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terça-feira, 26 de novembro de 2024
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Religiosidade

Turismo da fé aquece cidades pacatas

Com início da Festa do Divino, Trindade espera movimentar economia com comércio de produtos religiosos

Postado em 24 de junho de 2016 por Sheyla Sousa
Turismo da fé aquece cidades pacatas
Com início da Festa do Divino

Rhudy Crysthian 

O turismo católico ainda é o que mais movimenta pessoas no País. Hoje, 64,6% da população se declara seguidora da religião do Papa, segundo o último Censo. Com a predominância do catolicismo, Goiás tem romarias que movimentam milhões de pessoas. No embalo do turista, o comércio de imagens, terços, água fluidificada, livros, cristais energizados faz girar a economia desses municípios em épocas específicas.

Hoje começa uma das maiores festas religiosas do País. A Festa do Divino Pai Eterno, em Trindade, promete atrair 2,5 milhões de pessoas. A programação oferece 115 missas, 45 novenas, 11 procissões, orações do terço, alvoradas, vigílias, batizados e confissões. O evento acontece há 175 anos e é considerado o maior do mundo dedicado ao Divino Pai Eterno.

A festa é tida como a segunda mais importante para o comércio de produtos religiosos, do Brasil. O grande número de fieis que vai à cidade gera emprego e renda para milhares de pessoas que migram em busca de uma renda melhor. Os dias da festa do Divino Pai Eterno devem movimentar R$ 300 milhões em Trindade este ano, volume 20% superior ao ano passado, conforme estimativa da Associação Turística Fé no Coração do Brasil (Afé). 

A Associação Brasileira de Bares e Restaurante (Abrasel) de Trindade afirma que o movimento leva os comerciantes a mudarem a rotina para atender a demanda. A expectativa é de um consumo médio de R$ 120 por visitante. São diversos produtos expostos nas barracas coloridas de vendedores ambulantes. 

Nas proximidades do Santuário Basílica do Divino Pai Eterno, os ambulantes vendem desde os tradicionais souvenires de artigos religiosos até camisetas de times de futebol, biquínis, panelas, produtos eletrônicos, chinelos entre outros. Tudo vira uma oportunidade de negócios.

A tarefa de encontrar diárias disponíveis nos hotéis e pousadas não é fácil. Cerca de 60% dos hóspedes já fecham reservas com meses de antecedência. “Já estamos com a capacidade praticamente esgotada”, comemora o dono de uma pousada local, Joaquim Soares da Silva. Ele espera dobrar o numero de clientes nos dias da Festa. 

A cidade conta com 380 hotéis, pensões e pousadas. Fora os cartazes e anúncios de barracões e casas para alugar, comuns de serem encontrados. Moradores das ruas com forte apelo comercial também costumam alugar o espaço da garagem para ambulantes montarem lojas ou até servirem de dormitórios.

Vendas 

Ontem, no início da tarde, as bancas de comercialização de produtos já começavam a modificar a paisagem das ruas do centro da cidade. O ambulante de São Paulo, Leandro de Paula Medeiros, vive da comercialização de produtos em eventos religiosos espalhados pelo País. O vendedor comenta que a festa de Trindade é uma das melhores em questão de lucratividade. 

Ele viaja com a esposa e o primo. Os três dormem dentro da barraca para economizar com hospedagem e comem ‘onde der para comer’. Mas a economia nas despesas gera resultado. Ele comenta que nos dias da Festa do Divino consegue comercializar R$ 30 mil em produtos religiosos. 

Há poucos metros dali, o barraqueiro Pedro Ferreira também só trabalha com festas religiosas. Ele emprega outras sete pessoas entre familiares e amigos em três bancas. Sem comentar os valores arrecadados com as vendas Pedro e os colegas de trabalho eram só felicidade aprontando os últimos ajustes para receberem os primeiros clientes. 

A paulista Sônia Maria Nicácio viajou quase 16 horas para participar da Festa do Divino pela quarta vez consecutiva. Na sala de milagres da Basílica com um grupo de outros 49 fieis ela carregava na bagagem muitos motivos para agradecer e dinheiro para gastar. A viagem saiu por R$ 450 com tudo incluso. Em Trindade, esse segmento amparado em produtos e artigos religiosos representa 37% de todas as riquezas. 

Fé que gera riquezas 

Com grande parte do comércio e do setor hoteleiro informais, o segmento de serviços representa 30% do PIB de Palmelo, outro importante destino religioso de Goiás. Em Abadiânia, 42% das riquezas são oriundas do mercado movido pela fé. As cidades de Palmelo e Abadiânia atraem, mensalmente, cerca de 22 mil pessoas. 

Para abarcar o fluxo de turistas, os municípios investiram em estrutura e hoje têm números comparáveis às grandes cidades do estado. Invadida por estrangeiros todas as semanas, Abadiânia, por exemplo, tem, com apenas 16 mil habitantes, 80 pousadas. Para se ter ideia, o Produto Interno Bruto (PIB) de Abadiânia cresceu 773% entre 2000 e 2013.

Espiritismo

O fluxo de pessoas, no entanto, gera, além do bônus do incremento no caixa, um ônus para essas cidades. Em Abadiânia, a prefeitura tem de dar atenção especial à rua em que está localizada a casa espírita Dom Inácio de Loyola, onde João de Deus atende cerca de 5 mil pessoas por semana. Os turistas que lotam pequenas cidades querem conforto para as angústias, uma carta de quem já se foi e, sobretudo, a cura do que já desacreditaram os médicos convencionais. 

Não há cobrança pelos tratamentos. Em Abadiânia, a casa Dom Inácio tem ainda algumas fontes de renda alternativas, que vêm da lanchonete construída dentro do terreno e de uma lojinha que vende desde livros, imagens e travesseiros até um banho de cristal.

Muquém

Em agosto acontece a festa de Nossa Senhora da Abadia de Muquém. O local nessa época é muito visitado por romeiros e chega a ter 150 mil pessoas de Goiás e do Brasil. Quase sempre são pessoas que vão pagar promessas e oferecer prendas pelas graças recebidas. O santuário é um dos maiores do Brasil e a romaria é uma das maiores do mundo. Acontece sempre uma missa no Morro Cruzeiro, onde o romeiro sobe para participar, cumprir alguma promessa e contemplar a beleza panorâmica lá de cima. (Rhudy Crysthian) 

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