem que não há expectativa de reparação rápida. Os mecanismos de pagamento ainda estão em discussão e incluem a possibilidade de uso de ativos russos congelados pela UE, complementados por contribuições dos países-membros.
Kremlin nega acusações e ofensiva continua
O Kremlin reagiu à iniciativa negando acusações de crimes de guerra e classificou como ilegal a proposta de usar ativos russos congelados para financiar a defesa e as necessidades orçamentárias da Ucrânia, ameaçando adotar retaliações.
No plano imediato do conflito, Moscou também demonstrou resistência à proposta ucraniana de uma trégua de Natal. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que qualquer cessar-fogo dependeria da existência de um acordo de paz mais amplo. Segundo ele, a Rússia não aceita uma pausa que sirva para dar à Ucrânia tempo para se reorganizar militarmente.