Um novo estudo conduzido pela ACE Ventures em colaboração com o Sebrae, intitulado Founders Overview 2024, revelou que mais da metade das startups brasileiras tem um foco predominante no mercado B2B (Business to Business). Segundo a pesquisa, 54% das startups inovadoras no Brasil operam voltadas para empresas, refletindo uma maturidade crescente dos empreendedores locais em identificar e atender às necessidades corporativas.

O relatório detalha que as startups brasileiras tendem a adotar o modelo de negócios baseado em serviços, com aproximadamente 40% delas oferecendo produtos em formatos como SaaS (Software as a Service) e HaaS (Hardware as a Service). A venda direta de produtos representa 17% das startups, enquanto os marketplaces correspondem a 10%. Em termos de canais de vendas, parcerias (50%), WhatsApp (39,7%), inside sales (33%) e eventos (29,2%) são os mais utilizados. A pesquisa observou também uma mudança significativa no uso de canais de marketing digital, com uma diminuição no investimento em Google Ads (23%) e Meta Ads (22%), substituídos por estratégias de parceria.

Pedro Carneiro, sócio e diretor de investimentos da ACE Ventures, observa que essa mudança no perfil dos canais de vendas sugere uma dificuldade contínua dos empreendedores brasileiros em estabelecer uma estrutura própria de vendas, fazendo com que busquem alternativas mais flexíveis e menos onerosas.

Perfil Demográfico

O Founders Overview 2024 não se limita a analisar o mercado, mas também traça um perfil detalhado dos empreendedores brasileiros. O estudo entrevistou cerca de 900 fundadores com faturamentos que variam entre R$ 360 mil e R$ 300 milhões. A pesquisa revela que a maioria dos empreendedores está na faixa etária de 35 a 44 anos (35,3%), seguida por aqueles entre 45 e 54 anos (25,9%), indicando que mais de 60% dos fundadores são de faixas etárias mais avançadas. Apenas 4% têm entre 18 e 24 anos.

Os dados indicam que os empreendedores estão cada vez mais qualificados e experientes. Cerca de 44,5% dos fundadores já tinham experiência no mercado corporativo, enquanto 17,5% haviam empreendido em outros setores anteriormente. Outros perfis incluem 12,3% que eram autônomos, 8,4% ex-funcionários de startups e 6,3% oriundos do setor público. Apenas 4,2% dos entrevistados não tinham experiência profissional anterior.

Pedro Carneiro destaca que a visão de empreendedores jovens e recém-formados está mudando, dando lugar a profissionais mais experientes que buscam resolver problemas específicos vivenciados em suas passagens por outras empresas. Esta mudança reflete uma abordagem mais madura e direcionada para a criação de startups.

Futuro das Startups

O relatório também traz à tona o cenário atual das empreendedoras no Brasil. Embora tenha havido um aumento no número de mulheres fundadoras de startups — de 23,6% em 2023 para mais de 28% em 2024 — a grande maioria dos fundadores ainda é composta por homens (71,4%). As principais motivações para empreender, conforme a pesquisa, incluem a vontade de mudar o mundo (77,6%), busca por maior retorno financeiro (35,3%), desejo de liderar (17,9%) e necessidade de flexibilidade (15,7%).

Interessantemente, a pesquisa revelou que quase 70% dos fundadores não tiveram investimento externo no início de suas startups. Entre os que receberam investimentos, a maior parte está na faixa de R$ 300 mil a R$ 600 mil. O estudo também destaca que a principal motivação para buscar investimento não é o aspecto financeiro, mas sim o networking e as mentorias que os investidores podem oferecer, com 61% dos entrevistados valorizando esses benefícios.

Por fim, o estudo sugere que a maioria dos fundadores (70%) tem planos de realizar uma fusão ou aquisição (M&A) no futuro, com 37% prevendo uma venda nos próximos cinco anos e 21% projetando um prazo de até uma década. O Founders Overview 2024 pinta um retrato detalhado e revelador do ecossistema de startups no Brasil, evidenciando um mercado em crescimento e amadurecimento constante.