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sexta-feira, 26 de dezembro de 2025
referência do candomblé

Filha de Mãe Menininha, Mãe Carmen morre aos 75 anos

Mentora espiritual liderou o Terreiro do Gantois e recebeu homenagens de nomes da cultura brasileira

Luana Avelarpor Luana Avelar em 26 de dezembro de 2025
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Foto: Divulgação

A iyálorixá Mãe Carmen de Osagyían morreu nesta sexta-feira (26), em Salvador. A informação foi divulgada pela página oficial do Terreiro do Gantois, uma das casas de candomblé mais antigas e influentes do país, da qual ela era dirigente. O falecimento ocorreu em uma sexta-feira, dia dedicado a Oxalá, orixá ao qual sua trajetória religiosa esteve diretamente ligada. A causa da morte não foi informada.

Mãe Carmen era a sexta iyálorixá a ocupar o posto máximo do Ilê Iyá Omi Axé Iyamasé, nome formal do Gantois. Filha de Mãe Menininha do Gantois, figura central da consolidação pública do candomblé na Bahia ao longo do século 20, assumiu a condução da casa e permaneceu no cargo por 23 anos. Iniciada ainda na infância, formou-se dentro da lógica tradicional de transmissão de saberes, em um processo contínuo de aprendizado ritual e responsabilidade comunitária.

À frente do Gantois, Mãe Carmen manteve a casa aberta à vida pública, ao diálogo institucional e à defesa das religiões de matriz africana diante do avanço do racismo religioso. Seu papel a colocou como referência espiritual procurada por artistas, intelectuais e lideranças políticas. Ela deixa duas filhas, três netos e quatro bisnetos, que participaram da rotina e da preservação da memória da casa.

A morte provocou ampla repercussão entre artistas e instituições ligadas à cultura e à religiosidade afro-brasileira. Maria Bethânia publicou: “Profunda reverência”. A cantora compartilhou uma imagem da iyálorixá projetada no telão de um show realizado com o irmão, Caetano Veloso. Bethânia mantém vínculo histórico com o Gantois e foi iniciada no candomblé por Mãe Menininha, mãe de Mãe Carmen, em 1981.

Mãe Carmen
Foto: Redes sociais

Regina Casé, amiga pessoal da sacerdotisa, escreveu: “Como vai ser chegar na Bahia e não correr pra esse colo… Que vida longa, que vida linda, que vida plena! Meu coração dói, mas minha alma exulta de gratidão por ter tido a bênção de conviver tantos e tantos anos com esta mulher maravilhosa!”. Ivete Sangalo publicou uma foto da iyálorixá e escreveu que ela era “uma mulher admirável, do amor, da força, de uma energia extraordinária de paz”. Em seguida, afirmou que “sua luz permanecerá viva” e desejou que ela “siga em paz”.

Mãe Carmen
Foto: Instagram

Gilberto Gil escreveu: “Mãe Carmen, filha mais nova de Mãe Menininha do terreiro do Gantois, partiu hoje deixando muitas saudades. Descanse em paz! Que Obatalá nos proteja. Axé”. Daniela Mercury afirmou que a iyálorixá “se foi deixando um legado de amor, beleza, força, resistência e acolhimento” e acrescentou: “Mãe Carmen cuidou dos orixás e das filhas e filhos de santo com a força de uma filha de Oxaguiã. Sempre lutou contra o racismo religioso ao longo de todos esses anos”.

Mãe Carmen
Foto: Instagram

A ministra da Cultura, Margareth Menezes, escreveu que teve o privilégio de conhecê-la como autoridade espiritual e também como “uma grande mulher de fé, que cultivou amor, acolhimento e a força de quem lidera pelo exemplo”. O Olodum publicou uma nota de solidariedade afirmando: “Que os ancestrais a recebam em luz”. O Cortejo Afro declarou que “sua partida representa uma perda irreparável, mas seu legado de respeito, sabedoria e contribuição social permanecerá vivo na história e na ancestralidade”.

Mãe Carmen
Foto: Instagram

Alcione escreveu que foi “uma grande honra” ter conhecido Mãe Carmen. Carlinhos Brown afirmou que ela trouxe “as transparências necessárias e os dizeres oportunos” e que compreende sua passagem como “encantamento”. Caetano Veloso recordou sua convivência com a sacerdotisa e escreveu: “Clareza, elegância, sensatez e equilíbrio me encantavam. Agora soube que ela foi para o Orum. Celebro sua elegância. E choro de saudade”.

Mãe Carmen
Foto: Instagram

A jornalista Maíra Azevedo, conhecida como Tia Má, destacou o simbolismo da data da morte: “Ela se despede como viveu: alinhada com o sagrado, no dia certo, no tempo certo. Fica o legado. Fica o ensinamento. Axé não se encerra com a morte. O amor que nos une é eterno!”. O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania afirmou, em nota, que Mãe Carmen “deu continuidade a uma linhagem histórica de mulheres que transformaram o terreiro em espaço de fé, resistência, acolhimento e afirmação da cultura negra”. O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, escreveu que sua condução do Gantois “representa um pilar para o fortalecimento das religiosidades de matriz africana”. O prefeito de Salvador, Bruno Reis, afirmou que ela “seguirá como luz a guiar caminhos e fortalecer nossa cidade”.

A morte de Mãe Carmen encerra sua atuação direta à frente do Terreiro do Gantois, mas não interrompe o funcionamento da casa nem o sistema simbólico que ela ajudou a sustentar. Para a comunidade do axé, a continuidade se dá no rito, na memória e na transmissão — elementos que, segundo a própria lógica do candomblé, não se rompem com a morte.

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