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sábado, 23 de novembro de 2024
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Arte que Denuncia

Artista plástica conta como usou pintura para revelar violência sexual

Por meio das artes plásticas, a Mirian conscientiza a sociedade e encoraja as vítimas de violência sexual a denunciarem, além de procurarem apoio psicológico e terapêutico

Postado em 11 de janeiro de 2024 por Ronilma Pinheiro
Há 30 anos que a artista plástica

“Sou filha adotiva e aos oito anos de idade fui abusada sexualmente por um membro da família. Quando contei para minha mãe ela não acreditou em mim. Guardei mágoa dela por quase 23 anos.” Esse é o relato da artista plástica, artesã e escritora Mirian Arceno Rocha, idealizadora do Projeto social Arte que Denuncia, Combate e Previne.

Após passar pelo pior momento de sua vida e contar para mãe, que não lhe deu crédito, a menina de Camboriú (SC) guardou para si o segredo que passou  a atormentá-la todos os dias. Além de lhe causar, traumas, dor e sofrimento. O tempo passou e Mirian conheceu o atual marido Oziel Rocha, que também havia sido vítima de violência sexual aos 11 anos de idade. Mas os dois, por muito tempo, não compartilharam suas dores um com o outro. “Durante anos escondemos esse segredo que nos causou tantos traumas emocionais”, conta a artista que, inclusive, está prestes a lançar um livro sobre o assunto. 

A liberdade veio após sessões de terapias, segundo Mirian. “Ao falarmos sobre isso em terapias descobrimos a liberdade das nossas emoções”, comemora. “Hoje, por meio da arte de pintar e com palestras de prevenção em escolas,  somos voz daqueles que não conseguem falar”, afirma.

Oziel Rocha, conta que demorou quase 40 anos para relatar o caso de abuso que sofreu na pré-adolescência. Ele contou pela primeira vez durante uma sessão de terapia, onde recebeu a cura das suas emoções e dos traumas causados pela violência. Antes de compartilhar a sua história, Oziel era uma pessoa fechada, tímida, que jamais falaria sobre o caso com qualquer pessoa. “O falar da situação traz muita cura pra gente. A minha história pode encorajar mais meninos a falarem sobre o assunto e a trazer a tona esse tipo de situação”, explica.

Há 30 anos que Miriam se dedica à arte da pintura, mas foi em 2019 que veio a inspiração para fazer o projeto. “Ele nasceu em 2019 com base na minha própria história e nos relatos de outras vítimas. Pintei a história de meu marido que também sofreu violência sexual aos 11 anos de idade por um homem de idade amigo da família”, narra.

Tanto ela quanto o marido, trabalharam durante oito anos ouvindo relatos de vítimas de abusos e violência doméstica, e isso serviu de inspiração durante o processo de pintura poética. “Os relatos me inspiraram a produzir as telas.  Para encorajar as vítimas a falarem sobre o assunto tanto no sentido de denunciar o agressor quanto para ajudar em seu processo de cura”, comenta.  

Por meio das artes plásticas, a autora busca sensibilizar e conscientizar o público sobre  o abuso sexual que, infelizmente, pode acontecer em qualquer casa, independente de posição social. As telas da exposição são uma representação real de relatos de vítimas de casos de abusos sexual e doméstico, além da dramatização dos crimes sofridos pela própria artista e seu marido durante a infância.  

Além de conscientizar a sociedade, o projeto busca encorajar as vítimas a denunciar tais abusos e procurar apoio psicológico e terapêutico, usando a arte como instrumento de cura. 

Mírian ressalta que que o processo de recuperação do ser humano começa quando ele consegue expor toda a dor sofrida no ato dos abusos para outras pessoas. Ela e o próprio marido só contaram um ao outro sobre os abusos depois de anos de casamento. Hoje, além da exposição, eles fazem palestras de sensibilização Brasil afora. 

“A  exposição é itinerante, as pessoas passam por ali e recebem a informação, o que desperta gatilhos”, conta a artista ao dizer que a exposição não tem fins lucrativos e que os quadros não são comercializados. “Já recebi inúmeros testemunhos de pessoas, como de uma senhora que, aos 60 anos, nunca havia falado sobre o abuso que sofrera, e se sentiu impulsionada a falar pela primeira vez sobre o assunto. É libertador. A arte tem o poder de comunicar sem palavras”, reflete.

Exposição no Aparecida Shopping

O projeto, que já percorreu diversas cidades brasileiras e países da América Latina, incluindo a Argentina, chegou em Aparecida de Goiânia. Desde a tarde desta quarta-feira (10) que os visitantes do Aparecida Shopping podem apreciar a exposição itinerante “Arte que Denuncia, Combate e Previne”, que exibe relatos de abusos sexuais a meninos e meninas.

Para Miriam, a arte como instrumento de comunicação, denúncia e cura. A partir desse pensamento, a artista plástica traz para Aparecida de Goiânia uma exposição impactante composta por 14 obras em óleo sobre tela. A mostra de caráter inédito em Goiás integra a programação do Festival Rhema, de arte cristã. A exposição fica aberta ao público no shopping até o dia 13 de janeiro.

O Rhema 2024 levou mais arte ao Aparecida Shopping. Além da exposição, o evento contou com  cerca de 20 apresentações artísticas performadas por cerca de 150 artistas de todo País. Números  circenses, danças e peças teatrais vão encantar o público. Toda exibição aconteceu de forma gratuita. 

Desde o dia 8 de janeiro que ocorre o festival, que segue até 13 deste mês, no auditório da Igreja Luz para os Povos, no Parque Amazônia, em Goiânia. Com a participação de artistas cristãos de do o País, durante o dia, centenas de bailarinos, atores e artistas de diversos segmentos se reúnem para aprimorar talentos através das mais de 40 oficinas, que vão desde montagem de coreografia, jazz, moderno, danças urbanas, circo, teatro, roteiro teatral, cinema, artes plásticas, preparação física para bailarinos, dentre outros. De noite, acontecem apresentações gratuitas a partir de 19h.

A Companhia Rhema que nasceu em Goiânia já possui 31 anos de existência e vem desenvolvendo ações artísticas de cunho cristão em igrejas, casas de ressocialização e diferentes ONGs. Seu propósito é utilizar as diversas formas de arte como ferramenta de conscientização e valorização da vida humana.

A Rhema já realizou apresentações em mais de 16 países e percorreu todo o território nacional visitando os mais longínquos vilarejos e tribos indígenas.

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