Putin acusa UE de “roubo” e endurece tom sobre guerra na Ucrânia
Em coletiva anual, líder russo manteve exigências da guerra, criticou a UE e condicionou a paz a garantias anteriores
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou nesta sexta-feira (19) que não fará concessões adicionais para encerrar a guerra na Ucrânia, acusou a União Europeia de promover um “roubo à luz do dia” ao discutir o uso de ativos russos congelados e voltou a dizer que Moscou só aceitará um acordo de paz nos termos já apresentados pelo Kremlin. As declarações foram dadas na abertura de sua conferência anual de fim de ano, em Moscou.
Putin disse não enxergar prontidão do lado ucraniano para um acordo imediato, embora tenha mencionado “certos sinais” de disposição ao diálogo. Segundo ele, a Rússia está pronta para encerrar o conflito de forma pacífica, desde que sejam respeitados os princípios apresentados em discurso no Ministério das Relações Exteriores, em junho do ano passado, quando condicionou o fim da guerra à neutralidade da Ucrânia e à retirada das forças de Kiev de quatro regiões reivindicadas por Moscou.
A Ucrânia rejeita essas exigências e se recusa a abrir mão de áreas que as tropas russas não conseguiram ocupar desde o início da invasão, em fevereiro de 2022. O presidente russo afirmou que, sem garantias de segurança, a Rússia continuará buscando seus objetivos pela via militar.
Putin chama plano europeu com ativos russos de “roubo à luz do dia”
O russo comentou ainda a decisão tomada horas antes por líderes da UE, que deixaram de lado o plano para usar ativos russos congelados como garantia direta de um empréstimo à Ucrânia. O bloco optou por contrair empréstimos para financiar a defesa de Kiev pelos próximos dois anos, mas manteve a possibilidade de recorrer aos ativos russos caso Moscou não pague reparações de guerra.
Segundo Putin, o recuo europeu ocorreu por temor das consequências econômicas e jurídicas da medida. “Não é apenas um golpe na imagem deles, é um enfraquecimento da confiança na zona do euro”, afirmou, classificando a iniciativa como um “roubo à luz do dia”.
Segundo o líder, a simples discussão sobre o confisco de ativos ameaça o status da UE como um local seguro para reservas internacionais, inclusive de países produtores de petróleo que mantêm ouro e moeda estrangeira no continente.
O presidente francês Emmanuel Macron também na sexta-feira, já havia classificado a decisão da UE sobre os ativos russos como uma ruptura com o passado e disse considerar útil retomar o diálogo com Putin. “Temos interesse em encontrar a estrutura adequada para retomar essa discussão”, declarou.

Rússia não pretende atacar Europa se “tratada com respeito”
No campo militar, Putin afirmou que a Rússia não pretende atacar outros países nem a Otan, desde que seja “tratada com respeito”. Ele não detalhou o que considera respeito, mas voltou a acusar a aliança militar de desrespeitar compromissos ao se expandir em direção às fronteiras russas. “Não haverá operações se vocês nos tratarem com respeito, se observarem nossos interesses, assim como nós constantemente tentamos observar os seus”, afirmou.
A Otan avalia que a Rússia pode tentar atacar um país-membro até 2030, e líderes europeus classificaram, essa semana, Moscou como a principal ameaça de longo prazo ao continente. Putin reagiu a essas afirmações, chamando-as de “histeria” e declarações inflamatórias.

Questionado sobre o futuro das relações com o Ocidente, Putin disse querer trabalhar com a Europa, o Reino Unido e os Estados Unidos em condições de igualdade. Em resposta à BBC, afirmou que o futuro europeu deveria ser “com a Rússia” e citou o ex-chanceler alemão Helmut Kohl, defendendo uma integração que, segundo ele, beneficiaria ambos os lados. “Se finalmente chegarmos a esse ponto, todos sairão ganhando”, afirmou.