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sábado, 23 de novembro de 2024
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Essência

O tempo é o melhor juiz

Nem sempre o Oscar de Melhor Filme premia a produção mais importante do ano e o ‘Essência’ traz uma lista das dez maiores derrapadas da história da Academia

Postado em 18 de fevereiro de 2016 por Redação
O tempo é o melhor juiz
Nem sempre o Oscar de Melhor Filme premia a produção mais importante do ano e o ‘Essência’ traz uma lista das dez maiores derrapadas da história da Academia

Júnior Bueno

Inegável a importância do Oscar no universo do cinema. Por ser o maior prêmio cinematográfico, é também o mai­or alvo de críticas. Algumas delas, convenhamos, bastante sensatas – e abrem a discussão sobre qual é a relevância de obras vencedoras da famosa estatueta dourada frente a outras, ignoradas, porém colocadas no panteão das verdadeiras obras de arte. 

Abaixo, preparamos uma lista de dez filmes que mereciam ter ganhado, mas foram preteridos em favor de filmes menores. Se os senhores da Academia possuíssem uma máquina do tempo e pu­dessem prever a relevância que os filmes ganhariam com os anos, certamente teriam mudado boa parte dos seus votos. Ao lado de cada filme, o ano em que a premiação ocorreu.

O Segredo de Brokeback Mountain (2006) – Em toda a história do cinema, nunca um filme com temática gay havia se tornado tão mainstream, a ponto de chegar, com chances reais de vencer, à categoria principal do Oscar. A vitória do in­sosso, insípido e inodoro Crash – No Limite, um dos maiores azarões da história, tirou da sensível película de Ang Lee a chance de ser premiado. À parte a temática, que obrigou Hollywood a amadurecer para a diversidade, o filme merecia, por ser sensível, bem dirigido, com atuações incríveis de Heath Ledger, Jake Gyllenhaal e Michelle Williams, boa trilha sonora e uma fotografia impecável. Mas nem tudo esteve perdido: Lee, cineasta taiwanês, ganhou o prêmio de Melhor Diretor, daquele ano.

Os Bons Companheiros (1991) – Não faltam superlativos quando se discute o filme Os Bons Companheiros, dirigido por Martin Scorsese e lançado em 1990. No entanto, um dos melhores filmes de máfia já feitos perdeu para o adulado Dança com Lobos, estreia de Kevin Costner na direção. Sério, o que a Academia via em Kevin Costner? 25 anos depois, Os Bons Companheiros é mais do que especial: é tido como uma obra-prima e um dos melhores filmes dos anos 90 e talvez o melhor da carreira de Scorcese. Já Dança com Lobos, nem quem viu consegue recordar. 

O Grande Ditador (1941) – Ainda que Rebecca, A Mulher Inesquecível, filme de estreia de Hitchcok em Hollywood, tenha lá seu merecimento, é impossível não perceber que Charles Chaplin com o colossal O Grande Ditador não só tinham mais a oferecer em termos de cinema co­mo também eram muito, mas muito mais merecedores dos prêmios. E prova disso é o quanto À obra-prima de Chaplin sobreviveu como clássico e Rebecca, não. Vale lembrar que As Vinhas da Ira, de John Ford, também foi injustiçado ao perder, naquele ano. 

Taxi Driver (1977) – Scorcese, Kubric, Lucas, Beaty, Copolla e Spielberg são sobrenomes que hoje são grifes em Hollywood, mas nos anos 70 eram só uns garotos cheios de vontade de fazer coisas novas e tirar o mofo dos musicais empoados que a indústria de cinema ainda conservava. Taxi Driver é a cara dessa geração, um fil­me sujo, violento, jovem e ousado. Deveria ter ganho, ou pelo menos perdido para Todos os Homens do Presidente. Mas a maior surpresa da história do Oscar foi a vitória de Rocky, um Lutador. O que não é ruim, mas puxa vida, é Taxi Driver…

