Praia interditada por tubarões revela dados inéditos no Brasil
Pesquisas com telemetria e drones detalham uso da Baía do Sueste e embasam restrições ambientais por tubarões
A Baía do Sueste, em Fernando de Noronha, permanece fechada ao turismo desde 2022. A decisão tem respaldo em dados científicos recentes. Pesquisas divulgadas em dezembro de 2025 apontam resultados atualizados do monitoramento de tubarões na área. As informações conectam ciência, gestão ambiental e prevenção de riscos. Além disso, reforçam a importância da conservação de espécies ameaçadas no litoral brasileiro.
Entre julho de 2024 e dezembro de 2025, um receptor acústico instalado no Sueste registrou 16.120 detecções de tubarões marcados com transmissores. O equipamento identifica a passagem dos animais sem contato direto. Assim, os pesquisadores acompanham padrões de presença, permanência e retorno ao longo do tempo. Ou seja, o método amplia o entendimento sobre o uso de áreas costeiras sensíveis do arquipélago.
Monitoramento acústico e padrões de circulação
O sistema identificou um tubarão-limão e sete tubarões-tigres previamente marcados. Alguns indivíduos apareceram com maior frequência. Isso indicou padrões específicos de uso da baía. Segundo os dados, duas fêmeas de tubarão-tigre concentraram o maior número de registros. Uma delas somou 7.353 detecções. A outra acumulou 3.686 registros em cerca de um ano e meio de acompanhamento contínuo.

Além disso, a pesquisa integra uma rede científica mais ampla. O monitoramento ocorre em parceria com instituições de ensino e pesquisadores de outros estados. Até o momento, 62 tubarões receberam transmissores acústicos em Fernando de Noronha. Desse total, 48 são tubarões-tigres. Os demais incluem tubarões-bico-fino, lixas, martelos e limão. Dessa forma, os dados permitem uma análise mais abrangente da diversidade e do comportamento das espécies.
Os procedimentos de marcação seguem protocolos rápidos. Os pesquisadores realizam exames e instalam os transmissores em poucos minutos. Em seguida, devolvem os animais ao mar. O objetivo é reduzir o impacto da intervenção e garantir a continuidade do monitoramento.
Incidentes, uso da área e decisões de gestão
A atenção sobre a Baía do Sueste aumentou após dois incidentes graves registrados em 2015 e 2022. Ambos foram atribuídos a tubarões-tigres. Após as ocorrências, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade proibiu o banho e o mergulho na área. A restrição permanece em vigor. Desde então, os dados coletados passaram a subsidiar decisões de manejo ambiental.
Comparações com outros pontos da ilha indicam que o Sueste não concentra o maior número de registros de tubarões-tigres. Receptores instalados em áreas como Laje Dois Irmãos, Praia do Leão e Baía dos Golfinhos apresentaram detecções mais elevadas. Apenas na Laje Dois Irmãos, 37 tubarões geraram mais de 30 mil registros em um único ano. Ainda assim, o Sueste se mantém relevante por seu uso específico pelos animais.

Além da telemetria acústica, drones auxiliam o monitoramento. As imagens mostram que os tubarões-tigres utilizam a baía principalmente para caça, especialmente de tartarugas. Assim, o local funciona como área de predação. Esse comportamento explica a presença pontual dos animais e reforça a manutenção das restrições ao uso humano.
Segundo os pesquisadores, o risco ao banhista aumenta em áreas onde os tubarões estão em atividade de caça. No entanto, os estudos reforçam que seres humanos não fazem parte da dieta dos animais. A baixa frequência de incidentes sustenta essa conclusão. Ainda assim, a prevenção orienta as decisões adotadas em Noronha.
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O trabalho científico também integra uma agenda mais ampla de conservação no país. Projetos semelhantes monitoram espécies ameaçadas em outros biomas, como o tamanduá-bandeira no Pantanal. Nesses casos, a radiotelemetria acompanha deslocamentos e subsidia políticas de proteção.
Em Fernando de Noronha, a combinação de dados acústicos, drones e análises comparativas sustenta um modelo de gestão baseado em evidências. Assim, ciência e prevenção orientam a proteção humana e a preservação ambiental. Esse equilíbrio define os rumos do manejo em áreas sensíveis do arquipélago e reforça o papel da pesquisa científica na formulação de políticas públicas.