JÚNIOR BUENO

Seu Francisco é um faxineiro, evangélico fervoroso e trabalhador; Ednardo, o atendente, é um preguiçoso que tenta se dar bem enganando a patroa no horário de serviço; Chanderley é a responsável pelas unhas dos clientes, mas parte de sua renda vem de “serviços extras” prestados nas madrugadas em Copacabana; O cabeleireiro Guido vive se gabando dos inúmeros diplomas e de toda sua masculinidade, enquanto Serginho – que não cansa de se autodenominar um hairstylist de mão cheia – passa mais tempo inventando cortes de cabelo inusitados do que realmente atendendo a clientela. Eleonora é uma ex-miss que não liga para seu salão de beleza, fruto do dinheiro herdado do ex-marido.

O que essas pessoas têm em comum? Todas habitam o salão Impecável Beauty por intermédio da atuação do veterano do humor Luiz Fernando Guimarães, que não precisa de mais do que um palco mobiliado com uma bancada e uma cadeira com secador de cabelo para arrancar boas risadas da plateia. O espetáculo O Impecável utiliza destes personagens, e alguns outros, para falar sobre os sete pecados.

O ator falou com o Essência (por e-mail) sobre o processo de mudança de personagens: “Foi difícil no início porque não uso acessórios, mas depois fui descobrindo que cada personagem tem um tempo, uma dinâmica diferente, como na matemática, a mudança se dá de acordo com esse tempo cênico matemático. Imagino o gestual como se estivesse com um figurino real de cada um,” explica.

A peça é o primeiro texto não-musical da dupla Charles Möeller e Claudio Botelho, com quem Luiz Fernando já trabalhou, em Como Vencer na Vida sem Fazer Força. O texto inspirou o programa de TV Acredita na Peruca, do Multishow e depois retornou aos palcos: “Esse texto já existia há tempos. Levei-os para a TV, onde fizemos a série com base no texto original. Eu e o Marcus Alvisi, adaptamos o texto para essa montagem no teatro, o original eram vários monólogos.”

Um dos principais nomes do humor brasileiro, Luiz Fernando Guimarães começou sua carreira em 1974, ao substituir um amigo na peça O Inspetor Geral, de Gogol, encenada pelo grupo teatral Asdrúbal Trou­xe o Trombone. Na trupe, encontrou amigos com quem selou parcerias duradouras, como Regina Casé e Hamilton Vaz Pereira. Em novelas, fez personagens também ligados ao humor, como em Cambalacho e Vereda Tropical. 

Mas foi em programas humorísticos que o ator teve reconhecimento do grande público. Luiz Fernando brilhou em programas que se tornaram marcos do humor televisivo no Brasil, como o lendário TV Pirata e a tresloucada série Os Normais. Outras produções, como O Super-Sincero e Minha Nada Mole Vida também despertam saudades do público, garante o ator. 

Sobre o humor da TV atualmente, Luiz Fernando prefere não julgar: “quem sou eu para avaliar?”, diz modesto o ator. Mas diz não gostar de programas com um humor mais agressivo, como o Pânico ou o de Danilo Gentilli. Já sobre o Tá no Ar, que é sempre comparado com o TV Pirata, ele é só elogios: “Eu acho o (Marcelo) Adnet ótimo, um imitador incrível, acho ele fantástico. Tenho muita admiração por ele,” diz. 

Em tempos de crise política, o ator diz acreditar que o humor tende a se fortalecer: “conflito é sempre um prato cheio. Só é possível fazer humor do antagonismo.” Já o politicamente correto, de que muitos hu­mo­ristas se ressentem por se sentirem tolhidos, não é um problema para ele: “jamais sofri patrulha,” diz ele. A principal marca de Luiz Fernando Guimarães é causar gargalhadas na plateia mesmo mantendo uma expressão séria: “Pelo meu currículo as pessoas já me associam ao humor. Não faço humor para que as pessoas achem graça necessariamente, isso acontece naturalmente,” diz. 

Serviço 

Espetáculo: ‘O Impecável’ 

Local: Teatro Madre Esperança Garrido 

Dias: 12 e 13 de março

Horário: 21h

Ingressos: R$ 100 (inteira)