Sling: acessório humanizado
Método canguru, também chamado de sling, é peça importante para a recuperação de prematuros
Elisama Ximenes
Quando se abre o Facebook de uma mulher que teve filho recentemente, dificilmente não haverá uma foto dela usando o sling com seu bebê. A estudante de Jornalismo Amanda Karly é uma delas. O acessório é um carregador de bebês que não é estruturado, e forma uma espécie de saco ou rede, onde se carrega o filho, próximo ao corpo, nas mais variadas posições. O método também é conhecido pelo nome canguru por remeter à posição natural que ficam os bebês cangurus durante a infância. Para além de um modismo, ou de um facilitador do dia a dia das mães, o método tem uma função essencial para os bebês prematuros.
Os nascimentos antes dos nove meses previstos são responsáveis por quase metade das mortes de recém-nascidos no mundo. Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), 11,7% dos bebês brasileiros nascem antes de completar as 37 semanas de gestação. As crianças que nascem antes do tempo, normalmente, são incapazes de mamar e têm reflexos baixos que devem ser estimulados para a recuperação plena das capacidades vitais. Além disso, esses pequenos necessitam de suporte para adquirir peso e condições de sobrevivência. É nesse fato que se consegue enxergar a contribuição possível do método canguru para a recuperação desses bebês no início da vida fora do útero.
O método consegue garantir uma recuperação mais rápida e eficiente ao reduzir o tempo de internação e a necessidade de intervenção em UTIs. O caso de Amanda é diferente. William não nasceu prematuro: veio ao mundo com 41 semanas. Fato que também influenciou na decisão de utilizar o sling. “Eu decidi, porque é muito prático. Quando ele nasceu, carregá-lo nos braços era muito pesado e doía muito as costas. Então, eu decidi procurar uma forma para carregá-lo. E ainda ajuda muito para fazer as coisa e ter sempre ele por perto”, justifica.
No caso das mães de bebês prematuros, apesar da leveza das crianças, os motivos para o uso do sling vão muito além. O método canguru é considerado uma assistência neonatal humanizada. Portanto estimula o desenvolvimento físico e emocional do bebê, reduz o estresse, a dor e o choro do recém-nascido – tasmbém estabiliza o batimento cardíaco, a oxigenação e temperatura do corpo do recém-nascido. Ao ouvir o som do coração e da voz da mãe, o bebê fica mais calmo e sereno, aumenta o vínculo mãe-filho e favorece o aleitamento materno. “O meu filho não desgruda de mim, ele ficou muito mais apegado, e se acostumou a dormir sempre comigo”, afirma Amanda, com relação ao vínculo parental.
O sling também contribui para a redução do risco de infecção hospitalar, proporciona mais confiança dos pais nos cuidados com o bebê e contribui para a otimização dos leitos de UTI. Juliana Gonçalves Vieira deu à luz o Davi prematuramente no Hospital Materno Infantil (HMI). O nascimento antecipado do filho a pegou de surpresa. “Durante uma viagem que fiz a casa de parentes, senti um forte mal-estar e percebi que poderia ser algo com meu bebê. Passei por um período muito difícil depois que ele nasceu”, disse. Já no caso da dona de casa Sirlene Bento Moura, de 31 anos, a hipertensão arterial foi a causa do parto da pequena Emanuele Vitória antes do previsto. A mãe contou que teve medo de perder a filha.
Médica neonatologista do HMI e coordenadora estadual do método canguru, Maria Bárbara Franco, afirma que o método é a assistência humanizada ao recém-nascido de baixo peso e consiste em estímulo ao empoderamento da família, participando dos cuidados dos bebês mesmo que necessitem de longa permanência de internação hospitalar. “Assim, nós os preparamos para o cuidado em nível domiciliar, que ocorre mais precocemente quando utilizamos o método”, explicou.
“Ele envolve o contato pele a pele no qual o bebê permanece na posição canguru com seus pais e familiares pelo tempo em que ambos acharem prazeroso, e beneficia o ganho de peso, estimulando o aleitamento materno, já que o leite da própria mãe é o melhor alimento para ele”, frisa a especialista. Ela afirma que apoia o método por acreditar ser a melhor estratégia de assistência aos recém-nascidos.
Maria Bárbara lembra ainda que “esse contato direto, além de ser muito confortável à criança, remete à sensação de estar novamente dentro do útero da mãe, pois ele consegue sentir os batimentos cardíacos dela, o seu calor e a movimentação da sua respiração”. Segundo a especialista, isso é importante, porque os prematuros costumam apresentar apneia e, com isso, esquecem de respirar com a frequência necessária.