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segunda-feira, 29 de dezembro de 2025
Pesquisa

Eleitor de esquerda pode apoiar Bolsonaro ou de direita votar no Lula

Levantamento mostrou que 14% de bolsonaristas se dizem à esquerda e 34% de petistas à direita; cientista político alerta para abstração dos conceitos ideológicos e facilidade de identificação com lideranças políticas

Thiago Borgespor Thiago Borges em 29 de dezembro de 2025
Eleitor de esquerda pode apoiar Bolsonaro ou de direita votar no Lula
Números chamam atenção por contrariarem a polarização que marcou o debate político nos últimos anos | Foto: Renato Pizzuto_Band

A pesquisa Datafolha divulgada na última semana revelou que 14% dos eleitores que se dizem bolsonaristas afirmam ser de esquerda, enquanto 34% dos petistas se identificam como de direita. Os números chamam atenção por contrariarem a polarização que marcou o debate político nos últimos anos, sobretudo após as eleições presidenciais de 2018 e 2022.

De acordo com o levantamento, parte significativa do eleitorado apoia lideranças associadas a determinados campos políticos e, ao mesmo tempo, se identifica ideologicamente de forma oposta. A pesquisa ouviu 2.002 eleitores de 113 municípios brasileiros entre os dias 2 e 4 de dezembro e possui margem de erro de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos.

Para o cientista político Pedro Pietrafesa, o fenômeno de se posicionar a favor de um grupo político contrário à sua posição ideológica está ligado à própria dificuldade de compreensão dos conceitos de direita e esquerda por parte da população.

“Sim, os eleitores são complexos e essa questão de ser de direita e de esquerda não necessariamente é muito clara para uma boa parte da população, não só no Brasil, mas mundo afora. São conceitos que são bastante abstratos. Para algumas pessoas, é mais fácil se identificar com lideranças políticas”, afirmou o cientista à reportagem do O HOJE.

Segundo Pietrafesa, essa abstração faz com que muitos eleitores estabeleçam sua posição política a partir de figuras públicas, e não de ideologias. “Por isso que às vezes se identificam mais com Lula ou com Bolsonaro. Apesar de se dizerem de direita, eles se identificam com Lula, e os que se dizem de esquerda se identificam com Bolsonaro”, explicou.

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Comportamento recorrente

Nesse contexto, os dados apontados pelo Datafolha deixam de ser uma anomalia estatística e passam a refletir um comportamento recorrente do eleitorado. “Como essas identificações ideológicas são conceitos abstratos, isso nos permite encontrar esses dados que, a princípio, são estranhos, como de 34% dos petistas considerados de direita e 14% dos bolsonaristas de esquerda”, ressaltou Pietrafesa.

Para o cientista político, o ponto central é que a identidade ideológica não está claramente definida para grande parte da população. Peitrafesa destaca que, para muitas pessoas, é “difícil” estabelecer quais são as características e os componentes que constituem cada um dos conceitos de direita e de esquerda. 

“O eleitor pode associar o PT às políticas de inclusão implementadas durante os governos do presidente Lula, independentemente de ser ou não beneficiário direto de programas sociais. Ao mesmo tempo, essas pessoas podem defender valores tradicionalmente associados à direita, como menor atuação do Estado na economia, livre iniciativa ou posições conservadoras nos costumes”, afirmou. 

“Eleitor é um ator complexo”

Pietrafesa reforça que o eleitor não pode ser compreendido de forma simplificada. Além disso, o cientista político argumenta que a aparente contradição apontada pela pesquisa não se mantém quando observada sob a ótica do eleitorado.

“Para eles, é extremamente factível dizer que são de direita e possuir uma identificação com o PT. Na cabeça desses eleitores, isso não é um paradoxo, não é incoerência. O eleitor é um ator complexo. Ele pode afirmar que possui uma determinada identidade ideológica e ter simpatia por um partido ou por um grupo político contrário”, conclui.

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