Touro Indomável (1981) – Mais uma das grandes esnobadas que o Oscar deu em Martin Scorcese, o filme consagrou Robert DeNiro no panteão dos grandes atores, mas pedeu para Gente Como a Gente, dirigido e estrelado pelo galã Robert Redford. A biografia do boxeador Jake LaMotta só foi feita porque DeNiro insistiu para que Scorsese, que não era fã de esportes, dirigisse o filme, hoje um clássico inesquecível. A trama água com açúcar de Redford, que parece ter escrita por Manoel Carlos em seus dias menos inspirados, ganhou, mas o tempo consagrou mesmo foi Touro Indomável.

Laranja Mecânica (1972) – Operação França é um filme ruim? De maneira alguma. O filme mostra uma Nova York suja, corrupta e violenta, e um policial du­rão e nada simpático, o detetive Jimmy ‘Popeye’ Doyle. Mas Laranja Mecânica é a obra-prima de Stanley Kubrick e hoje é um dos mais icônicos filmes de todos os tempos. Isso mostra como a Academia demora a reagir a um movimento revolucionário. Tanto de até hoje Quentin Taran­tino não tenha sido premiado com o Oscar de Melhor Diretor ou de Melhor Filme. 

Cidadão Kane (1942) – Revolucionário em linguagem, montagem, música e fotografia, o filme de Orson Welles é useiro e vezeiro no topo das listas de melhor filme de todos os tempos. Por mais que Como Era Verde Meu Vale seja um primor, não há como não pensar na injustiça que Cidadão Kane sofreu. Em 1970, Welles acabou agraciado com um Oscar honorário pelo conjunto da obra. É o caso de fil­me maior que o próprio Oscar, pois trilhou seu caminho independente do prêmio.

O Resgate do Soldado Ryan (1999) – Este entra na lista apenas por ser o me­nos pior daquela edição, visto que nenhum dos cinco mereciam ser o melhor de 1999, menos ainda o vencedor. O Resgate do Soldado Ryan tem os melhores 30 primeiros minutos de um filme de guerra, mas descamba para o dramalhão spielberguiano do meio para o fim. Além da Linha Vermelha, Elizabeth e o traumático A Vida É Bela completam a lista dos preteridos pelo pavoroso Shakespeare Apaixonado. Tem horas que é melhor ficar na plateia sor­rindo amarelo. 

Assim Caminha a Humanidade (1957) – Uma das poucas comédias a vencerem o Oscar de melhor filme foi A Volta ao Mundo em 80 Dias. Uma das atitudes mais contraditórias da Academia, que deixou o belíssimo Assim Caminha a Humanidade, estrelado por Elizabeth Taylor e James Dean – o último filme da carreira do astro – de lado. O que é engraçado, porque em todos os critérios possíveis, Assim Caminha a Humanidade é infinitamente melhor que a adaptação do livro de Júlio Ver­ne. 

Bastardos Inglórios (2010) – Na 82ª edição do Oscar, Bastardos Inglórios era, disparado, o melhor filmes indicado ao prêmio. Infelizmente, a Academia ainda não estava pronta para premiar um trabalho de Quentin Tarantino como o melhor do ano. O prêmio foi para o superestimado Guerra ao Terror, que também rendeu à Kathryn Bigelow o prêmio de melhor direção, sendo a primeira mulher a ganhar a estatueta na história da premiação. Em mais de uma ocasião, Tarantino foi preterido, o que mostra que o diretor é o novo Mar­tin Scorsese.

Menções honrosas de filmes que deveriam ter ganhado mas sequer foram indicados: Clube da Luta, O Iluminado, 2001 – Uma Odisseia no Espaço, Cidade de Deus, Cães de Aluguel, Um Corpo que Cai, Intriga Internacional, O Que Terá Acontecido a Baby Jane, O Grande Lebowski, Um Bonde Chamado Desejo, entre tantos outros.

 

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