Endividamento expõe desigualdade racial no início do ano no Brasil
Endividamento e desigualdade se encontram em janeiro
O calendário avança, mas as contas permanecem. Para milhões de brasileiros negros, o início do ano não simboliza recomeço financeiro, mas a intensificação de um processo recorrente de endividamento, alimentado por renda insuficiente, crédito caro e desigualdade estrutural. Janeiro concentra cobranças que não podem ser adiadas e torna visível um problema que atravessa o ano inteiro.
Dados da Serasa mostram que o Brasil encerra o ano com mais de 72 milhões de pessoas inadimplentes, número que tende a crescer nos primeiros meses do ano. O valor médio das dívidas supera 4,5 mil reais, concentradas principalmente em cartão de crédito, contas básicas e empréstimos pessoais. O crescimento da inadimplência no primeiro trimestre não é episódico: reflete um modelo econômico que empurra famílias para o uso contínuo do crédito.
Endividamento atinge mais quem ganha menos
A distribuição desse impacto é desigual. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica (IBGE), pessoas negras apresentam rendimento médio inferior ao de pessoas brancas e maior exposição ao trabalho informal e à instabilidade de renda. Isso reduz a capacidade de absorver gastos sazonais e torna o endividamento uma resposta quase automática às despesas concentradas no fim e no início do ano.
Em dezembro, despesas com alimentação, transporte e apoio familiar pressionam o orçamento. Em janeiro, entram impostos como IPVA e IPTU, matrícula e material escolar, além de reajustes em serviços essenciais. Sem margem financeira, o crédito passa a cobrir gastos básicos, não investimentos ou consumo planejado.
Leia também: https://ohoje.com/2025/12/23/aumento-no-iptu-pode-impactar-arrecadacao/
Crédito caro transforma dívidas em ciclo permanente
O problema se agrava pelo custo do crédito. Dados do Banco Central indicam que, em 2024, os juros do cartão de crédito rotativo ultrapassaram 430% ao ano, enquanto o cheque especial permaneceu acima de 130%. Para famílias de baixa renda, majoritariamente negras, essas são as modalidades mais acessíveis, aprofundando o endividamento de curto prazo em compromissos duradouros.
Levantamentos do SPC Brasil mostram que essas famílias comprometem parcela maior da renda com dívidas e têm menos acesso a renegociações vantajosas. O resultado é um ciclo no qual o endividamento deixa de ser exceção e se consolida como mecanismo de sobrevivência.
Quando janeiro revela o que o ano esconde
Mais de 77% das famílias brasileiras estão endividadas, segundo o Banco Central. O dado agregado, porém, oculta desigualdades. Para brasileiros negros, o endividamento recorrente não nasce em janeiro. Ele apenas se torna mais visível quando o ano começa, expondo um sistema que transfere riscos às famílias e lucra com a urgência de quem já vive sob pressão econômica.
O início do ano não cria a crise. Apenas revela, mais uma vez, um modelo que insiste em se repetir.
consumo de informação
reposicionamento pessoal
Estética e saúde
O Mundo “Direito”
LUTO NO JORNALISMO
APÓS 11 MESES
DESPEDIDA
ASTROS