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quinta-feira, 18 de dezembro de 2025
abate bovino

Agro em Goiás cresce em 2025, mas abate recorde de fêmeas ameaça produção futura de leite e cane

Crescimento de 16,8% do PIB agropecuário em Goiás ocorre em meio a juros elevados no País, aumento das importações de leite em pó e recorde nacional no abate de fêmea

Anna Salgadopor Anna Salgado em 18 de dezembro de 2025
GOIAS
Foto: Breno Lobato/Embrapa

O ano de 2025 foi marcado por desafios significativos e, simultaneamente, por esforços de adaptação no setor agropecuário de Goiás. Em balanço divulgado pela Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), o período é classificado como de “insegurança e resiliência”. 

A entidade aponta crescimento expressivo do Produto Interno Bruto (PIB) agropecuário, mas chama atenção para o aumento do endividamento rural e para uma crise na bovinocultura que pode comprometer a produção, especialmente em razão do abate acelerado de fêmeas.

De acordo com a Faeg, o PIB agropecuário em Goiás cresceu 16,8% em 2025, enquanto o Valor Bruto da Produção (VBP) alcançou R$ 120,9 bilhões, alta de 13,6% em relação a 2024. Soja, bovinos, milho e cana-de-açúcar responderam por 74% desse total. Na agricultura, a safra de grãos registrou recorde de 37 milhões de toneladas, com aumento de 20% na produção de soja e de 12% no milho. 

Apesar do avanço em volume, a entidade ressalta que o resultado não se refletiu de forma proporcional na renda do produtor. Segundo o presidente da Faeg, José Mário Schreiner, “a cada 70 sacas, 50 foram para pagar as despesas”.

No segmento pecuário, a principal preocupação apontada pela Faeg é o recorde histórico no abate de fêmeas, observado tanto em Goiás quanto no cenário nacional. O descarte de matrizes foi impulsionado, segundo a entidade, pela elevação dos custos de manutenção do rebanho e pela demanda externa aquecida, que favorece animais mais jovens.

Crise na cadeia do leite em Goiás

Em entrevista ao O HOJE, Schreiner relacionou esse movimento à crise enfrentada pela cadeia do leite. A queda acentuada e repentina nos preços pagos ao produtor, atribuída principalmente ao aumento das importações de leite em pó, levou muitos pecuaristas a optar pelo abate de fêmeas como forma de equilibrar as contas.

“Hoje o produtor de leite, em função dos preços pagos ao produtor de leite, com a queda de preços repentina e muito grande que houve em função das importações de leite em pó, o produtor, ele se vê ali na necessidade de abater fêmeas para honrar seus compromissos”, afirmou.

O presidente da Faeg também alertou para os efeitos desse processo no médio e longo prazo. Segundo o presidente da federação, a manutenção do ritmo elevado de descarte de matrizes tende a reduzir a base produtiva. “Significa que tudo é um ciclo, significa que num futuro próximo haverá falta… Não é que haverá falta, mas haverá uma diminuição de produção e, consequentemente, aumento dos preços”, disse.

Dados nacionais reforçam esse cenário. Pela primeira vez desde 1997, o número de fêmeas abatidas superou o de machos no segundo trimestre de 2025, ao atingir 52% de participação em abril. Especialistas avaliam que a redução do plantel de vacas pode provocar escassez de bezerros e queda na oferta de carne nos próximos anos, situação semelhante à já enfrentada por países como Argentina e Estados Unidos. Projeção da Datagro indica que o volume de abates no Brasil pode recuar de 40,8 milhões de cabeças em 2025 para 37,1 milhões em 2026.

Ambiente adverso

Apesar do desempenho produtivo, o agronegócio de Goiás operou em um ambiente macroeconômico adverso ao longo de 2025. A taxa básica de juros (Selic) permaneceu em 15%, uma das mais elevadas do mundo, enquanto a inflação medida pelo IPCA ficou próxima ao teto da meta. 

Schreiner associou parte das dificuldades do setor ao contexto econômico nacional. “A política econômica adotada pelo governo federal, ela não faz com que a renda das famílias brasileiras melhore, para que ela possa, em vez de comprar 5 iogurtes, ela possa comprar 10”, declarou, ao defender que o aumento do consumo das famílias é fundamental para o dinamismo da economia.

Outro elemento de instabilidade citado foi o chamado “tarifaço” imposto pelos Estados Unidos, em vigor desde agosto de 2025, com impacto sobre produtos como carne bovina, açúcar, café e couros. 

Embora as exportações de carne bovina em Goiás para o mercado norte-americano tenham registrado aumento de 104% em volume, apesar da taxação, a expectativa inicial era de uma perda de US$ 325,6 milhões na pecuária em Goiás. O encerramento de parte das sobretaxas, em novembro de 2025, foi avaliado pela entidade como um fator de “muito alívio” para o setor.

 

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