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sexta-feira, 19 de dezembro de 2025
sem indicação clínica

Entre a estética e o risco, cresce o uso off-label de canetas emagrecedoras

Pesquisa analisa efeitos sociais, estéticos e simbólicos do consumo sem indicação clínica

Luana Avelarpor Luana Avelar em 19 de dezembro de 2025
uso off-label de canetas emagrecedoras
Uso de medicamentos para emagrecimento fora da indicação médica cresce e levanta debates sobre saúde e pressão estética. Foto: iStock

Pesquisadores de diferentes países passaram a investigar o uso off-label de canetas emagrecedoras por pessoas sem indicação médica, um fenômeno que avança de forma acelerada e ultrapassa os limites do debate estritamente clínico. A análise, publicada na revista científica Obesity, reúne dados de instituições do Brasil, do Japão, da Dinamarca e dos Estados Unidos e propõe uma leitura ampliada sobre como esses medicamentos vêm reorganizando comportamentos sociais, padrões de consumo e expectativas em torno do corpo.

No Brasil, fármacos como Ozempic e Mounjaro só podem ser comercializados mediante prescrição médica e são indicados para o tratamento da obesidade ou do diabetes tipo 2, conforme normas da Anvisa. Apesar disso, relatos de uso fora das indicações clínicas se multiplicam, seja por prescrições sem respaldo técnico, seja pela aquisição em circuitos informais, incluindo farmácias e canais clandestinos.

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Foto: FreePik

Uma lacuna científica ainda aberta

A pesquisa parte da constatação de que ainda não existem dados consolidados sobre segurança e efeitos do uso off-label de canetas emagrecedoras em pessoas sem diagnóstico médico. Diante dessa lacuna, os autores adotaram uma abordagem interdisciplinar, combinando métodos da medicina, da antropologia e das ciências sociais para compreender como esses medicamentos vêm redesenhando a relação com a alimentação, a saúde e a percepção do próprio corpo.

Os dados iniciais indicam que a motivação predominante entre os usuários não está ligada à prevenção de doenças ou a melhorias metabólicas, mas à busca por um ideal de magreza associado a status, desempenho e aceitação social. O estudo interpreta esse movimento como parte de uma “economia moral do corpo”, na qual a magreza passa a operar como capital simbólico capaz de gerar reconhecimento e vantagens sociais.

Corpo, classe e desigualdade

Outro ponto central da análise é o acesso restrito aos medicamentos, marcado por altos custos. O estudo aponta que a prática tende a se concentrar em grupos com maior poder aquisitivo, criando um cenário em que corpos magros se associam à riqueza, enquanto o excesso de peso passa a ser relacionado à precariedade econômica. Nesse contexto, o corpo deixa de ser apenas um tema de saúde pública e se transforma em espaço de disputa social.

As redes sociais surgem como vetor decisivo dessa dinâmica. Plataformas como Instagram e TikTok funcionam como vitrines permanentes de corpos magros e narrativas de transformação rápida, que operam como referência para novos usuários. Ao mesmo tempo, efeitos adversos costumam ser minimizados. A pesquisa registra relatos frequentes de náuseas intensas, vômitos, fraqueza e perda de energia, com impacto direto na rotina e na capacidade de realizar atividades físicas.

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Foto: iStock

Pressão estética e julgamento moral

A análise também destaca a ambivalência social em torno do uso off-label de canetas emagrecedoras. Se, em um primeiro momento, a perda de peso gera alívio e sensação de pertencimento, logo surgem acusações de que o resultado teria sido obtido por um “atalho”, produzindo estigmatização e julgamento moral — dinâmica já observada em outros contextos de intervenções para emagrecimento.

A comparação entre países revela diferenças culturais marcantes. No Brasil, o uso se articula a padrões estéticos atravessados por raça e classe social. Nos Estados Unidos, os medicamentos são associados à autodisciplina e ao desempenho individual. No Japão, o fenômeno dialoga com políticas públicas de saúde. Já na Dinamarca, predomina uma relação de confiança nas soluções biomédicas.

Na conclusão, os pesquisadores apontam que o uso off-label de canetas emagrecedoras deixa de ser percebido como desvio e passa a ser encarado por muitos como resposta racional à pressão estética contemporânea. Permanecem em aberto, porém, questões sobre impactos psicológicos, relação com a comida, autoestima e possível dependência emocional. Para os autores, a adesão crescente configura um experimento social em curso, cujos custos humanos ainda não foram plenamente dimensionados.

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Foto: iStock

LEIA MAIS: https://ohoje.com/2025/11/21/canetas-emagrecedoras-irregulares/

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