Crise no Caribe coloca EUA e Venezuela em confronto na ONU
Sessão expõe tensão entre EUA e Venezuela, com sanções, bloqueio naval, riscos regionais e críticas internacionais
A reunião do Conselho de Segurança da ONU desta terça-feira (23) escancarou a escalada de tensões entre Estados Unidos e Venezuela, com acusações cruzadas, críticas de potências globais e alertas sobre riscos à estabilidade regional. No centro do debate estiveram as recentes interceptações de petroleiros venezuelanos no Caribe, o bloqueio naval anunciado pelos EUA as consequências diplomáticas e jurídicas dessas ações.
Ao justificar a ofensiva, os EUA informaram ao Conselho que irão impor e fazer cumprir sanções contra a Venezuela e contra o presidente Nicolás Maduro na máxima extensão permitida. O embaixador norte-americano na ONU, Mike Waltz, afirmou que o objetivo é impedir que o governo venezuelano continue obtendo receitas do petróleo, que, segundo Washington, sustentariam a permanência fraudulenta de Maduro no poder e atividades ligadas ao narcotráfico. Ele declarou que “os Estados Unidos farão tudo o que estiver ao seu alcance para proteger o hemisfério, suas fronteiras e o povo americano”.

Rússia e China se colocam contra EUA
A posição norte-americana foi duramente contestada por Rússia e China. Moscou classificou a pressão econômica e militar como uma agressão flagrante e acusou Washington de violar normas fundamentais do direito internacional. O embaixador russo, Vassily Nebenzia, disse que “a responsabilidade dos Estados Unidos se evidencia nas consequências catastróficas desse comportamento de caubói”. Pequim, por sua vez, afirmou que se opõe a atos de unilateralismo e intimidação e declarou apoio aos países que defendem sua soberania e dignidade nacional.

Ainda, o Brasil também adotou uma postura crítica às ações norte-americanas. O embaixador Sérgio Danese afirmou que “o bloqueio naval e a presença militar dos Estados Unidos nas proximidades da Venezuela violam a Carta das Nações Unidas e devem ser cessados imediatamente”. Ele defendeu o uso de instrumentos políticos e jurídicos e convidou os dois países a um diálogo genuíno de boa-fé, alertando que um conflito na região pode ter repercussões globais.
Venezuela chama ações do EUA de “extorsão”
Foi nesse cenário que a Venezuela formalizou sua denúncia. O embaixador Samuel Moncada acusou os EUA de submeterem o país à maior “extorsão” de sua história. Segundo ele, “a estratégia americana busca forçar os venezuelanos a abandonar seu território e entregar o país”, em afronta direta ao direito internacional. Caracas classificou as interceptações de navios como atos de pirataria e afirmou que “essas ações não ficarão impunes”.
As queixas venezuelanas se intensificaram após duas apreensões de petroleiros neste mês. A primeira ocorreu no dia 10 e a segunda no dia 20, dias depois de o presidente Donald Trump anunciar um bloqueio total a embarcações que deixassem portos venezuelanos.

Em resposta direta, a Assembleia Nacional da Venezuela aprovou por unanimidade um projeto de lei que prevê penas de até 20 anos de prisão para quem promover ou financiar pirataria, bloqueios ou outros atos ilícitos internacionais. O texto, aprovado pelo Parlamento controlado pelo governo, será encaminhado ao Executivo e entra em vigor após publicação no Diário Oficial.
O debate também teve reflexos internos na política venezuelana. O presidente da Assembleia, Jorge Rodríguez, acusou setores da oposição, incluindo María Corina Machado, de apoiar as ações do governo Trump e de promover sanções contra o país. Ele afirmou que “esses grupos estariam alinhados ao imperialismo americano” e satisfeitos com as operações em curso no Caribe.