O amor nos tempos da crise
Zezé de Camargo acredita que o Brasil enfrenta uma provação para se tornar realmente grande.
Enquanto isso, ele administra a crise na relação com Luciano
Júnior Bueno
Feriado de Semana Santa em São Simão. A simpática cidade ribeirinha se alvoroça para assistir, de graça, ao primeiro show de Zezé de Camargo & Luciano naquele município. A dupla foi uma das principais atrações do Festival Gastronômico, Esportivo e Cultural da cidade. Enquanto a área de shows ia ficando cada vez mais cheia, nos bastidores uma crise se delineava, e um pequeno contingente de pessoas em torno da dupla se formava. Ou melhor, em torno de cada membro da dupla em separado.
O camarim de Zezé Di Camargo ficava no fim de um corredor. Na outra ponta do corredor, o mais separado quanto possível ficava o camarim de Luciano. O irmão mais velho e o mais novo não se falam e não fazem questão de fingir o contrário. Quando um passa, o outro precisa ser avisado, para não se cruzarem. O repórter do Essência que foi cobrir o festival falou com Zezé e tentou falar com Luciano, mas este, mais magro e com cabelo novo, não estava em um dia de bom humor. Em mais de uma vez o cantor ameaçou deixar o local e não fazer o show.
Enquanto a dupla Israel e Rodolfo fazia o show de abertura, Zezé topou falar com a imprensa. Mas não sem antes se armar um pequeno circo em volta dos camarins. Muitas pessoas fazem os mesmos avisos: tempo limitado, pauta restrita ao show e entrevista em grupo. O cantor ficou em uma salinha menor para falar com jornalistas, enquanto no camarim a modelo Graciele Lacerda, namorada de Zezé ocupava o camarim. Sem ventilação, o calor aumentava – e muito – dentro da salinha. Em um terno azul-turquesa, ele suava em bicas, mas não parava de sorrir. Para amenizar o clima, um membro do staff balançava uma tampa de caixa de isopor.
Mesmo que o clima não seja favorável e as condições não sejam tranquilas, Zezé Di Camargo parece gostar de falar com a imprensa. Bem-humorado, atencioso e solícito, ele fala olhando no olho quando responde uma pergunta e responde articuladamente mesmo as perguntas mais batidas como “o que você preparou para o show de hoje?” Ele diz que canta o que o povo gosta, músicas que marcaram a vida de muita gente. “Se eu cantar alguma música que as pessoas não cantarem do começo ao fim, não precisa pagar o cachê,” diz ele sorridente.
Sobre o Carnaval deste ano, ele descreveu a sensação de ser, junto com o irmão, homenageado pela escola Imperatriz Leopoldinense: “Foi surpreendente. Contar a história do sertanejo pela primeira vez na Marquês de Sapucaí e usando Zezé Di Camargo & Luciano como o exemplo maior, podendo ainda mostrar um pouco da historia de Goiás, da nossa origem, de Pirenópolis, é um sonho do qual eu não acordei até hoje. São poucos os artistas que são homenageados em vida, menos ainda sertanejos na Sapucaí, somos os únicos”.
Sobre a atual situação política e econômica no País, Zezé acredita que estamos passando uma provação, um desafio a ser vencido, para daí poder crescer. Como a Europa, o Japão e os EUA enfrentaram guerras, por exemplo. “O povo precisa passar esse país a limpo e nós temos que apoiar essas pessoas que estão dispostas a fazer isso. O mal que nós temos aqui é corrupção e ser mal governados, independente de partido. Em todos os partidos existem uma minoria de pessoas boas e a maioria de pessoas ruins que só quer tirar proveito da situação,” opina.
A história de Zezé, narrada no filme Dois Filhos de Francisco, se confunde com sua paixão precoce pela música. Cantando ao lado do irmão Luciano desde 1990, ele, antes disso, já havia tentado outras formações e cantado solo. Estouraram com o hit É o Amor e, desde então, mais que artistas, são celebridades da música, daí o salamaleque da produção em torno deles. A dupla subiu ao palco naquela noite, após alguns contratempos e o show enfim, saiu. A voz de Zezé já não tem o mesmo vigor do início da carreira, mas ele segura bem o show, com a ajuda do irmão. No palco, eles exalam carisma. Ali eles fazem por merecer cada centavo do cachê, e por uns instantes, voltam a ser apenas os dois filhos de Francisco.