Falta de prevenção lota salas de espera de hospitais públicos
Apenas 40% dos brasileiros procuram por atendimento médico quando não estão doentes
Karla Araujo
Brasileiros não vão ao médico em consultas de rotina, o hábito deixa as urgências e emergências dos hospitais públicos cada vez mais lotadas. Seis de cada dez brasileiros vão ao médico apenas quando estão doentes, segundo dados do Instituto Data Popular. Além disso, pesquisa da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) aponta que apenas 473.168 goianos estão cobertos por planos de saúde, número que corresponde a pouco mais de 7% da população total do Estado.
O diretor técnico do Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo), Ricardo Furtado Mendonça, afirma que o comportamento da população afeta diretamente na quantidade de atendimentos a vítimas que sofreram Acidente Vascular Cerebral (AVC) que o hospital realiza.
Rosália Marques, 52, sofreu um acidente de carro há um mês e teve que imobilizar pescoço. Desde então, faz exames constantes para saber se houve algum trauma na coluna ou em outro órgão do corpo, além de exames de rotina que havia feito poucas vezes na vida. Antes disso, afirma que quase não ia ao médico. “Nunca peguei nenhuma dessas doenças, como dengue. Só quanto tinha uma virose ou algo assim que procurava um especialista”, diz.
Substancial
Para o médico da rede particular Luiz Carlos Junior, que trabalhou também na rede conveniada e particular, a primeira dificuldade que a população encontra é na saúde básica. “Quando a pessoa tem um plano de saúde, ela consegue agendar a consulta, mesmo que demore, acontece. Na rede pública, a pessoa agenda a consulta, vai à unidade de saúde e não encontra o médico”, explica Luiz Carlos.
Segundo ele, a história que mais lhe marcou foi de um homem idoso que tentou por meses agendar uma consulta com um cardiologista. “Ele mora no Parque Atheneu e conseguiu a consulta no Cândida de Moraes.
Quando chegou lá, o médico estava de férias”, conta Luiz Carlos. O homem passou na mal no caminho de volta para casa e foi levado por civis ao Cais Chácara do Governador, onde Luiz Carlos atendia. De lá, o idoso teve que ser encaminhado a um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e fez cirurgia para colocar marca-passo.
Escolhas
Além das faltas do poder público, o médico aponta a distorção de prioridade como um problema. Ele expõe que já realizou visitas domiciliares em projetos comunitários e era comum encontrar famílias que diziam não ter dinheiro para comprar água tratada, mas tinham televisão de tela plana na sala.
16 milhões de brasileiros já perderam todos os dentes
A cultura curativa dos tratamentos repete-se também na área odontológica. De acordo com a última Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 16 milhões de brasileiros não têm mais dentes originais. A odontóloga Franciele do Carmo afirma que o problema é causado pela falta da realização de procedimentos básicos, como limpeza, aplicação de flúor e escovação correta.
“A prevenção começa quando bebê, antes mesmo dos dentes nascerem, mas pouquíssimas pessoas levam seus filhos ao dentista nessa idade”, afirma Franciele.
Para a especialista, o que mais afasta as pessoas das consultas é o preço. Muitos vão ao consultório odontológico, pedem um orçamento para determinado serviço, como se fossem comprar um produto. “É muito bom que os dentistas estejam tomando coragem para cobrar pela consulta, porque é disso que se trata”.
Em Goiânia, a consulta particular a um odontólogo varia de R$ 80 a R$ 150. Algumas clínicas realizam o mesmo serviço por preços mais acessíveis, como o Instituto Goiano de Saúde (IGS), que cobra de R$ 40 a R$ 50 por consulta.
De acordo com Franciele, o preço dos procedimentos de reabilitação são mais caros que os de prevenção. “Como muitos pacientes procuram o dentista só na hora da dor, reclamam do preço”, conclui.