Escolha de repelentes deve ser feita com cuidado
Farmácias quase dobraram as vendas de produtos do tipo desde a propagação do Zika vírus. Mulheres grávidas são as mais preocupadas
Thiago Burigato
O recente surto de zika, associado à já onipresente manifestação da dengue, provocou na sociedade o medo da contaminação. O temor, por sua vez, levou a população à busca por métodos de prevenção, o que culminou na crescente procura por repelentes nas farmácias de todo o Brasil. Goiânia não foge à regra.
Engana-se, porém, quem pensa que qualquer repelente é indicado para todo tipo de pessoa. De acordo com seu componente principal, alguns produtos podem ser mais ou menos recomendados para gestantes ou crianças, especialmente as menores.
Conforme a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), há três tipos de princípios ativos mais comuns utilizados nesses produtos: IR3535, DEET e Icaridin. Apesar de todos terem sua eficácia comprovada, cada um tem um tempo específico de atuação, exigindo sua reaplicação após algumas horas.
O IR3535 é considerado seguro para gestantes e crianças de seis meses a dois anos. Ele mantém seu efeito por até duas horas após a aplicação. O produto mais popular com esse componente é a loção antimosquito Johnson’s.
Outros, como OFF e Repelex, têm como princípio ativo o DEET. O composto é recomendado para gestantes e crianças com mais de dois anos de idade e está entre os mais vendidos, não custando mais do que R$ 25. Cada aplicação dura por até seis horas.
Já o produto mais comercializado à base de Icaridin é o Exposis, que também é o mais caro. Com tempo de proteção de até 10 horas, seu uso é considerado seguro para gestantes e crianças a partir dos dois anos. Um único frasco, de 100 ml, custa em média entre R$ 55 a R$ 80.
O diretor do Sindicato dos Farmacêuticos no Estado de Goiás (Sinfar), Humberto Jayme, frisa a importância de se atentar para o tipo de repelente mais adequado para cada caso. “A maioria dos produtos no mercado não são recomendados para gestantes ou crianças pela sua toxicidade. Como são organismos mais sensíveis, o composto pode afetar o feto, causar reações alérgicas, e até provocar má-formações”, alerta.
Preocupação
Pode pesquisar: dificilmente você vai achar algum estabelecimento na capital onde a venda de repelentes não aumentou consideravelmente nos últimos nove meses. Foi nesse prazo que a doença ganhou a atenção da mídia e das autoridades e se tornou motivo de preocupação.
Tiago Augusto, gerente de um estabelecimento no Setor Bela Vista, informa que, por lá, as vendas de repelentes cresceram cerca de 70%. “Só em janeiro nós vendemos cerca de 300 frascos”, afirma.
Em outra farmácia, dessa vez no Setor Marista, as vendas aumentaram um pouco mais, cerca de 80%. “Aqui nós vendemos de 20 a 30 por semana”, destaca a gerente, Tatielle Cunha.
A procura aumentou em todos os setores da sociedade. Mais pobres, mais ricos, jovens, adultos, idosos, homens e mulheres. Todos eles, hoje, demonstram preocupação com os riscos do Aedes aegypti. No entanto, há um perfil específico que tem causado um aumento ainda maior na procura por repelentes: o de mulheres grávidas.
Não é sem motivo. Desde novembro de 2015 cientistas estudam a correlação entre os casos de zika com o também crescente número de incidências de fetos diagnosticados com microcefalia.
A fisioterapeuta Marcela Stefany Rodrigues Alves confessa que nunca se importou muito com o risco das doenças provocadas pelo Aedes aegypti. Agora, grávida de seis meses, porém, ela toma todas as precauções que pode.
“Comecei a usar assim que descobri a gravidez, aos dois meses”, conta. “Antes costumava usar só quando ia para locais mais afastados, mas é importante prevenir. Tem que pensar no futuro da criança”, diz.
A despachante Rosynha Marciano também só passou a tomar esse cuidado quando descobriu a gravidez. “Eu uso todo dia e toda noite. Ainda assim o medo continua, então a gente se previne como pode, utilizando roupas com manga comprida, por exemplo”, destaca.