Da cor do Cerrado
Pensando nos humores do tempo em Goiás, a estilista Naya Violeta lança uma coleção feita para quem enfrenta frio e calor no mesmo dia
JÚNIOR BUENO
“Eu olho para um tecido e já penso se ele vai virar um vestido, uma saia ou uma calça,” diz a estilista Naya Violeta. Dona do ateliê que leva seu nome, ela acaba de lançar uma coleção que pretende vestir e deixar bonitas as mulheres no meio desse tempo bipolar chamado frio em Goiânia. Porque, aparentemente, o balanço dos ventos de outono está indo e trazendo mais um inverno. Mas, no meio do Brasil tropical, frio é coisa de lua e vem na hora que bem entende. Dá pAra dançar a Dança da Manivela: “aqui tá quente, aqui tá frio, muito quente, muito frio…”.
A coleção é chamada de Corpo Cerrado e foi lançada na semana passada. Segundo Naya, é um jogo de significados. Cerrado, em espanhol, significa “fechado”, “protegido” contra os males. Para vestir e adornar as mulheres, ela pesquisou raízes étnicas e estampas amadeiradas, em peças fluidas em modelagens amplas, dando a liberdade de usá-las soltas ou adorná-las com cintos e faixas. “É uma coleção que é muito representativa do meu trabalho”, diz a estilista. “Ela veio costurando todas as coisas, meu aprimoramento no trabalho e na questão da imagem, que a gente já trabalhava.
A coleção tem um mix de texturas, que vai de malhas de viscose até uma malha de lã mais quente. “O frio de Goiás não comporta um casaco forrado, que teria um custo altíssimo. Ao comprar uma peça dessas, a pessoa compra querendo usar. E uma peça cara dessas é muito pouco usada, pois o nosso frio é muito oscilante”, explica Naya. “A gente tem que lidar com um inverno que é de sol e chuva: um dia amanhece um frio de 18 graus, no outro dia, volta aos 36”.
As peças primam pela versatilidade, já que é comum a variação de temperatura de um dia para o outro ou até no mesmo dia. “Eu tenho casacos mais grossinhos e peças fluidas, de algodão”. E também vestidos que dá para compor outros looks: “Amanheceu frio, dá para botar uma meia calça e uma jaqueta, um cachecol se ficar extra frio”, diz ela.
Naya conta que o trabalho de atendimento personalizado com clientes em seu atelê é o diferencial de sua criação: “Na minha criação, eu tento prestar atenção no público. Por ter uma proximidade, no ateliê, das pessoas para quem eu vendo. O cliente faz parte da co-criação da marca”.
Uma marca registrada da artista é a paixão por estampas, que acaba influenciando seu processo criativo. “Eu tenho um olho sempre seduzido por estampas. Quando começo a pensar em uma coleção, eu saio para a rua. Eu ando muito em Campinas; em todos os lugares eu tento ver tecidos”. Em viagens, ela costuma garimpar também. “No Peru, na Argentina, no Rio, em São Paulo, eu sempre dou uma olhada nisso. E vejo o que pode casar com cada coisa, vou fazendo esse garimpo”.
Uma entusiasta da mistura de estampas no mesmo look, ela dá a dica: “Eu gosto de experimentações. Uma calça listrada com uma blusa de padrão oval, por exemplo. Mesmo que digam que eu não posso misturar listrado com bolinha, eu acho que a gente tem que testar. É testando que descobrimos combinações fora do óbvio”. A coleção tem uma tiragem de 150 peças em diferentes modelos e está à venda no projeto coletivo Casulo e no ateliê Naya Violeta, no Setor Universitário.