Cinema e cultura na velha capital
Fica chega à maioridade tendo o Cerrado como tema, debates sobre games e maior premiação da América Latina
Em 1683, Bartolomeu Bueno da Silva, à frente de numerosa bandeira, chegou até o Rio das Mortes, seguindo o roteiro que Manuel Correia traçara em 1647. Ali, atingiu as cabeceiras de um rio que, depois, se chamou Rio Vermelho. Foi nesse local que Bartolomeu usou a artimanha do prato de aguardente com fogo para impressionar os nativos, sendo cognominado Anhanguera – diabo velho. De regresso, além de ouro, trouxe grande número de índios cativos.
Cerca de 40 depois, Bartolomeu Bueno da Silva Filho foi incumbido, pelo governo de São Paulo, de chefiar uma bandeira de 100 homens, com o fim de localizar o lugar onde estivera com seu pai. Tendo encontrado o aldeamento dos índios guaiases (ou goyazes), ou Goiás, e vestígios da roca cultivada pelo Anhanguera, fundou, em 1726, o Arraial da Barra, hoje Buenolândia, e, no ano seguinte, os de Ouro Fino, Ferreiro e Santana, originando-se deste último a atual Cidade de Goiás, que foi sede administrativa da Capitania e do Estado de Goiás, de 1744 ate 1937, quando se deu a transferência oficial da capital estadual para Goiânia.
No fim do século passado, mais precisamente em junho de 1999, houve uma redescoberta da região, mas com um objetivo oposto ao da primeira expedição de bandeirantes. Em vez de explorar as riquezas naturais e saquear aldeias indígenas, agora era a hora de debater a pauta mais urgente dessa passagem de século: a preservação ambiental. Como meio de divulgação da urgência do tema, foi criado o Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica).
De lá para cá, o festival adquiriu solidez e independência, marcando-se como um dos mais importantes acontecimentos do calendário cinematográfico mundial. Desde a primeira edição, o festival tem descrito uma trajetória de crescimento e consolidação. Uma das causas dessa ascensão é o fato de possuir a maior premiação da América Latina no gênero.
O Fica chega à maioridade em 2016. Mais do que nunca, a 18ª edição do festival vem priorizando a questão ambiental, destacada pela temática escolhida para este ano simbólico: Conservação e Produção no Cerrado: Um Consenso Possível e Necessário. A abertura do Fica 2016 foi programada de uma forma especial. O festival começa nesta terça-feira (16), e o Cinemão da Cidade de Goiás abre suas portas para a já tradicional abertura solene. A diferença é que, nessa edição, o público presente também poderá assistir à exibição do documentário Rio de Lama, do diretor, roteirista e artista multimídia Tadeu Jungle.
O festival neste ano é marcado por duas grandes vertentes: o cinema de animação, com mostras, debates e fóruns focados nesse gênero, e um grande debate sobre games e cultura digital. O festival recebe convidados de atuação reconhecida no cinema, como os atores Osmar Prado e Fabio Assunção; o diretor José Eduardo Belmonte; o maior fotógrafo do cinema brasileiro, Lauro Escorel, que vai presidir o júri; o fotógrafo e diretor de arte Adrian Cooper; os representantes da Green Film Network, Mário Branquinho, José Vieira e Eleonora Inusa; e vários outros grandes nomes de peso no cinema mundial.
A Mostra Competitiva teve a premiação reforçada neste ano e vai distribuir R$ 280 mil em prêmios, R$ 40 mil a mais que nas edições anteriores. O público poderá conferir 22 produções com temática ambiental, sendo 12 estrangeiras e dez brasileiras. A participação internacional fica por conta de produções dos países França, Áustria, Alemanha, Bélgica, Índia, Irã e México. Dentre os brasileiros, quatro filmes são goianos. Além de Goiás, participam filmes dos Estados Maranhão, Paraná, Pernambuco, Ceará e São Paulo.
A Cidade de Goiás recebe o projeto Fica na Comunidade que, neste ano, desenvolveu o Se Liga no Fica, com oficinas de produção audiovisual nas escolas públicas da cidade. O resultado das oficinas é um filme curta-metragem que será exibido durante a programação do festival.
E também envolvendo a comunidade escolar, a Seduce Goiás está realizando o primeiro Concurso de Produção de Texto do festival, com o tema: O que fica do Fica? Alunos da rede estadual de educação vão participar do festival e, depois, produzir textos sobre suas impressões e vivências. O prêmio para os dez finalistas vai ser uma viagem ao Rio de Janeiro para conhecer o Museu do Amanhã. A cerimônia de premiação será no próximo dia 30 de setembro no Palácio Conde dos Arcos.
Uma das novidades deste ano é a presença de Daniel Jobim, neto de Tom Jobim, que realiza um concerto especial com suas canções e de seu avô, sobre a natureza. O show será no Palácio Conde dos Arcos. No último dia, além das esperadas premiações do festival, um grande show de encerramento brindará a 18ª edição do evento, com o encontro afetuoso de Elba Ramalho e Geraldo Azevedo, na Praça de Eventos Beira Rio, às 20h. No espetáculo, eles irão se apresentar juntos e, depois, separadamente, prometendo fazer a plateia do festival cantar e dançar com os sucessos que embalam o público de todo o Brasil. Também não vão ficar de fora os clássicos Chão de Giz, Bicho de Sete Cabeças e Dia Branco.