Comércio enfrenta dificuldades com troco
Na falta de cédulas e moedas de baixos valores, comerciantes recorrem a soluções gentis para os clientes
A pergunta “não tem trocado?” tem sido feita com muita frequência pelos comerciantes que trabalham com dinheiro vivo. Isso porque têm faltado moedas e cédulas de baixos valores no mercado, o que chega até a inviabilizar a compra dos clientes. Para não perdê-los, os lojistas têm recorrido a soluções criativas para driblar a falta de troco. É também uma forma de incentivar o consumidor a quebrar o cofrinho e colocar em circulação as tão cobiçadas moedas.
É o que tem feito uma loja de cosméticos de um shopping no Setor Central, em Goiânia. A gerente Aline Rocha Dias, 25 anos, explica: “aqui, se o cliente apresentar R$ 50 em moedas ele leva um brinde, pode ser um xampu, um condicionador, algum item de maquiagem, coisa simbólica mesmo”. Da mesma forma, a padaria Padoca, localizada no Setor Bueno, oferece aos clientes que pagarem até R$ 50 em moedas um café expresso e dois pães de queijo. A gerente Michele Ferreira diz que desde a inauguração do estabelecimento, há dois anos, os caixas enfrentam problemas com troco.
De acordo com Aline, a estratégia tem funcionado bem na loja de cosméticos e amenizando o problema da falta de troco. “Fazemos a troca de valores no banco também, porque os clientes pagam mais com notas grandes e os nossos preços são muito fracionados”, completa. Por outro lado, segundo Michele, a medida não tem dado muitos resultados na padaria. “As pessoas que trazem mais moedas o fazem porque querem e sem saber da promoção”, diz.
A diarista Irene Sobral, 41, já deixou de comprar muita coisa pela falta de troco em diferentes tipos de loja. Ela costuma efetuar as compras no cartão de crédito e débito, além de sacar quantias no caixa, o que pode explicar a ausência de notas menores, já que a maioria dos valores sacados são altos, de R$ 20 e R$ 50.
É claro que o cliente tem o direito de pagar como quiser, mas os comerciantes até tentam sensibilizá-lo quanto ao pagamento em moedas, tentativas em vão. A experiência de Michele com o comércio revela que muitos consumidores optam por notas maiores na hora da compra porque eles próprios necessitam das moedas, “os clientes falam, eles gostam de ter as moedas para guardar no famoso cofrinho, seja no deles, dos filhos ou netos”.
Circulação
O HOJE entrou em contato com a assessoria do Banco Central para entender a falta de troco no mercado. O que ocorre é uma desaceleração na produção de moedas e cédulas desde o ano de 2014, devido a uma redução da despesa pública no âmbito federal. No entanto, o BC informa que tem “envidado esforços para administrar os estoques disponíveis com a finalidade de atender de forma mais igual possível às demandas em âmbito nacional”.
Neste ano, até 08 de agosto, foram disponibilizados para circulação 331 milhões de unidades de novas moedas. Em 2015, o BC disponibilizou 685 milhões de unidades. Atualmente, encontra-se em circulação 24, 16 bilhões de unidades de moedas ou R$ 6,097 bilhões em valor, o que corresponde a 117 moedas por habitante. O Banco Central ainda informou que o custo médio de produção de novas moedas é de R$ 0,25 por unidade.
É por meio dos bancos comerciais que o BC supre cédulas e moedas, no entanto, o Banco Central informa que não é a única fonte de moedas e que os bancos e o comércio também “podem captar depósitos em moedas junto aos seus clientes, que poderão ser disponibilizadas para recirculação”.
Ao contrário do que se imagina, aquela moedinha “que não dá pra nada” esquecida no fundo da gaveta faz falta sim no mercado. Leôncio Pereira Gomes, operador de caixa do Supermercado Marinho, em Aparecida de Goiânia, sabe bem o que é isso. “Todos os dias a gente enfrenta problemas com o troco, as moedas que mais faltam são as de R$ 0,10 e R$ 1,00”, diz. O que resta a seu Leôncio é pedir a compreensão dos clientes e perguntar: “não tem menor?”
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