Em nome do pai
Baseado em Kafka, espetáculo Pai & Filho chega a Goiânia em projeto com debates e oficina que ensina a levar literatura para os palcos
JÚNIOR BUENO
O escritor checo Franz Kafka foi um dos maiores romancistas do século 20 e, por meio de obras como A Metamorfose e O Processo, se tornou uma das figuras centrais na literatura ocidental. Sua influência é tanta que o termo kafkiano se popularizou como algo complicado, labiríntico e surreal. Porque a obra de Kafka pode ser descrita assim, sombria, cinzenta e discrepante. E é exatamente este clima que a Pequena Companhia de Teatro, de São Luís do Maranhão, traz para Pai & Filho uma adaptação do livro Carta ao Pai, um dos mais célebres de Kafka.
O livro é, na verdade, a publicação póstuma de uma carta que Kafka escreveu para seu pai e que nunca chegou a ser enviada. E a adaptação chega a Goiânia por meio de um projeto de circulação da companhia maranhense. No elenco, Cláudio Marconcine e Jorge Choairy dão vozes a uma velada disputa de poder em que um homem, aprisionado e oprimido pelo poder do pai, procura enfrentá-lo. Porém seu discurso não consegue quebrar a hierarquia familiar, impedindo que um diálogo aberto se estabeleça.
A dramaturgia e a direção são de Marcelo Flecha, e a produção é de Kátia Lopes. Estes são os quatro nomes que compõem a Pequena Companhia de Teatro, daí o nome da trupe. Após cada apresentação, a companhia realiza de imediato uma sessão de debates com a plateia. Prática comum na rotina do grupo, os debates têm funcionado como uma resposta instantânea da reação do público e propiciam uma nova experiência a quem sente necessidade de informações que extrapolam as linhas do palco.
Outra atividade de suma importância no processo de pesquisa e experimentos da companhia é a realização de oficinas em que a metodologia e a forma de pensar o teatro ganham técnicas e aprimoramentos. A oficina que fará parte deste projeto de circulação é Do Épico ao Dramático: a Transposição de Gênero como Instrumento de Confecção de Dramaturgia, ministrada pelo encenador e dramaturgo Marcelo Flecha. Com carga horária de oito horas, é direcionada a alunos dos cursos de Teatro ou Letras; a pessoas que tenham nível técnico ou superior com iniciação para escrita do gênero dramático; a dramaturgos em processo de formação e interessados no exercício de produção literária para teatro. Na oficina, o participante poderá ter acesso ao processo de adaptação ocorrida durante a montagem do espetáculo Pai & Filho – da carta ao texto reproduzido pelos atores em cena.
Segundo a produtora da companhia, Katia Lopes, as oficinas são divididas em dois dias: 12 e 13, (terça e quarta-feira). “No primeiro dia, serão apresentadas aos alunos as formas de se fazer essa transposição, e, no segundo dia, os alunos escrevem a partir do que foi ministrado no dia anterior,” diz Katia. Os dois textos do repertório da companhia saíram desta prática. Além de Pai & Filho, eles costumam encenar a peça Velho Caem do Céu como Canivetes, adaptação do Um Senhor Muito Velho com Umas Asas Enormes, conto de Gabriel García Marquez. “É muito prática e simples esta transposição. Os alunos ficam satisfeitos com o resultado,” ela diz.
Interessados pela produção literária voltado ao teatro podem se inscrever para a oficina pelo telefone (62) 98439-5711 ou na própria bilheteria do Teatro Carlos Moreira. Todas as atividades deste projeto têm entrada franca, e as apresentações do espetáculo terão, ainda, a tradução simultânea em libras. O projeto tem o patrocínio da Petrobras.
SERVIÇO
Oficina ‘Do Épico ao Dramático’
Quando: 12 e 13 de julho
Local: Teatro Carlos Moreira (Rua 8, nº 402, Centro)
Horário: Das 14 às 18h
Inscrições gratuitas (98439-5711 ou na bilheteria)