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sábado, 20 de dezembro de 2025
Análise

Caiado aposta em Daniel, mas transferência de votos não é automática, avaliam especialistas

Com aprovação de 80%, governador tenta colar a própria imagem à do vice, de olho na sucessão em 2026; analistas alertam, porém, que candidatura precisará de identidade própria para vencer

Bruno Goulartpor Bruno Goulart em 20 de dezembro de 2025
Caiado aposta em Daniel, mas transferência de votos não é automática, avaliam especialistas
Governador vai tentar fazer a aprovação de 80% se transformar em votos para Daniel em 2026. Foto Jota Eurípedes e Junior Guimarães

Bruno Goulart

O Governo de Goiás intensifica, a partir de agora, uma estratégia política bem definida: associar ainda mais a imagem do vice-governador Daniel Vilela (MDB) à do governador Ronaldo Caiado (UB), hoje um dos gestores mais bem avaliados do País. Pela terceira vez consecutiva, Caiado lidera o ranking nacional de aprovação entre governadores, com cerca de 80% de avaliação positiva. O movimento, no entanto, levanta uma pergunta central para o cenário eleitoral de 2026: essa associação resolve? Haverá transferência automática de votos do governador para seu sucessor?

De acordo com analistas ouvidos pelo O HOJE, a resposta passa longe de ser simples. A avaliação é de que a popularidade de Caiado cria um ambiente extremamente favorável, mas não garante, por si só, a vitória de Daniel Vilela. Antes de tudo, será preciso compreender o contexto político em que essa estratégia será aplicada.

Segundo o estrategista político Marcos Marinho, o fator decisivo é o futuro de Caiado no tabuleiro eleitoral. “São duas situações: se o Caiado for sair para fazer campanha presidencial, o contexto do Daniel muda totalmente, porque ele não terá o Caiado presencialmente nos palanques na maior parte do tempo”, analisa. Nesse cenário, o vice precisaria se sustentar politicamente quase sozinho, o que impactaria alianças, negociações e a própria construção de sua imagem.

Por outro lado, caso Caiado permaneça em Goiás, seja na disputa ao Senado ou até mesmo em eventual desistência da pré-candidatura nacional, a dinâmica muda. “Aí ele estará o tempo todo aqui e sairá com o Daniel a tiracolo”, afirma Marinho. Ainda assim, o estrategista faz um alerta direto: viver apenas “à sombra de Caiado” pode ser um limite eleitoral. Para Marinho, Daniel precisa criar identidade própria e dialogar com setores do eleitorado que não são, necessariamente, caiadistas.

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Nesse sentido, Marinho observa que os adversários devem explorar justamente esse ponto. “Marconi Perillo vai apresentar outro modelo de governança, o Wilder Morais a mesma coisa, dizendo que vai manter o que funciona e mudar o que não funciona”, diz. Assim, Daniel terá que responder: o que ele acrescenta a um governo que já é bem avaliado? “Não adianta ficar só no bolso do colete do Caiado. Ele tem que criar envergadura própria”, resume.

Espaço aberto para Daniel

Na mesma linha, o sociólogo e pesquisador Jones Matos destaca que o governador já tem, ao longo de 2025, aberto espaço para Daniel em eventos públicos e inaugurações. “É rara uma aparição do Caiado em que o Daniel não esteja em destaque”, observa. Ainda assim, Matos reconhece que a força política e o carisma do governador acabam por ofuscar qualquer tentativa de protagonismo do vice.

O sociólogo avalia que a associação tende a se intensificar caso Caiado renuncie ao governo em abril de 2026 para disputar a presidência ou o Senado. “Associar a imagem de bom gestor e de alta popularidade ao vice é um desafio enorme”, afirma. Para Matos, não existe garantia de aceitação popular. “Pode acontecer o contrário: a população pode entender que é necessária a alternância de poder”, alerta, ao ressaltar que, nesse caso, nem mesmo a popularidade de Caiado seria suficiente para definir o resultado.

Decisão multifatorial

Já o cientista político e professor da Faculdade de Direito da UFG, Francisco Tavares, faz uma ponderação conceitual importante. Segundo Tavares, não se trata exatamente de transferência de votos. “A decisão de voto é sempre multifatorial”, explica, ao citar ideologia, campanhas, alinhamentos partidários e conjuntura política. No entanto, o professor da UFG destaca que a avaliação de governo é o fator mais relevante. “Gestões bem avaliadas reúnem condições muitíssimo favoráveis para eleger candidaturas que apoiam”, observa Tavares. (Especial para O HOJE)

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