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sábado, 6 de dezembro de 2025
Cidades

Associação ensina balé para cegos em São Paulo

Além dos passos, as alunas aprendem sobre igualdade e autoestima

Sheyla Sousapor Sheyla Sousa em 22 de setembro de 2016
Associação ensina balé para cegos em São Paulo
Além dos passos

Um riso frouxo de vergonha por conta de um desequilíbrio aqui e outro lá. A coragem de querer girar para concluir um fouett com exatidão e o medo de não sair tudo perfeito. Essas foram algumas das impressões e sentimentos capturados durante aula de balé para deficientes visuais na Associação de Ballet para cegos Fernanda Bianchini. Localizada na Vila Mariana, em São Paulo, a escola é a primeira e única escola de balé para cegos no mundo. 
Comandada pela bailarina Fernanda Bianchini, a associação não é apenas sobre dança. É um espaço de igualdade, de coragem, Em 1998, aos 15 anos, Fernanda recebeu o convite para dar aulas no Instituto de Cegos Padre Chico. As palavras de incentivo do pai foram o que a motivou a aceitar o convite: “Filha, nunca diga não para um desafio, pois são sempre destes que partem os maiores ensinamentos das nossas vidas”.
Apesar de não saber como ensiná-las e, até então, nunca ter contato com deficientes visuais, desenvolveu um método próprio baseado no toque e na percepção corporal. Os cegos costumam olhar para o chão e o balé exige uma postura que mire o horizonte. Assim, a professora diz às alunas que elas devem olhar para as estrelas, mesmo que não as enxerguem. E assim, elas alcançam todo aquele brilho.
Dar aulas tão jovem e para um público bem específico certamente trouxe muita responsabilidade e uma super maturidade que Fernanda carrega até hoje. “Meu maior aprendizado foi a enxergar o mundo com os olhos do coração. Com certeza a partir disso eu aprendi a enxergar um mundo mais bonito, com mais significado e mais inclusivo”. Mas, para ela, a inclusão só acontecerá verdadeiramente quando um se colocar no lugar do outro, que é uma das premissas da entidade, fundada em 2003.
Com o preconceito e um monte de obstáculos pelo caminho, o local acaba sendo muito mais do que um lugar para se aprender balé. “Às vezes as crianças chegam aqui com muitos problemas de vida mesmo, problemas sociais. Acredito que a gente tem que ensinar o balé e também a dança da vida, sabe? É um acolhimento além”. As mães também são acolhidas como gostariam de ser, assim como os filhos e filhas, porque a sociedade não recebe uma pessoa com deficiência desta mesma forma.
A dança envolve tanta coisa boa. Postura, equilíbrio, noção de espaço, sociabilização, autoconfiança, autoestima são só alguns dos benefícios. Ali se forma uma grande família que só soma, nunca subtrai. A música clássica embala as bailarinas de baixa ou nenhuma visão ao redor do salão que, sem elas, pouca luz tem.
As aulas para as mais de 200 pessoas são gratuitas e misturadas, incluindo alunos com e sem deficiência que aprendem juntos. O que as separa são apenas o nível da dança, evoluindo de acordo com a idade. Além do balé clássico também há exercícios de pilates, fisioterapia e cursos de teatro, sapateado, dança do ventre, dança de salão e danças para a terceira idade.

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