Jovens vivem romance além das grades no POG
Jovens, bonitas
e ‘descoladas’, meninas abrem mão de uma vida sentimental convencional para se relacionar com criminosos
RHUDY CRYSTHIAN
Elaine Aparecida de Sousa, Cristiane Batista Pereira e Mariana Brandão, além de bonitas e com muitos planos na cabeça, as meninas, todas na casa dos 20 anos, têm algo além do nome fictício em comum. Elas mantêm uma relação afetiva com presidiários. As garotas conheceram os companheiros por meio de contatos de amigos que se encarregaram de fazer às vezes de cupido.
As três engrossam um levantamento informal que estima que 80% da população carcerária em Goiás recebe visitas íntimas de parceiras ou parceiros fixos. A informação não é confirmada pela Secretaria de Segurança Pública do Estado de Goiás (SSP-GO). Cada uma com histórias muito parecidas. Elas dividem a expectativa de verem seus amados libertos para se casar, ter filhos e constituir uma família, tudo como manda o figurino.
Aos domingos é realizada uma visita íntima onde os casais podem ficar mais à vontade. Para ter direito à visita íntima as mulheres devem efetuar um cadastro no Vapt Vupt e retirar uma senha uma semana antes. Nesse dia, Elaine Aparecida de Sousa se arruma, perfuma-se e se prepara. Pega o carro e ruma para Aparecida de Goiânia à penitenciária Coronel Odenir Guimarães (POG), no Complexo Prisional.
Lá, ela passa por um aparelho de raios-X para a revista obrigatória. As roupas dos visitantes devem ser sempre claras, sem nenhum tipo de bijuterias ou jóias, além da aliança se tiver. O calçado deve ser obrigatoriamente chinelos de borracha, tipo havaianas. A simplicidade nas vestimentas é para facilitar os trabalhos de revistas.
Depois que entra na penitenciária a menina percorre os blocos da prisão até chegar às celas do namorado. Geralmente são cubículos individuais, os detentos usam lençóis ou panos para ter o mínimo de privacidade. Quem não tem uma cela individual a penitenciaria oferece tendas tipo barracas no pátio do presídio de maneira improvisada. Elaine pretende se casar com o namorado. Ela foi morar com a sogra para poder ficar no radar da mãe do rapaz. Com 25 anos, a garota vê futuro na relação dos dois e inclusive planeja filhos, mas longe de Goiânia.
Cristiane Batista Pereira quase toda quinta vai à cadeia levar mantimentos para o amado. Ele, de 29 anos, já tem duas filhas que vivem com a mãe das crianças. Ela garante que o detento paga pensão para as crianças com o dinheiro ganho do trabalho na prisão como monitor de saúde. Os dois planejam trabalhar com revenda de roupas femininas no interior. “Não dá para ficar aqui em Goiânia, não é por segurança e sim por más influencias”, garante.
Ela diz que o relacionamento é como um casal convencional, com brigas e desentendimento, mas pelo fato de estar distantes, o ciúme é uma constante, mas não é agressivo, mesmo confessando ter sido vítima de violência física por parte do amado. “Foi de leve”, tenta justificar. Ela planeja casar com ele ainda na prisão. Todo mês algum cartório realiza casamentos para os casais que queiram oficializar a união na própria prisão. A saída do rapaz está prevista em menos de três anos devido à revisão do processo por conta da progressão da pena por trabalhar na penitenciária.
Vida louca
É comum encontrar meninas que preferem se relacionar com detentos. Às vezes pelo status, às vezes pela segurança. “Muita gente acha vantajoso namorar com cadeeiro”, afirma a jovem Mariana Brandão. Entre idas e vindas, há quatro anos em um relacionamento com um detento, Mariana vive, além de um amor bandido, um romance homossexual fora das grades. Para relacionamentos homossexuais as regras e o tratamento são os mesmos. As meninas têm uma amiga transexual, conhecida como Valeska, que está casada com um detento há 12 anos e realiza visitas íntimas periodicamente.
O psicólogo especialista na área jurídica criminal, Shouzo Abe, conviveu com meninas e mulheres de detentos por seis anos e conhece bem essa realidade. Ao tentar identificar um padrão no perfil, ele afirma que as mulheres buscam uma segurança e proteção emocional que o preso, pela sua condição, pode oferecer. “O estigma de que o preso é corajoso fascina as mulheres. Elas têm interesse por essa figura masculina e sentem atração muito forte por eles a ponto de se sujeitarem a sofrer violência, conviver com a criminalidade e a não terem a garantia de fidelidade dos parceiros”, define.
Mas o especialista destaca ainda outro ponto que pode ajudar a entender melhor esse tipo de relação. Segundo Abe, a mulher tem um instinto natural de ser a salvadora, o porto seguro. Um sentimento de que ‘vai ajudar esse cara, comigo ele vai ser diferente’. Esperança que, na experiência profissional do psicólogo, não se concretiza. O psicólogo afirma que às vezes o status dentro do mundo do crime em ter um companheiro na cadeia pode ser inconsciente ou intencional, mas acredita que o fascínio exercido sob a mulher é um dos principais fatores que levam-nas a se relacionar com criminosos.