Maria vai com as outras
Maria Rita apresenta hoje em Goiânia o show Samba de Maria, repleto de pérolas do gênero, incluindo homenagens a divas como Alcione e Beth Carvalho
Por Júnior Bueno
Há duas semanas, o IBGE divulgou uma
lista com os nomes mais comuns do Brasil. E, surpresa nenhuma, Maria ainda
lidera entre os nomes femininos: existem no País 11,7 milhões de xarás
da mãe de Jesus. Entre elas, algumas estrelas da MPB, como Maria Betânia, Maria
Gadu, Ângela Maria e Maria Rita. E hoje é dia de Maria, já que Maria Rita vai
subir aos palcos do Teatro Rio vermelho para cantar canções consagradas do samba
brasileiro, no show justamente chamado de Samba de Maria.
O
show, diferente da turnê do último álbum, Coração a Batucar, é mais
descontraído em forma e em conteúdo. “Não tenho um roteiro 100% fixo, eu fico
sentada como numa roda de samba. É um show livre, sob esses aspectos,” disse a
cantora, em entrevista ao Essência (leia abaixo). O espetáculo se dá na forma
de uma roda de samba, e, fora o ambiente e o preço dos ingressos, é uma
celebração popular do mais brasileiro dos ritmos, que celebra 100 anos em 2016.
E
o samba foi o que fez a rota de Maria Rita Camargo Mariano encontrar uma
estrada paralela. Lançada em 2003 com as honras de “grande revelação da MPB”, a
cantora foi aclamada como uma intérprete versátil, dessas que cantam de tudo e
quando falam de suas referências, geralmente respondem que “cresceu ouvindo
Elis Regina”. No caso da Maria Rita, filha de Elis, tudo foi diferente.
E foi
como tinha de ser. Relutou, se encontrou, se revelou, cantou de tudo e achou o
caminho das rodas de samba. E não saiu mais de lá. A partir de 2003, foram seis
álbuns, dois filhos, 11 prêmios Grammy. A menina tímida virou dona do palco e desde
seu terceiro álbum, Samba Meu, o que parecia um flerte com o samba virou um
casamento duradouro. No show Samba Meu, celebração deste idílio, Maria Rita
apresenta um repertório com 20 canções.
Na
primeira parte traz as majestades Zeca Pagodinho e Arlindo Cruz interpretando
Gira, Girou, Alto Lá e Coração em Desalinho. Mais adiante, uma homenagem às
vozes femininas do samba. É um tributo às grandes mulheres, como Adriana
Calcanhoto, Beth Carvalho, a própria Elis Regina e aquela Maria Rita considera
atualmente como a maior cantora do Brasil, Alcione.
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O show
traz ainda uma composição inédita, Cutuca, parceria de Davi Moraes, Fred
Camacho e Marcelinho Moreira. O conceito artístico do Samba da Maria, com Davi
Moraes na guitarra, Fred Camacho no banjo e cavaquinho e Andre Siqueira e
Marcelinho Moreira na percussão, dispostos em um semicírculo com Maria Rita ao
centro, cria uma atmosfera íntima, próxima e repleta de cumplicidade entre a
platéia, os músicos e a artista. É samba para Maria nenhuma botar defeito.
ENTREVISTA: MARIA RITA
Em que o Samba da Maria se difere do show da turnê Coração a Batucar?
Em tudo! Menos
eu. Eu sou a mesma, ou quase a mesma. Não tem
o formato “turnê”, ou seja, não tenho cenário, não tenho um
figurino pensado para servir o roteiro, não tenho um roteiro 100% fixo, eu fico
sentada como numa roda de samba. É um show livre, sob esses aspectos.
Maria Bethania, Maria da Penha, Maria Quitéria, Maria Gadu.
Como é ser Maria no Brasil?
O sábio do Milton
cantou, “Maria, Maria é um dom / uma certa magia / uma força que nos
alerta…” Por aí você vê.
De Alcione a Adriana Calcanhoto, o show Samba de Maria é
pontuado por sambas feitos ou eternizados por mulheres. Estas escolhas foram intencionais?
Como foi o processo de escolha do repertório?
As escolhas foram e
não foram intencionais. Eu escolhi os sambas, fato, mas não
necessariamente com o objetivo anterior de homenagear as mulheres. Isso
veio depois. As escolhas foram ingênuas, de certa forma. Quando
parei para montar o roteiro do show, essas músicas me contaram essa história.
Ainda no tema mulheres, várias campanhas contra o machismo tomaram as
redes sociais nos últimos meses, como o “bela, recatada e do lar.” Na sua
opinião, o Brasil ainda é um país muito machista?
Lamentavelmente,
sim. E todos esses assuntos tomam uma proporção ainda mais intensa e
dramática quando tive minha menina. Sinto uma necessidade de protegê-la
com unhas e dentes, de todas as
possibilidades — que não são poucas — do
dia-a-dia nesse país. Mas protegê-la não criando uma bolha ou lhe
colocando uns óculos com lentes cor-de-rosa. Muito pelo contrário. É
mostrá-la o que é a fibra de uma mulher. É prepará-la pra esse mundo.
É criá-la com estrutura para encarar essa realidade com força, foco, mas
também com elegância.
Você já está trabalhando no sucessor de Coração a Batucar ou ainda vai
ficar namorando esse repertório por mais um tempo?
Não, estou tentando
descansar minha cabeça um pouco para poder ouvir o que meu canto quer de mim.
Serviço
Samba
da Maria com Maria Rita
Data:
Hoje, 7 de maio
Horário:
21h
Local:
Teatro Rio Vermelho
Ingressos:
a partir de R$ 90