Região Norte de Goiânia cresce em ritmo acelerado e desafia capacidade da infraestrutura urbana
Com avanço de moradias e investimentos, especialistas apontam riscos de adensamento sem planejamento adequado
A Região Norte de Goiânia atravessa um dos ciclos de crescimento urbano mais intensos de sua história recente. Durante décadas associada a áreas industriais, bairros populares e grandes vazios urbanos, a região passou a atrair novos moradores, empreendimentos residenciais e investimentos privados, assumindo papel cada vez mais relevante na expansão da capital.
A localização estratégica, que conecta corredores como a Avenida Goiás, a Bernardo Sayão, a Região da 44 e importantes rodovias, além da presença de polos estruturantes como o Passeio das Águas Shopping, colocou a Zona Norte no centro do debate sobre o futuro urbano de Goiânia. Para o setor imobiliário, esse conjunto de fatores explica o interesse crescente pela região.
Segundo o sócio da BrDU Urbanismo, Gabriel Fortes, a Zona Norte “vem ganhando protagonismo no mapa do desenvolvimento urbano de Goiânia”, reunindo “grandes obras estruturantes, novos negócios e áreas com alto potencial de valorização”, o que a torna apta a receber empreendimentos modernos. Ainda assim, o avanço levanta um questionamento central: a infraestrutura acompanha esse ritmo de crescimento?
O adensamento residencial tem sido o principal vetor da transformação. Condomínios horizontais, conjuntos habitacionais e projetos voltados à classe média e média baixa avançam sobre áreas antes pouco densas, impulsionados pela maior oferta de terrenos e valores imobiliários mais acessíveis do que em regiões já consolidadas.
O professor de Arquitetura da Universidade Federal de Goiás (UFG) observa que o perfil desse crescimento difere de bairros tradicionais como Marista ou Bueno. Segundo ele, o mercado imobiliário da Região Norte está direcionado a uma população em ascensão, favorecido pela ampliação do crédito e pelo fortalecimento de programas habitacionais como o Minha Casa Minha Vida. A maior disponibilidade de grandes terrenos, com menor fracionamento e preços mais baixos, também contribui para esse movimento.
Especialistas alertam para riscos e oportunidades da expansão na Região Norte
Do ponto de vista urbanístico, a atratividade vai além do mercado. O urbanista Fred Le Blue destaca que a proximidade com grandes indústrias e com o campus da UFG favorece tanto moradias unifamiliares quanto plurifamiliares. A região Norte é cortada por vias expressas como Goiás Norte, Perimetral e BR-153, o que garante deslocamentos mais rápidos para outras áreas da cidade, inclusive em horários de pico.
Além disso, por ser menos verticalizada e menos adensada, a Zona Norte preserva características ambientais importantes. Trata-se da região com maior metragem quadrada de áreas de preservação ambiental de Goiânia, fator que contribui para um microclima mais ameno e melhor qualidade do ar.
A consolidação de polos comerciais e de serviços também altera a dinâmica da Região Norte. A ligação com a Bernardo Sayão, a Região da 44, a Fama e a Feira Hype intensificou o fluxo diário de trabalhadores, consumidores e turistas. Para Le Blue, esse processo reforça a lógica do policentrismo urbano, em que a Região Norte passa a funcionar como uma centralidade relativamente autônoma, reduzindo a dependência de outras áreas da cidade.
Entretanto, especialistas alertam para os riscos de um crescimento que avança mais rápido do que a capacidade de resposta do poder público. Glauco Gonçalves, avalia que há um descompasso entre a velocidade da ocupação residencial e a oferta de infraestrutura urbana. Ruas, saneamento, transporte público e equipamentos sociais nem sempre acompanham a chegada de novos moradores. “O mercado imobiliário avança primeiro, enquanto o planejamento urbano vem depois, o que compromete a qualidade de vida”, pontua. Ele também chama atenção para os impactos ambientais, especialmente sobre áreas de várzea e bacias hidrográficas como as dos rios Meia Ponte e João Leite.
Apesar dos desafios, a Região Norte segue como principal fronteira de expansão residencial de Goiânia. Para o presidente da Associação de Desenvolvedores Urbanos de Goiás (ADU-GO), João Victor Araújo, a área reúne “estrutura, conectividade e espaço para projetos modernos”. Ele destaca que obras viárias, como a duplicação da GO-402 e futuras ligações com a GO-080 e a Via Parque, devem ampliar ainda mais a integração da região, consolidando-a como novo eixo de crescimento da capital.
Nesse contexto, o futuro da Região Norte dependerá do equilíbrio entre expansão e planejamento. Como resume Antenor Reis, CEO da BrDU Urbanismo, a região representa “esse equilíbrio entre conveniência e bem-estar”, mas especialistas reforçam que só haverá desenvolvimento sustentável se o crescimento residencial vier acompanhado de investimentos contínuos em mobilidade, saneamento, serviços públicos e preservação ambiental. Sem isso, a região corre o risco de repetir erros urbanos já conhecidos em outras áreas da cidade.

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