Um som para viajar
Hellbenders divulga lançamento do seu novo disco, ‘Peyote’, e lança novo videoclipe
José Abrão
Uma das maiores bandas de rock de Goiás se prepara para lançar seu mais novo disco. Chamado de Peyote, o álbum de oito faixas é o segundo da banda e traz consigo uma trajetória única na música nacional. O motivo disso é que o CD foi gravado no Rancho de La Luna, no deserto da Califórnia (EUA). O que tem de especial nisso? Tem que o estúdio pertence a David Catling, ex-Queens of the Stone Age e membro do Eagles of Death Metal e apenas bandas convidadas podem tocar lá. Por este estúdio seleto, só passaram grupos aprovados pessoalmente por Catling, como Foo Fighters e Arctic Monkeys.
Além do convite muito especial, há o pioneirismo: a Hellbenders é a primeira banda brasileira a ser convidada a gravar por lá e, por definição, a primeira a aceitar o convite. Um belo marco na história do rock nacional vindo direto da capital do sertanejo. O novo trabalho não tem dia exato pra sair ainda, mas será lançado no início de junho em CD, vinil e até fita K7 em parceria com o selo paulistano Hearts Bleeds Blue (HBB). “Quando a gente recebeu o convite, não pensamos duas vezes, só fomos”, conta Diogo Fleury, vocalista e guitarrista da banda. A ida foi bancada pelos fãs: com um projeto de financiamento coletivo, a banda levantou R$ 38 mil para pagar a viagem e a gravação.
Isso foi no segundo semestre de 2014 e só agora o disco vai dar as caras. O primeiro trabalho da banda é de um ano antes, 2013, o Brand New Fear, e de lá para cá, foi quase inteiramente de puro silêncio no rádio. “Demorou para mixar, masterizar e prensar”, revela Fleury. “Acabou que juntamos X, e todo o processo custou 3X. Foi tudo feito fora, não necessariamente no rancho, mas a prensagem foi feita aqui no Brasil mesmo, em parceria com a HBB”.
Ele conta que o convite foi pura surpresa. A banda foi para os EUA participar do festival South By Southwest e teve muita sorte: “Fizemos um show vazião num lugar chamado The Parlor. Era afastado e cedo. Devia ter umas dez pessoas. Acontece que um dos caras era o Jimmy Ford, amigo de banda e parceiro do David Catling e passou o nosso contato adiante”. Aí a banda voltou para o Brasil e, de repente, chegou um e-mail. “Foi uma experiência muito enriquecedora conhecer um mercado de música que funciona de forma completamente diferente do daqui e absorvemos várias coisas boas da experiência”, conta Fleury.
Para ele, toda a viagem e a gravação ainda parecem meio irreais. “Até hoje eu me pego pensando em tudo que passou. É difícil botar em palavras. Nunca imaginamos que algo assim ia acontecer. Conhecemos os caras de quem somos fãs há muito tempo! É um mix de emoção muito grande”. E é claro, foi tudo muito além da tietagem: foi a honra de trabalhar com os seus ídolos. “Foi tudo muito natural, foi como gravar na casa do seu avô (risos). É muito legal ver os caras ali, na sua frente, curtindo seu som. É muita realização, não consigo medir tudo o que significou”.
O pontapé inicial do lançamento veio com o videoclipe de Bloodshed Around, postado no YouTube na semana passada. Ele foi feito pela Infravermelho Filmes, de São Paulo: “Foi filmado em novembro. Os caras têm uma banda e nós os conhecemos em uma turnê. Eles entendem o que é fazer um vídeo para uma música e gostam muito de fazer filmes de ficção-científica. A música fala disso, tem muito a ver e o clipe deu muito certo, ficamos muito satisfeitos”, conta Fleury. A arte de capa também já foi revelada. Novamente, ela é assinada pelos goianos do grupo Bicicleta Sem Freio.
Os caras já possuem renome mundial e também são conhecidos por sua banda de rock Black Drawing Chalks. “Ela foi feita pelos feríssimas do Bicicleta. Se a gente não fizer com os caras é porque eles não têm tempo, mas se depender da gente, eles já estão escalados para fazer nossas artes sempre”, disse Fleury e completa “somos muito amigos deles e eles são profissionais incríveis”. Depois de tudo isso, o vocalista conta que ele mesmo já está muito ansioso pelo lançamento. “Estou agoniado com a demora. Queremos muito lançar esse material e ficamos ausentes por um tempo. Mas era muito trabalho, não era hora ainda. Como se diz: não podíamos botar o carro na frente dos bois”.
Falando em ansiedade, ele revela que a banda deve sair em turnê antes do lançamento. “Devemos sair em turnê logo após o Bananada (que acontece entre os dias 9 e 15 de maio). Sempre fomos uma banda de show. Nossa energia de palco é uma das nossas principais características”. A agenda ainda não está fechada, mas ele promete divulgá-la em breve na internet. Diogo agradece muito aos fãs, e sente orgulho da cena musical goiana. “O que me deixa mais feliz que o reconhecimento do Hellbenders é mostrar a diversidade e qualidade da música de Goiânia. Tem muita banda boa de todos os estilos. Tem muitas novas muito boas, a galera da Carne Doce, os Boogarins… Para a gente, é um prazer muito grande fazer parte desse time”.
Para ele, tem bastante espaço para o rock e o sertanejo dividirem, assim como o rap, o eletrônico, o samba e tudo o mais: “Goiânia é um pólo do sertanejo e isso é louvável, mas não podemos nos focar só nisso. Estamos representando Goiânia e também o Brasil, lá fora. Estamos conhecendo gente que está batalhando para viver de música de forma independente e que luta por pura paixão. O que eu mais tiro dessa experiência no rancho é que podemos bater no peito e dizer: ‘pode ser feito. Foi feito’. Lutamos muito por isso”.