Tamanho é documento?
Em ‘Cinco Homens e Um Segredo’, personagens debatem o tabu que tanto assombra a vida dos homens
Luisa Guimarães
A sentença “tamanho é documento” divide opiniões onde quer que ela seja dita. Mais que isso: assombra a vida dos homens ao longo de suas vidas, independente da idade. A satisfação de um homem em relação ao tamanho de seu órgão sexual é tão essencial quanto o ar que ele respira, a extensão de seu ego. Um verdadeiro drama.
Apesar de dramático, o assunto é um dos alvos mais fáceis de piadas e do famoso bullying entre os rapazes ou senhores. É, inclusive, tema da comédia Cinco Homens e Um Segredo, que faz sua parada no Teatro Madre Esperança Garrido nas noites de hoje e amanhã (10). Com direção assinada por Alexandre Reinecke, considerado como um dos principais diretores de comédias do teatro nacional, a peça é uma versão brasileira da montagem estadunidense The Irish Curse, de Martin Casella.
O “jeitão americano” de escrever teatro é um dos pontos máximos do espetáculo segundo Edwin Luisi, que interpreta um dos personagens. “A peça tem uma estrutura muito bem montada”, afirma, justificando a abordagem utilizada para tratar do polêmico assunto. “São cinco homens que têm o mesmo problema, e cada um conta sua experiência”, explica. O assunto é “extremamente dramático e risível, mesmo dentro da seriedade” segundo Edwin. “O público ri do começo até o fim”. A adaptação do texto ficou por conta de Aloisio de Abreu.
O cenário da peça é o Rio de Janeiro dos dias atuais. Na verdade, é o porão de uma igreja no Rio de Janeiro dos dias atuais. É que quatro dos cinco homens se reúnem neste porão todas as quartas à noite para participar de um grupo de autoajuda, organizado por um padre. José Carlos, Luiz Orlando, Jorge Alberto e Ricardo têm o mesmo segredo em comum: todos têm o pênis pequeno. A trama se desenrola com a chegada de Mário, o quinto homem, que está desesperado, desolado. A partir daí, todos começam a compartilhar seus dramas em relação à auto-estima, constrangimento, masculinidade, sexo e relacionamentos.
Mário é vivido por Oscar Magrini e está em pânico. “Ele é noivo, mas nunca ficou nu na frente dela (da noiva)”, conta Edwin. “Ele diz que é tradicionalista, mas a verdade é que ele nunca transou com mulher nenhuma”. O motivo, todos já sabem: o tamanho do seu “documento”. Aquele típico homem que grita aos quatro ventos que “pega” a mulher que ele quiser também faz parte do grupo – outro segredo dele é a meia dentro da calça, um pequeno truque para aumentar o volume do pênis.
“É uma vida de vergonha”, explica o ator, pontuando algumas das consequências desta insegurança constante. “Da mesma maneira que alguns homens possuem ‘coisas’ descomunais, que são fora do padrão, outros sofrem com o tamanho diminuto, que também é fora do padrão. Alguns cometem suicídio, ou não se casam, se escondem através da igreja ou do celibato. Tem os que são bem apessoados, ou que fazem muita musculação. Mas chega a hora que tem que deitar com alguém na cama, não tem jeito”, comenta. “Essas pessoas acabam se tornando muito infelizes ou agressivas”.
Carlos Bonow e Iran Malfitano se juntam a Edwin Luisi e Oscar Magrini na peça, todos parte do grupo organizado por Roberto Pirillo, o padre. “Ainda tem essa, do padre, que a gente fica na dúvida o tempo todo se tem o mesmo problema ou não”, revela Edwin aos risos. Apesar do tema tabu, que com certeza afeta a vida de alguns da platéia, ele garante que todos riem do início ao fim. “Tem gente que fala que dói o queixo e a barriga de tanto rir”, conta.
E se você acha que só com um tema bom é fácil fazer uma plateia rir, ele garante que, para o ator, a comédia é uma das coisas mais difíceis de fazer. “O ator tem que ser mais técnico na comédia, o texto vira quase uma partitura”, diz Edwin. “Alguns atores não sabem fazer comédia porque não sabem os tempos certos”, completa. Um fator importante para ele é o momento certo de se fazer comédia. “No momento que a gente está vivendo atualmente no país, a comedia é muito bem vinda. Sobretudo essa, que não é gratuita, que fala de um problema real”, finaliza.
Circuito Nacional de Teatro
A peça Cinco Homens e Um Segredo integra o Circuito Nacional de Teatro, que começa a sua primeira edição hoje, aqui em Goiânia. A iniciativa também vai passar pelas cidades de Belo Horizonte, Brasília e Salvador até o dia 28 de abril.
O objetivo é fugir do eixo Rio–São Paulo, levando espetáculos de qualidade para outras cidades do país. Democratização da cultura é o elemento impulsionador para os realizadores, que visam também a conscientização ambiental da população. Em troca de ações socioambientais, o Circuito oferece uma cota de ingressos gratuitos. “Mas a gente não queria que fossem totalmente de graça e, sim, que valorizassem a cultura e os artistas”, explica Silmara Deon, que assina a direção de produção e curadoria do projeto. “A expectativa é que o número de cidades aumente para dez nos próximos anos”, acrescenta.
As ações voltadas para o meio ambiente são dirigidas para as escolas públicas, instituições sociais e grupos de ensino supletivo que se inscreveram através do site do Circuito. Ao final, o público pode dar um feedback para a produção através de uma ficha impressa em papel reciclado, que estará disponível ao final de cada apresentação.
A cidade de Goiânia receberá no total quatro montagens do projeto. Além de Cinco Homens e um Segredo, estão as peças Single Singers Bar, também na noite de hoje, no Sesc Goiânia; Peter Pan, no dia 19, no Teatro Madre Esperança Garrido, e Depois do Amor Um Encontro com Marilyn Monroe, no dia 28, no Teatro Sesi.
SERVIÇO:
‘Cinco Homens e Um Segredo’
Quando: Hoje e amanhã (10)
Onde: Teatro Madre Esperança Garrido
Horários: hoje às 21h, amanhã (10) às 20h
Ingressos: R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia-entrada)
Pontos de vendas: Komiketo da Avenida T-4, Submarino Festas ou pelo cartão de crédito através do site www.compreingressos.com e call center: 4052-0016