Quem lacrou no Bananada
Listamos os dez melhores shows da edição deste ano do Bananada, marcado pelo brilho das novas estrelas da MPB e pelos discursos politizados
Júnior Bueno
A palavra “lacre” nunca foi tão largamente utilizada quanto nos sete dias que duraram o Festival Bananada 2016. “A organização lacrou!”; “Os cantores lacraram!; “O Flash Weekend Tatoo lacrou!”; “O show do Liniker foi um lacre só!”. Para quem não está entendendo o que significa esse verbo neste contexto trata-se de uma gíria. Segundo o Dicionário Informal, “lacrou” é uma maneira de dizer que a pessoa foi bem em algo, realizou algo e obteve sucesso.
Com um line-up menos roqueiro e mais cheio de estrelas ascendentes na Música Popular Brasileira. O festival, que completou 18 anos, mostrou grandes acertos em organização logística e cometeu alguns erros, como colocar bandas interessantes em um palco “escondido” em um canto entre a praça de alimentação e as lojinhas. Mas o saldo foi bem positivo e, com certeza, os shows listados abaixo entraram para a história do Bananada.
r Liniker – Com menos de um ano de estrada, a cantora Liniker (não se espante, ele é não-binário, atende pelos dois gêneros), talvez não esperasse ver tantos goianos cantando de braço aberto e olho fechado versos de suas músicas, a plenos pulmões. Foram dois shows, um no Teatro Sesi e um no Centro Cultural Oscar Niemeyer (CCON), e os dois foram um show de suingue, de vigor e de empoderamento, por parte da cantora e da banda Os Caramelows. O ponto alto dos dois shows foi um discurso à lá pregação de igreja feita pelas backing vocals Renata Essis e Bárbara Rosa: “Eu sou lacradora e ninguém vai me tombar,” disseram para uma platéia em catarse.
r Jorge Ben Jor – A estrela maior de um festival menos estrelado que nos anos anteriores não decepcionou. Ben Jor pode ser acusado de estar há décadas sem fazer algo de novo. Mas quem liga? O homem tem lugar cativo na história da MPB e não precisa provar nada para ninguém. E se tem uma coisa que o homem gosta é de fazer show. Emendando um hit no outro, ele ficou quase três horas no palco, fazendo dançar as 6,5 mil pessoas que foram o CCON na sexta. Quem gosta de música brasileira da boa teve a chance de presenciar um dos maiores músicos que este País conhece, cantando sua melhor produção, ao lado da lendária Banda do Zé Pretinho. Não tem como ficar triste em um show desses. Salve, simpatia!
r Carne Doce e Ava Rocha – Santo de casa faz milagre sim! Na ausência do onipresente Boogarins, coube ao Carne Doce, duo formado pelo casal Salma Jô e Mayclos, representarem o que se faz de melhor na música goiana contemporânea. Com um público cativo, eles trouxeram um tempero a mais para a receita: a cantora Ava Rocha, que já não precisa mais ser apresentada como a filha de Glauber Rocha, já que seu som está em todas as rodas interessantes de MPB. O show, a partir da entrada e Ava, mudou de bom para sensacional e teve discurso feminista: “As mulheres ocupando os seus espaços. As mulheres não deixando de ocupar os seus espaços. A gente não pode deixar,” disse Ava.
r Planet Hemp – Sem tocar em Goiânia desde 1997, o show da recém reunida banda foi o ápice de todas as manifestações políticas que pontuaram os shows. Nomes como Michel Temer, Jair Bolsonaro, Eduardo Cunha apareceram em um telão, com menções depreciativas à abertura processo de impeachment, que levou o primeiro a assumir a presidência, apoiado por políticos como os demais. Entremeando músicas como Fazendo a Cabeça, Deisdazseis, Phunky Buddha e Maryjane, frases ditas por B Negão, como “Não à militarização das escolas!”
r Siba – Um dos shows mais elogiados pelo público, o que já era de se esperar, pois Sérgio Roberto Veloso Oliveira, o Siba, leva consigo o Carnaval de Olinda em uma cápsula. O músico conseguiu colocar boa parte para dançar durante seus 40 minutos de performance. Mais uma vez, o discurso político esteve de volta ao palco, entre as dançantes composições dos álbuns De Baile Solto (2015) e do disco Avante (2012).
r Riviera Gaz – Sabe aquele rock noventinha de festival de banda? Quem foi lá esperava mais era ver o baterista do Sonic Youth, Steve Shelley, em seu novo hobbie, a banda formada com dois integrantes do Forgotten Boys — Gustavo Riviera (guitarra e vocal) e Paulo Kishimoto (baixo). Mas eles entregaram mais que isso, foi diversão e rock do puro.
r Felipe Cordeiro – Sabe aparelhagem de tecnomelody de Belém, no Pará? Esqueça. Felipe Cordeiro foi além disso e trouxe também merengue e carimbó, com guitarradas que transformaram a Explanada JK, no CCON, em um cabaré dos bons. Com letras que tratam de temas atuais, como “eu gosto de ver homem beijando homem e de ver mulher beijando mulher”, Felipe afirmou ser “contra o sistema estabelecido” e foi ovacionado.
r Hellbenders – Cria do Bananada, o quarteto goiano aproveitou o festival para lançar o disco Peyote, gravado em 2014 no deserto de Joshua Tree, na Califórnia (EUA). Representando a tradição do rock goiano, a banda emendou um sucesso no outro e o público, com B Negão e Marcelo D2 assistindo no canto, foi ao delírio.
r Juçara Marçal – A vocalista do Meta Metá, apresentando o Encarnado, seu projeto solo, Juçara teve que encurtar a apresentação na metade, porque o tempo tinha acabado. Apesar de ser um show que ficaria melhor no palco do Teatro Sesi, o lirismo embalado em uma voz tão sublime não deixou o público desanimar.