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domingo, 24 de novembro de 2024
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PERSONALIDADE

A deusa negra

Apaixonada pelo Brasil,
Naomi Campbell, a modelo negra mais poderosa da história, lança biografia e posa ao lado de brasileiras icônicas

Postado em 29 de maio de 2016 por Sheyla Sousa
A deusa  negra
Apaixonada pelo Brasil

JÚNIOR BUENO

A edição de maio da revista de moda Vogue Brasil, aniversário da publicação, é estrelada pela top model Naomi Campbell. Ela surge em um editorial de mais de 20 páginas e posa ao lado de outras 11 mulheres negras brasileiras que se destacam em diversas áreas, como jornalismo, música, política, esporte, negócios e artes em geral. Estão nele: a apresentadora Adriana Couto, a jogadora de vôlei Fabiana Claudino, a designer de sapatos Lane Marinho, a estudante de jornalismo Nathália Santos, a cantora Alcione, a empresária Heloísa (Zica) Assis, a artista plástica Sônia Gomes, a atriz Cris Vianna, a jornalista Maju Coutinho, a primeira juíza negra do Brasil Luislinda Valois e a política Marina Silva. 

Na carta ao leitor da Vogue, a editora-chefe Silvia Rogar conta que a ideia do número especial partiu da própria Naomi. A top é apaixonada pelo Brasil e costuma dividir suas férias entre Trancoso, na Bahia, e o Rio de Janeiro. Ela, que já havia estrelado alguns editoriais para a Vogue, mandou uma mensagem para Donata Meirelles, diretora de estilo da revista: “Ei, já está na hora de fazer um especial comigo na revista!”. E ela decidiu tudo: queria posar ao lado de brasileiras negras, mulheres que fossem icônicas e independentes. Sugeriu nomes e exigiu trabalhar com Giovanni Bianco, um dos maiores cirativos do mundo da moda e da arte. O resultado já nasce histórico, porque celebra a carreira de Naomi Campbell, de 46 anos comemorados no último domingo – e modelo desde os 15 – e sua relação com o Brasil.

A vida e a carreira de Naomi Elena Campbell, nascida em Londres, mas de ascendência jamaicana e chinesa, está contada em primeira pessoa na biografia da modelo, lançada no fim do ano passado em comemoração aos 30 anos de carreira. A edição de luxo da editora Taschen é dividida em dois volumes. O primeiro mostra imagens icônicas da carreira dela, feitas por Mario Testino, Patrick Demarchelier, Mert Alas, Richard Avedon, Helmut Newton, Bruce Weber e Peter Lindbergh etc. Já o segundo vem com um texto autobiográfico de Naomi, que relembra desde a infância até o auge de sua carreira, nos anos 90. A edição especial teve mil cópias assinadas pela top, e a direção de arte é de Allen Jones, com reprodução em alto relevo dos seios de Naomi na capa. O preço? US$ 1.500 – cerca de seis mil reais. 

Mas Naomi liberou alguns trechos para o jornal inglês The Guardian, em que conta casos do começo da carreira: ela era uma das poucas modelos negras no mundo da moda. Apesar de ter sido responsável por evidenciar e combater o rascismo na indústria, a top conta no livro como a cor da pele foi um fator decisivo na sua trajetória e descreve episódios de preconceito. Em um capítulo, ela lembra um fato ocorrido em 1988: em uma sessão de fotos para a Vogue Itália, clicadas por Steven Klein, o maquiador não tinha uma base do tom de pele dela, o que a deixou bem insatisfeita com o resultado. Depois disso, Naomi a passou a carregar sua própria maquiagem para os trabalhos.

“Quando comecei, eu não fui escolhida para certos desfiles por causa da minha pele. Eu não deixei isso me atingir. Comecei a carreira, cedo, e era nova quando entendi o que significa ser negra: você tem que colocar esforço extra. Você tem que ser duas vezes melhor”, escreve. O que deixa o livro animado são histórias contadas com suas próprias palavras, por exemplo, ter participado do clipe Is This Love, de Bob Marley, ou então o encontro inusitado com Azzedine Alaïa após ter sua carteira roubada em Paris – sem nenhum centavo, foi morar na casa do designer. 

Naomi Campbell tinha 15 anos quando passeava em um parque da capital londrina e um agente da Elite notou sua beleza exótica. Negra e com lindos olhos puxados, Naomi foi um refresco para os padrões de beleza da época e, um ano depois, já estampava a capa da versão britânica da revista Elle, feito inédito para uma modelo negra. Disposta a seguir a carreira de modelo, ela se mudou para Paris, em 1996, e grandes trabalhos não pararam de surgir. Fez a capa da revista Vogue francesa, além do calendário Pirelli e dos principais desfiles de moda. O estilista Versace sempre a apoiou muito e impulsionou sua carreira, bem como a grife Ralph Lauren.

Ao lado de nomes como Linda Evangelista e Christy Turlington, amigas com quem compôs um grupo chamado de “a trindade”, Naomi foi uma das maiores modelos do mundo no início dos anos 90. De todas de sua geração, ela é uma das únicas que se mantêm em evidência até os dias atuais: ocupa a sexta colocação no ranking das 20 modelos ícones do site Models.com. Um feito e tanto, se considerarmos o racismo velado do mundo da moda. O número de capas de revista pelo mundo foram centenas. Estrelou grandes campanhas para as maiores marcas, entre elas, Chanel, Victoria’s Secret, Versace, Burberry, Prada, Fendi, Valentino e Yves Saint Laurent. No Brasil, Naomi já fez campanhas e desfilou para as marcas Zoomp, Rosá Chá e Morena Rosa.

A vida pessoal de Naomi está sempre estampando as capas de jornais e revistas pelo mundo, não só por conta de sua agitada vida amorosa, mas também pelo seu temperamento forte, que já lhe rendeu até problemas na Justiça. Em março de 2010, ela expôs seu problema com as drogas e o álcool na entrevista que concedeu à apresentadora Oprah Winfrey. Na ocasião, ela contou que ficou seis anos sem usar drogas e um ano e meio sem beber. 

No amor, a Naomi tem uma longa lista de ex-namorados e affairs, entre eles, o ex-boxeador Mike Tyson, o cantor Usher, o empresário italiano Flávio Briatore e o ator Robert de Niro. Recentemente, terminou uma relação de cinco anos com o milionário russo Vladimir Doronin. Mas a verdadeira paixão de Naomi é a liberdade de ser ela mesma, andando soberana, seja em uma passarela em Milão, seja numa praia brasileira.

 

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